I
No meio das tabas de amenos verdores,
Cercadas de troncos - cobertos de flôres
Alteiam-se os tetos d'altiva nação;
São muitos seus filhos, nos ânimos fortes,
Terríveis na guerra, que em densas coortes
Assombram das matas a imensa extensão.
São urdos, severos, sedentos de glória,
Já prélios incitam, Já cantam vitória,
Já meigos atendem à voz do cantor:
São todos Timbiras, guerreiros valentes!
Seu nome lá voa na bôca das gentes,
Condão de prodígios de glória e terror!
As tribos vizinhas, sem fôrças, sem brio,
As armas quebrando, lançando-as ao rio,
O incenso aspiraram dos seus maracás:
Medrosos das guerras que os fortes acendem,
Custosos tributos ignavos lá rendem,
Aos duros guerreiros sujeitos na paz.
No centro da taba se estende um terreiro,
Onde ora se aduna o concílio guerreiro
Da tribo senhora, das tribos servis:
Os velhos sentados praticam d'outrora,
E os moços inquietos, que a festa enamora,
Derramam-se em tôrno dum índio infeliz.
Quem é? - ninguém sabe: seu nome é ignoto,
Sua tribo não diz: - de um povo remoto
Descende por certo - dum povo gentil;
Assim lá na Grécia ao ecravo insulano
Tornavam distinto do vil muçulmano
As linhas corretas do nobre perfil.
Por casos de guerra caiu prisioneiro
Nas mão dos Timbiras: - no extenso terreiro
Assola-se o teto, que teve em prisão;
Convidam-se as tribos dos seus arredores,
Cuidosos se incumbem do vaso das côres,
Dos vários aprestos de honrosa função.
Acerva-se a lenha da vasta fogueira
Entesa-se a corda da embira ligeira,
Adorna-se a maça com penas gentis:
A custo, entre as vagas do povo da aldeia
Caminha o Timbira, que a turba rodeia,
Garboso nas plumas de vário matiz.
Em tanto as mulheres com lêda trigança,
Afeitas ao rito da bárbara usança,
O índio já querem cativo acabar:
A coma lhe cortam, os membros lhe tingem,
Brilhante enduape no corpo lhe cingem,
Sombreia-lhe a fronte gentil canitar.
II
Em fundos vasos d'alvacenta argila ferve o cauim;
Enchem-se as copas, o prazer começa, reina o festim.
O prisioneiro, cuja morte anseiam, sentado está,
O prisioneiro, que outro sol no ocaso jamais verá!
A dura corda, que lhe enlaça o colo, mostra-lhe o fim
Da vida escura, que será mais breve do que o festim!
Contudo os olhos d'ignóbil pranto secos estão;
Mudos os lábios não desceram queixas do coração.
Mas um martírio, que encobrir não pode, em rugas faz
A mentirosa placidez do rosto na fronte audaz!
Que tens, guerreiro? Que temor te assalta no passo horrendo?
Honra das tabas que nascer te viram, folga morrendo.
Folga morrendo; porque além dos Andes revive o forte,
Que soube ufano contrastar os mêdos da fria morte.
Rasteira grama, exposta ao sol, a chuva, lá murcha e pende:
Somente ao tronco, que devassa os ares, o raio ofende!
Que foi? Tupã mandou que êle caísse, como viveu;
E o caçador que o avistou prostrado esmoreceu!
Que temes, ó guerreiro? Além dos Andes revive o forte,
Que soube fano contrastar os mêdos da fria morte.
III
Em larga roda de novéis guerreiros
Ledo caminha o festival Timbira.
A quem do sacrifício cabe as honras.
Na fronte o canitar sacode em ondas,
O enduape na cinta se embalança,
Na destra mão sopesa a iverapeme,
Orgulhoso e pujante. - Ao menor passo
Colar d'alvo marfim, insígnia d'honra,
Que lhe orna o colo e o peito, ruge e freme,
Como que por feitiço não sabido
Encantadas ali as almas grandes
Dos vencidos Tapuias, inda chorem
Serem glória e brasão d'imigos feros.
"Eis-me aqui", diz ao índio prisioneiro;
"Pois que fraco, e sem tribo, e sem família,
"As nossas matas devassaste ousado,
"Morrerás morte vil da mão de um forte."
Vem a terreiro o mísero contrário;
Do colo à cinta a muçurana desce:
"Diz-nos quem és, teus feitos canta,
"Ou se mais te apraz, defende-te". Começa
O índio que ao redor derrama os olhos,
Com triste voz que os ânimos comove.
IV
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi:
Sou filho das selvas,
Nas selvas cresci;
Guerreiros, descendo
Da tribo Tupi.
Da tribo pujante,
Que agora anda errante
Por fado inconstante,
Guerreiros, nasci;
Sou bravo, sou forte,
Sou filho do Norte;
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi.
Já vi cruas brigas,
De tribos imigas,
E as duras fadigas
Da guerra provei:
Nas ondas mendaces
Senti pelas faces
Os silvos fugaces
Dos ventos que amei.
Andei longas terras
Lidei cruas guerras,
Vaguei pelas serras
Dos vis Aimorés;
Vi lutas de bravos,
Vi fortes - escravos!
De estranhos ignavos
Calcados aos pés.
E os campos talados,
E os arcos quebrados,
E os piagas coitados
Já sem maracás;
E os meigos cantores,
Servindo a senhores,
Que vinham traidores,
Com mostras de paz.
Aos golpes do imigo
Meu último amigo,
Sem lar, sem abigo
Caiu junto a mi!
Com plácido rosto,
Sereno e composto,
O acerbo desgôsto
Comigo sofri.
Meu pai a meu lado
Já cego e quebrado,
De penas ralado,
Firmava-se em mi:
Nós ambos, mesquinhos,
Por ínios caminhos,
Cobertos d'espinhos
Chegamos aqui!
O velho no entanto
Sofrendo já tanto
De fome e quebranto
Só qu'ria morrer!
Não mais me contenho,
Nas matas me embrenho
Das frechas que tenho
Me quero valer.
Então, forasteiro,
Caí prisioneiro
De um trôço guerreiro
Com que me encontrei:
O cru dessossêgo
Do pai fraco e cego,
Qual seja, - dizei!
Eu era o seu guia
Na noite sombria,
A só alegria
Que Deus lhe deixou:
Em mim se apoiava,
Em mim se firmava,
Em mim descansava,
Que filho lhe sou.
Ao velho coitado
De penas ralado,
Já cego e quebrado,
Que resta? - Morrer.
Enquanto descreve
O giro tão breve
Da vida que teve,
Deixai-me viver!
Não vil, não ignavo,
Mas forte, mas bravo,
Serei vosso escravo:
Aqui virei ter.
Guerreiros, não coro
Do pranto que choro;
Se a vida deploro,
Também sei morrer.
V
Soltai-o! - diz o chefe. Pasma a turba;
Os guerreiros murmuram: mal ouviram,
Nem pôde nunca um chefe dar tal òrdem!
Brada segunda vez com voz mais alta,
Afrouxam-se as prisões, a embira cede,
A custo, sim; mas cede: o estranho é salvo.
- Timbira, diz o índio enternecido,
Sôlto apenas dos nós que o seguravam:
És um guerreiro ilustre, um grande chefe,
Tu que assim do meu mal te comoveste,
Nem sofres que, transposta a natureza,
Com olhos onde a luz já não cintila,
Chore a morte do filho o pai cansado,
Que sómente por seu na voz conhece.
- És livre, parte. - E voltarei. - Debalde.
- Sim, voltarei, morto meu pai. - Não voltes!
É bem feliz, se existe, em que não veja,
Que filho tem, qual chora: és livre; parte!
- Acaso tu supões que me acobardo,
Que receio morrer! - És livre; parte!
- Ora não partirei; quero provar-te
Que um filho dos Tupis vive com honra,
E com honra maior, se acaso o vencem,
Da morte o passo glorioso afronta.
- Mentiste, que um Tupi não chora nunca,
E tu choraste!... parte; não queremos
Com carne vil enfraquecer os fortes.
Sobresteve o Tupi: - arfando em ondas
O rebater do coração se ouvia
Precípite. - Do rosto afogueado
Gélidas bagas de suor corriam:
Talvez que o assaltava um pensamento...
Já não... que na enlutada fantasia,
Um pesar, um martírio ao mesmo tempo,
Do velho pai a moribunda imagem
Quase bradar-lhe ouvia: - Ingrato ingrato!
Curvado o colo, taciturno e frio.
Espectro d'homem, penetrou no bosque!
Literatura e política. COLABORE, PIX: (31)988624141
sexta-feira, 30 de setembro de 2011
Gonçalves Dias, I Juca Pirama; BH, 0300902011.
VI
- Filho meu, onde estás? - Ao vosso lado;
Aqui trago provisões; tomai-as,
As vossas fôrças restaurai perdidas,
E a caminho, e já! - Tardaste muito!
Não era nado o sol, quando partiste,
E frouxo o seu calor já sinto agora!
- Sim demorei-me a divagar sem rumo,
Perdi-me nestas matas intrincadas,
Reaviei-me e tornei; mas urge o tempo;
Convém partir, e já! - Que novos males
Nos resta de sofrer? - que novas dores,
Que outro fado pior Tupã nos guarda?
- As setas da aflição já se esgotaram,
Nem para nòvo golpe espaço intacto
Em nossos corpos resta. - Mas tu tremes!
- Talvez do afã da caça... - Oh filho caro!
Um quê misterioso aqui me fala,
Aqui no coração; piedosa fraude
Será por certo, que não mentes nunca!
Não conheces temor, e agora temes?
Vejo e sei: é Tupã que nos aflige,
E contra o seu querer não valem brios.
Partamos!... - E com mão trêmula, incerta
Procura o filho, tacteando as trevas
De sua noite lúgubre e medonha.
Sentindo o acre odor das frescas tintas,
Uma idéia fatal correu-lhe à mente...
Do filho os membros gélidos apalpa,
E a dolorosa maciez das plumas
Conhece estremecendo: - foge, volta,
Encontra sob as mãos o duro crânio,
Despido então do natural ornato...
Recua aflito e pávido, cobrindo
Às mãos ambas os olhos fulminados,
Como que teme ainda o triste velho
De ver, não mais cruel, porém mais clara,
Daquele exício grande a imagem viva
Ante os olhos do corpo afigurada.
Não era que a verdade conhecesse
Inteira e tão cruel qual tinha sido;
Mas que funesto azar ocorrera o filho,
Êle o via; êle o tinha ali presente;
E era de repetir-se a cada instante.
A dor passada, a previsão futura
E o presente tão negro, ali os tinha;
Ali no coração se concentrava,
Era num ponto só, mas era a morte!
- Tu prisioneiro, tu? - Vós o dissestes.
- Dos índios? - Sim, - De que nação? - Timbiras.
- E a muçurana funeral rompeste,
Dos falsos manitôs quebraste a maça...
- Nada fiz... aqui estou. - Nada! - Emudecem;
Curto instante depois prossegue o velho:
- Tu és valente, bem o sei; confessa,
Fizeste-o, certo, ou já não fôras vivo!
- Nada fiz; mas souberam da existência
De um pobre velho, que em mim só vivia...
- E depois?... - Eis-me aqui. - Fica essa taba?
- Na direção do sol, quando transmonta.
- Longe? - Não muito. - tens razão: partamos.
- E quereis ir?... - Na direção do ocaso.
VII
"Por amor de um triste velho,
Que ao têrmo fatal já chega,
Vós, guerreiros, concedestes
A vida a um prisioneiro.
Ação tão nobre vos honra,
Nem tão alta cortesia
Vi eu jamais praticada
Entre os Tupis, - e mas foram
Senhores em gentileza.
"Eu porém nunca vencido,
Nem nos combates por armas,
Nem por nobreza nos atos;
Aqui venho, e o filho trago.
Vós o dizeis prisioneiro,
Seja assim como dizeis;
Mandai vir a lenha, o fogo,
A maça do sacrifício
E a muçurana ligeira:
Em tudo o rito se cumpra!
E quando eu for só na terra,
Certo acharei entre os vossos,
Que tão gentis se revelam,
Alguém que meus passos guie;
Alguém, que vendo o meu peito
Coberto de cicatrizes,
Tomando a vez do meu filho,
De haver-me por pai se ufane!"
Mas o chefe dos Timbiras,
Os sobrolhos encrespando,
Ao velho Tupi guerreiro
Responde com tôrvo acento:
- Nada farei do que dizes:
É teu filho imbele e fraco!
Aviltaria o triunfo
Da mais guerreira das tribos
Derramar seu ignóbil sangue:
Êle chorou de cobarde;
Nós outros, fortes Timbiras,
Só de heróis fazemos pasto. -
Do velho Tupi guerreiro
A surda voz na garganta
Faz ouvir uns sons confusos,
Como os rugidos de um tigre,
Que pouco a pouco se assanha!
VIII
"Tu choraste na presença da morte?
Na presença de estranhos choraste?
Não descende o cobarde do forte;
Pois choraste, meu filho não és!
Possas tu, descendente maldito
De uma tribo de nobres guerreiros,
Implorando cruéis forasteiros,
Sêres prêsa de vis Aimorés.
"Possas tu, isolado na terra,
Sem arrimo e sem pátria vagando,
Rejeitado da morte na guerra,
Ser das gentes o espectro execrado;
Não encontre amor nas mulheres,
Teus amigos, se amigos tiveres,
Tenham alma inconstante e falaz!
"Não encontres doçura no dia,
Nem as côres da aurora te ameiguem,
E entre as larvas da noite sombria
Nunca possas descanso gozar:
Não encontres um tronco, uma pedra,
Posta ao sol, posta às chuvas e aos ventos,
Padecendo os maiores tormentos,
Onde possas a fronte pousar.
"Que a teus passos a relva se torre;
Murchem prados, a flor desfaleça,
E o regato que límpido corre,
Mais te acenda o vosso furor;
Suas águas depressa se tornem,
Ao contato dos lábios sedentos,
Lago impuro de vermes nojentos,
Donde fujas com asco e terror!
"Sempre o céu, como um teto incendido,
Creste e punja teus membros malditos
E oceano de pó denegrido
Seja a terra ao ignavo tupi!
Miserável, faminto, sedento,
Manitôs lhe não falem nos sonhos,
E do horror os espectros medonhos
Traga sempre o cobarde após si.
"Um amigo não tenhas piedoso
Que o teu corpo na terra embalsame,
Pondo em vaso d'argila cuidoso
Arco e frecha e tacape a teus pés!
Sê maldito e sòzinho na terra;
Pois que a tanta vileza chegaste,
Que em presença da morte choraste,
Tu, cobarde, meu filho não és."
IX
Isto dizendo, o miserando velho,
A quem Tupã tamanha dor, tal fado
Já nos confins da vida reservara,
Vai com trêmulo pé, com as mãos já frias
Da sua noite escura as densas trevas
Palpando. - Alarma! alarma! - O velho pára!
O grito que escutou é voz do filho,
Voz de guerra que ouviu já tantas vêzes
Noutra quadra melhor. - Alarma! alarma!
- Êsse momento só vale a pagar-lhe
Os tão compridos trances, as angústias,
Que o frio coração lhe atormentaram.
De guerreiro e de pai: - vale, e de sobra.
Êle que em tanta dor se contivera,
Tomado pelo súbito contraste,
Desfaz-se agora em pranto copioso,
Que o exaurido coração remoça.
A taba se alborota, os golpes descem,
Gritos, imprecações profundas soam,
Emaranhada a multidão braveja,
Revolve-se, enovela-se confusa,
E mais revôlta em mor furor se acende.
E os sons dos golpes que incessantes fervem,
Vozes, gemidos, estertor de morte
Vão longe pelas êrmas serranias
Da humana tempestade propagando
Quantas vagas do povo enfurecido
Contra um rochedo vivo se quebravam.
Era êle, o Tupi, nem fôra justo
Que a fama dos Tupis - o nome, a glória,
Aturado labor de tantos anos,
Derradeiro brasão da raça extinta,
De um jacto e por um só se aniquilasse.
- Basta! clama o chefe dos Timbiras,
- Basta, guerreiro ilustre! assaz lutaste,
E para o sacrifício é mister fôrças. -
O guerreiro parou, caiu nos braços
Do velho pai, que o cinge contra o peito,
Com lágrimas de júbilo bradando:
"Este, sim, que é meu filho muito amado!
"E pois que o acho enfim, qual sempre o tive,
"Corram livres as lágrimas que choro,
"Estas lágrimas, sim, que não desonram."
X
Um velho Timbira, coberto de glória,
Guardou a memória
Do môço guerreiro, do velho Tupi!
E à noite, nas tabas, se alguém duvidava
Do que êle contava,
Dizia prudente: - "Meninos, eu vi!
!Eu vi o brioso no largo terreiro
Cantar prisioneiro
Seu canto de morte, que nunca esqueci:
Valente, como era, chorou sem ter pejo;
Parece que o vejo,
Que o tenho nest'hora diante de mi:
"Eu disse comigo: que infâmia d'escravo!
Pois não, era um bravo;
Valente e brioso, como êle, não vi!
E à fé que vos digo: parece-me encanto
Que quem chorou tanto,
Tivesse a coragem que tinha o Tupi!"
Assim o Timbira, coberto de glória,
Guardava a memória
Do môço guerreiro, do velho Tupi,
E à noite nas tabas, se alguém duvidava
Do que êle contava,
Tornava prudente: "Meninos, eu vi!"
- Filho meu, onde estás? - Ao vosso lado;
Aqui trago provisões; tomai-as,
As vossas fôrças restaurai perdidas,
E a caminho, e já! - Tardaste muito!
Não era nado o sol, quando partiste,
E frouxo o seu calor já sinto agora!
- Sim demorei-me a divagar sem rumo,
Perdi-me nestas matas intrincadas,
Reaviei-me e tornei; mas urge o tempo;
Convém partir, e já! - Que novos males
Nos resta de sofrer? - que novas dores,
Que outro fado pior Tupã nos guarda?
- As setas da aflição já se esgotaram,
Nem para nòvo golpe espaço intacto
Em nossos corpos resta. - Mas tu tremes!
- Talvez do afã da caça... - Oh filho caro!
Um quê misterioso aqui me fala,
Aqui no coração; piedosa fraude
Será por certo, que não mentes nunca!
Não conheces temor, e agora temes?
Vejo e sei: é Tupã que nos aflige,
E contra o seu querer não valem brios.
Partamos!... - E com mão trêmula, incerta
Procura o filho, tacteando as trevas
De sua noite lúgubre e medonha.
Sentindo o acre odor das frescas tintas,
Uma idéia fatal correu-lhe à mente...
Do filho os membros gélidos apalpa,
E a dolorosa maciez das plumas
Conhece estremecendo: - foge, volta,
Encontra sob as mãos o duro crânio,
Despido então do natural ornato...
Recua aflito e pávido, cobrindo
Às mãos ambas os olhos fulminados,
Como que teme ainda o triste velho
De ver, não mais cruel, porém mais clara,
Daquele exício grande a imagem viva
Ante os olhos do corpo afigurada.
Não era que a verdade conhecesse
Inteira e tão cruel qual tinha sido;
Mas que funesto azar ocorrera o filho,
Êle o via; êle o tinha ali presente;
E era de repetir-se a cada instante.
A dor passada, a previsão futura
E o presente tão negro, ali os tinha;
Ali no coração se concentrava,
Era num ponto só, mas era a morte!
- Tu prisioneiro, tu? - Vós o dissestes.
- Dos índios? - Sim, - De que nação? - Timbiras.
- E a muçurana funeral rompeste,
Dos falsos manitôs quebraste a maça...
- Nada fiz... aqui estou. - Nada! - Emudecem;
Curto instante depois prossegue o velho:
- Tu és valente, bem o sei; confessa,
Fizeste-o, certo, ou já não fôras vivo!
- Nada fiz; mas souberam da existência
De um pobre velho, que em mim só vivia...
- E depois?... - Eis-me aqui. - Fica essa taba?
- Na direção do sol, quando transmonta.
- Longe? - Não muito. - tens razão: partamos.
- E quereis ir?... - Na direção do ocaso.
VII
"Por amor de um triste velho,
Que ao têrmo fatal já chega,
Vós, guerreiros, concedestes
A vida a um prisioneiro.
Ação tão nobre vos honra,
Nem tão alta cortesia
Vi eu jamais praticada
Entre os Tupis, - e mas foram
Senhores em gentileza.
"Eu porém nunca vencido,
Nem nos combates por armas,
Nem por nobreza nos atos;
Aqui venho, e o filho trago.
Vós o dizeis prisioneiro,
Seja assim como dizeis;
Mandai vir a lenha, o fogo,
A maça do sacrifício
E a muçurana ligeira:
Em tudo o rito se cumpra!
E quando eu for só na terra,
Certo acharei entre os vossos,
Que tão gentis se revelam,
Alguém que meus passos guie;
Alguém, que vendo o meu peito
Coberto de cicatrizes,
Tomando a vez do meu filho,
De haver-me por pai se ufane!"
Mas o chefe dos Timbiras,
Os sobrolhos encrespando,
Ao velho Tupi guerreiro
Responde com tôrvo acento:
- Nada farei do que dizes:
É teu filho imbele e fraco!
Aviltaria o triunfo
Da mais guerreira das tribos
Derramar seu ignóbil sangue:
Êle chorou de cobarde;
Nós outros, fortes Timbiras,
Só de heróis fazemos pasto. -
Do velho Tupi guerreiro
A surda voz na garganta
Faz ouvir uns sons confusos,
Como os rugidos de um tigre,
Que pouco a pouco se assanha!
VIII
"Tu choraste na presença da morte?
Na presença de estranhos choraste?
Não descende o cobarde do forte;
Pois choraste, meu filho não és!
Possas tu, descendente maldito
De uma tribo de nobres guerreiros,
Implorando cruéis forasteiros,
Sêres prêsa de vis Aimorés.
"Possas tu, isolado na terra,
Sem arrimo e sem pátria vagando,
Rejeitado da morte na guerra,
Ser das gentes o espectro execrado;
Não encontre amor nas mulheres,
Teus amigos, se amigos tiveres,
Tenham alma inconstante e falaz!
"Não encontres doçura no dia,
Nem as côres da aurora te ameiguem,
E entre as larvas da noite sombria
Nunca possas descanso gozar:
Não encontres um tronco, uma pedra,
Posta ao sol, posta às chuvas e aos ventos,
Padecendo os maiores tormentos,
Onde possas a fronte pousar.
"Que a teus passos a relva se torre;
Murchem prados, a flor desfaleça,
E o regato que límpido corre,
Mais te acenda o vosso furor;
Suas águas depressa se tornem,
Ao contato dos lábios sedentos,
Lago impuro de vermes nojentos,
Donde fujas com asco e terror!
"Sempre o céu, como um teto incendido,
Creste e punja teus membros malditos
E oceano de pó denegrido
Seja a terra ao ignavo tupi!
Miserável, faminto, sedento,
Manitôs lhe não falem nos sonhos,
E do horror os espectros medonhos
Traga sempre o cobarde após si.
"Um amigo não tenhas piedoso
Que o teu corpo na terra embalsame,
Pondo em vaso d'argila cuidoso
Arco e frecha e tacape a teus pés!
Sê maldito e sòzinho na terra;
Pois que a tanta vileza chegaste,
Que em presença da morte choraste,
Tu, cobarde, meu filho não és."
IX
Isto dizendo, o miserando velho,
A quem Tupã tamanha dor, tal fado
Já nos confins da vida reservara,
Vai com trêmulo pé, com as mãos já frias
Da sua noite escura as densas trevas
Palpando. - Alarma! alarma! - O velho pára!
O grito que escutou é voz do filho,
Voz de guerra que ouviu já tantas vêzes
Noutra quadra melhor. - Alarma! alarma!
- Êsse momento só vale a pagar-lhe
Os tão compridos trances, as angústias,
Que o frio coração lhe atormentaram.
De guerreiro e de pai: - vale, e de sobra.
Êle que em tanta dor se contivera,
Tomado pelo súbito contraste,
Desfaz-se agora em pranto copioso,
Que o exaurido coração remoça.
A taba se alborota, os golpes descem,
Gritos, imprecações profundas soam,
Emaranhada a multidão braveja,
Revolve-se, enovela-se confusa,
E mais revôlta em mor furor se acende.
E os sons dos golpes que incessantes fervem,
Vozes, gemidos, estertor de morte
Vão longe pelas êrmas serranias
Da humana tempestade propagando
Quantas vagas do povo enfurecido
Contra um rochedo vivo se quebravam.
Era êle, o Tupi, nem fôra justo
Que a fama dos Tupis - o nome, a glória,
Aturado labor de tantos anos,
Derradeiro brasão da raça extinta,
De um jacto e por um só se aniquilasse.
- Basta! clama o chefe dos Timbiras,
- Basta, guerreiro ilustre! assaz lutaste,
E para o sacrifício é mister fôrças. -
O guerreiro parou, caiu nos braços
Do velho pai, que o cinge contra o peito,
Com lágrimas de júbilo bradando:
"Este, sim, que é meu filho muito amado!
"E pois que o acho enfim, qual sempre o tive,
"Corram livres as lágrimas que choro,
"Estas lágrimas, sim, que não desonram."
X
Um velho Timbira, coberto de glória,
Guardou a memória
Do môço guerreiro, do velho Tupi!
E à noite, nas tabas, se alguém duvidava
Do que êle contava,
Dizia prudente: - "Meninos, eu vi!
!Eu vi o brioso no largo terreiro
Cantar prisioneiro
Seu canto de morte, que nunca esqueci:
Valente, como era, chorou sem ter pejo;
Parece que o vejo,
Que o tenho nest'hora diante de mi:
"Eu disse comigo: que infâmia d'escravo!
Pois não, era um bravo;
Valente e brioso, como êle, não vi!
E à fé que vos digo: parece-me encanto
Que quem chorou tanto,
Tivesse a coragem que tinha o Tupi!"
Assim o Timbira, coberto de glória,
Guardava a memória
Do môço guerreiro, do velho Tupi,
E à noite nas tabas, se alguém duvidava
Do que êle contava,
Tornava prudente: "Meninos, eu vi!"
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
Mostras-me tuas mãos; RJ, 020701981; Publicado: BH, 0290902011.
Mostras-me tuas mãos
Teus pés tuas pernas
Mostras-me teu corpo
Teu rosto teu dorso
Mostras-me tuas costas
Tua bunda teu umbigo
Mostras-me tu tudo toda
Teu corpo todo
Teus olhos cabelos
Teus pelos e manchas
Pintas danças toda nua
Na minha frente
Mostras-me teus pentes
Tuas lentes
Teus dentes
Seguras sintas
Vês se é bom
Mostras-me teu sexo
Teu amor teu calor
Sugas-me me arranhas
Abraças-me me apertas
Mostras-me tua manha
Tua gana tua tara
Mostras-me tua liberdade
Tua liberalidade
Sua libertina
Mostras-me tua safadeza
Sua sacana
De corpo de alma
De físico de espírito
Sentimento pensamento
Mostras-me teu talento
Tua arte tua glória
Mostras-me o teu charme
Tua beleza tua feiura
Tua danura tua pressa
Mostras-me tuas vestes
Teus cheiros teus odores
Mostras-me tudo por favor
Não tenho as sementes; BH, 01º0502000; Publicado: BH, 0290902011.
Não tenho as sementes
Revestidas do pericarpo distinto
Não sou angiospermo me
Anglicizar é perda total de tempo
Anglizar num comportamento
É me violentar não quero me
Submeter à influência inglesa é
De encher o saco os anglicismos
Dessa linguagem não tenho inveja
Do que é ânglico inglês ou anglo
Nada vai me anglizar dar-me
Feição inglesa me tornar inglês
Que me perdoeis Shakespeare
Henry Fielding Bertrand Russel D H
Lawrence mas não sinto anglofilia não
Sinto amor a tudo que seja vossos
Não sou anglófilo nem amigo
A vossos costumes penso que até
Sofro de anglofobia ódio à Inglaterra
Penso que sou anglófobo sou
Favorável à independência da Irlanda
Não quero passar por imitação
Exagerada nem ter paixão desenfreada
Como na anglomania da maioria
Não sou anglomaníaco nem o
Anglo-normando que se fundiu
Com saxão nem anglo-saxão
Sai de mim anglo-saxônico
A história mostrou muito bem
A Inglaterra na Índia África
Brasil em Minas Gerais
Noutros países mais a bem da
Verdade estou mais para angolense
D'Angola natural habitante angolano
Sou mais é uma angolinha uma
Galinha d'angola uma planta forraginosa
quarta-feira, 28 de setembro de 2011
Quando me abandonaste; BH, 01º0502000; Publicado: BH, 0280902011.
Quando me abandonaste
Aumentou em muito minha
Angialgia senti tamanha dor
Num trajeto dum vaso sanguíneo
Que nem angevino do Anju de
França foi capaz de diminuir a dor
Era tanto o êxtase no meu estado
Angialgico que me perdi num
Angical simples dum bosque de
Angico que com tanta aflição
Quase me matou a angiectasia
Denominação genérica das
Dilatações patológicas dos
Vasos sanguíneos então
Voltas enquanto é tempo
Acabas com meu quadro
Angiectásico voltas enquanto
É tempo regularizas a situação
Angiectática não suporto mais a
Angiectopia anomalia do meu vaso
Sanguíneo sou todo uma angite só
Venhas me curar não consigo respirar
Estou asfixiante anginoso foi assim
Que me deixaste assim queres me
Matar queres secar meu angio, do
Grego aggeion meu complexo
Linfático como num câncer terminal
Com todo o conhecimento angiográfico
Com todo o mapa angiológico
Adquirir um angioma maligno
Tumor formado pela proliferação
Linfática uma angiopatia fatal que
Causa angiosclerose angiopática ao
Passar pela angiose duma
Arteriosclerose pela denominação
Genérica das doenças que têm
A sua sede no sistema vascular é
Acabar por morrer antes da tua volta
Ou antes de terminar meu depoimento
Meu sangue; RJ/SD; Publicado,: BH, 0280902011.
Meu sangue
Já escorreu todo
Das minhas veias
Já perdi a fé
A coragem
A esperança
Meu coração
Já parou
Não tenho mais nada
Nem vida
Nem paz
Nem amor
Meu sangue coagulou
No cimento da calçada
Nem a mosca pousou
Meu cadáver evaporou
Desapareci
Na poeira da noite
Sem luar
Sem estrelas
Sem mim
Segui sozinho
Sem vela
Sem caminho
Preciso urgentemente dum instrumento; BH, 01º0502000; Publicado: BH, 0280902011.
Preciso urgentemente dum instrumento
Para medir os meus ângulos pode ser um
Angulário de caráter de qualidade com
Angularidade que conheça que identifique
Os meus ângulos que são menores do que
Angström que medem menos que a unidade
De comprimento equivalente a um
Décimo-milésimo do micro ou seja 10-7mm
Com homenagem a A. J. Angström 1814-
1874 físico sueco o meu rasto é de angüi
Elemento latino de composição vocabular
Designa cobra o meu sangue é angüicida
Tem a propriedade de matar cobras minha
Alma é angüiforme tem a forma de enguia
Espécime dos anguiliformes família de
Peixes malacopterígios a que serve de
Tipo a enguia que tem pés de dragão pés
Tortuosos e anguípedes que se alimentam
De angüiste comida semelhante ao angu
Ao angulado anguifero que cria ou tem
Cobras meu espírito é angüicomado
Minha mente anguícoma sou coroado de
Serpentes por fora uma medusa angelicó
Trepadeira da família das Aristolóquiaceas
Um angelim-amoroso árvore da família das
Leguminosas um angelino um ser angélico por
Dentro nem Deus sabe a verdadeira composição
Perdi a angelização quando caí do céu; BH, 01º0502000; Publicado: BH, 0280902011.
Perdi a angelização quando caí do céu
Não tenho mais modo de me angelizar
Voltar a me tornar-me um angelo ou um
Ente de composição de formação ou de
Vocabular de origem grega ou doutra
Com ideia de anjo na angeolatria perdi
A oportunidade de ser um angeolatra
Uma pessoa que adora culto aos anjos
Na angeologia tratado acerca na crença
Da intervenção dos anjos na vida de
Angeolátrico angeológico agora nada
Quem me dera um dia nessa angelônia
Que é nome de diversas plantas medicinais
Sobressair o meu pelo menos nos
Ornamentais da família das Escrofulariáceas
Então aproveito este raro momento
Dum lapso angelical para dar nota zero
Ao doutor Jorge Amado Santos Medina
Um irmão meu médico vereador a quem
Entreguei um manifesto oriundo duma
Viagem que fiz de trem com a minha
Filha Yaznayah de Belo Horizonte à
Cidade de São Tomé do Rio Doce para
Que publicasse num jornal de Teófilo
Otoni não leu o manifesto não publicou
Não o entregou para a publicação ainda
O perdeu nem deu-me uma satisfação
Até hoje choro meu peito sangra pela
Perda desse manifesto sagrado como
Se tivesse perdido um filho portanto zero
Pela tamanha falta de respeito com o autor
A lei é sobreviver; RJ; S/D; Publicado: BH, 0280902011.
A lei é sobreviver
A realidade bruta
Manda sobreviver
Viver não vivo
Feliz não sou
Pago um preço
Muito alto
Pela culpa
Que não tenho
Pelo pecado
Que não cometi
Por tudo
Que não sou
No peito
Na raça
Vou aguentar
A tropeçar
A esbarrar
A cair
A machucar
Ao seguir a lei
Na minha santa ignorância
A fazer do meu suor
A minha sobrevivência
É a norma da lei
Do universo
Do tempo
Aguentar firme
Não deixar cair o pano
O próximo ato
Pode ser a vida
Caetano Veloso, Força estranha; BH, 0280902011.
Eu vi um menino correndo, eu vi o tempo
Brincando ao redor
Do caminho daquele menino,
Eu pus os meus pés no riacho.
E acho que nunca os tirei.
O sol ainda brilha na estrada que eu nunca passei.
Eu vi a mulher preparando outra pessoa
O tempo parou pra eu olhar para aquela barriga.
A vida é amiga da arte
É a parte que o sol me ensinou.
O sol que atravessa essa estrada que nunca passou.
Por isso uma força me leva a cantar,
Por isso essa força estranha no ar.
Por isso é que eu canto, não posso parar.
Por isso essa voz tamanha.
Eu vi muitos cabelos brancos na fonte do artista
O tempo não pára no entanto ele nunca envelhece.
Aquele que conhece o jogo, o jogo das coisas que são.
É o sol, é o tempo, é a estrada, é o pé e é o chão.
Eu vi muitos homens brigando, ouvi seus gritos
Estive no fundo de cada vontade encoberta,
E a coisa mais certa de todas as coisas.
Não vale um caminho sob o sol.
E o sol sobre a estrada, é o sol sobre a estrada, é o sol.
Por isso uma força me leva a cantar,
Por isso essa força estranha no ar.
Por isso é que eu canto, não posso parar.
Por isso essa voz tamanha.
Caetano Veloso, Sampa; BH, 0280902011.
Alguma coisa acontece no meu coração
É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
Da dura poesia concreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta de tuas meninas
Ainda não havia para mim Rita Lee
A tua mais completa tradução
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João
Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto
É que Narciso acha feio o que não é espelho
E à mente apavora o que ainda não é mesmo velho
Nada do que não era antes quando não somos mutantes
E foste um difícil começo
Afasto o que não conheço
E quem vende outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso
Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
Da força da grana que ergue e destrói coisas belas
Da feia fumaça que sobe, apagando as estrelas
Eu vejo surgir teus poetas de campos, espaços
Tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva
Pan-Américas de Áfricas utópicas, túmulo do samba
Mais possível novo quilombo de Zumbi
E os novos baianos passeiam na tua garoa
E novos baianos te podem curtir numa boa.
terça-feira, 27 de setembro de 2011
Na cabeça trago uma anguzada; BH, 01º0502000; Publicado: BH, 0270902011.
Na cabeça trago uma anguzada
Uma mistura de coisas confusão
De ideias de ideais uma mescla
Vivo na intriga no mexerico na
Reunião desordenada de pessoas
Que nada têm a ver comigo meu
Espaço de locomoção é angusto
Apertado devido à minha timidez
Estreito por ser tão mesquinho
Meu bico é muito estreito agudo
Angustirrostro minhas asas
Angustípenes ninguém tem
Nenhuma pena de mim nem eu
Como tudo em mim é angusti
Do latim angustu elemento de
Composição vocabular com
Ideia de estreiteza angustiada
Nasci aflito agoniado de xoração
Atribulado angustímano de mãos
Angustifólio angustifoliado de
Folhas aangustidentado de dentes
Nem sou suplementar pois a minha
Soma não vale 180° sem ser
Correspondente por não ser formado
Por uma secante duas paralelas nem
Ser interno nem externo do mesmo
Lado da secante mas não adjacente
O espelho reflete o bico angulirrostro
O pescoço angulícolo o coração um
Angulete dentro deste ângulo diminutivo
Cavidade talhada em ângulo reto porém
Escrevo da mesma maneira que Dali
Pintava uma tela enxergo as frases da mesma
Maneira que Dali enxergava uma paisagem
Maria de Nazaré, Querido Ivan; S/D.
Mesmo depois de todo este tempo,
Sinto tua falta, quando não estás aqui;
Antes aqui estivesse, querido Ivan...
Nunca mais brigarei contigo;
Sim, eu sou teu anjo,
Darti-ei tudo,
O que esteja em meu poder mágico,
É só fazeres um pedido
E teu desejo será realizado.
Sinto tua falta, quando não estás aqui;
Antes aqui estivesse, querido Ivan...
Nunca mais brigarei contigo;
Sim, eu sou teu anjo,
Darti-ei tudo,
O que esteja em meu poder mágico,
É só fazeres um pedido
E teu desejo será realizado.
Estou em paz; RJ; S/D; Publicado: BH, 0270902011.
Estou em paz
Estou perfeitamente em paz
Minh'alma está tranquila
Serena calma
Minha consciência está consciente
já posso sentir
Amar viver
Estou feliz
A transbordar de felicidade
Meu rosto brilha
Meu sorriso é leve
Aberto franco
Meu sorriso é fácil
Sincero e natural
Sou real
Sou profissional
Amplo total
Estou seguro
Sem medo
Sem remorso
Tenho a esperança
Dum dia alcançar
A complementação do meu ser
A minha perfeição espiritual
Fui fruto dum amor; BH, 01º0502000; Publicado: BH, 0270902011.
Fui fruto dum amor
Não duma anfimixia
Mais uma reprodução
Sexuada com fusão de
Dois gametas habitante
De zona tórrida das
Areias quentes dos
Desertos sou um peixe
Anfíscio fóssil no meu
Mar de areias os navios
Podem atracar com as
Proas ou com as popas
Mesmo sem serem
Anfídromos aquela
Ansiedade da
Anforicidade a
Existência do sopro
Anfórico morreram o
Ruído anfófico dos
Meua pulmões no
Meu peito não me
Mata a angústia de
Amar o som que se
Obtém ao soprar
Numa ânfora ou
Noutra vasilha de
Colo estreito é o
Som da vida o som
Que se ouve na
Auscultação do
Peito é o som da
Morte em caso de
Existência de
Cavernas
Tuberculosas
Anfóricas ou
Pneumotóraxes
Fui fruto dum amor
Não sou de proveta
Nem de tubo de ensaio
Nem clonado nem
Em in vitro não fui
Cobaia de laboratório
Um rato de experiência
Fui fruto duma dor
Causei dor sou a dor
A dor do parto do amor
A dor humana não
Humanoide a dor
Eterna suportável
Que jorra as lágrimas
De alegria que jorra
Sangue da hemorragia
Que não fazemos
Questão de estancar
A vida vai melhorar; RJ, 040601981; Publicado: BH, 0270902011.
A vida vai melhorar
Não podemos nos desesperar
Temos mais é que lutar
Para poder nos libertar
Não podemos nos entregar
Desistir no meio do caminho
Temos que pôr na cabeça
Temos que nos conscientizar
A vida vai melhorar
É aumentar a esperança
A fé a paixão
Encher de sabor a vida
Amar ao nosso irmão
Colocar paz em nosso olhar
Amor no coração
Construir um mundo harmonioso
Tranquilo sereno
Uma humanidade humana
Cheia de irmandade calor
A vida vai melhorar
Sem a fome a pobreza
Sem a política a ilusão
Vai melhorar de verdade
Vai chegar a felicidade
Vamos sorrir e cantar
Numa mesma língua
Num único mundo
Não percamos a cabeça
Não percamos a calma
Chorar não adianta
Sonhar não é necessário
Necessário é viver intensamente
Procurar uma maneira
De melhorar nossa vida
Abrir a voz a dizer sem pensar
A vida vai melhorar
Quem não tem espiritualidade; BH, 0280602000; Publicado: BH, 0270902011.
Quem não tem espiritualidade
Quem não tem grandeza de espírito
Retidão de pensamento escreve
Assim da maneira que escrevo como
Um ardeídeo espécime dos Ardeídeos
Família de aves ciconiformes de
Corpo alongado pescoço comprido
Bico longo forte patas dedos longos
Do tipo da garça sem graça ao andar
Como um corcunda com o peso
Arcual a costa que tem forma de arco
O escritor audacioso e brilhante
Tem o pensamento mais elevado do
Que o Arcturo a estrela principal
Da constelação de Boieiro o poeta
Maior tem a poesia maior do que o
Arctor a Ursa Maior ou maior do que
As duas Ursas juntamente quem não
Tem sabedoria na escrita faz como
Faço a arctação a estenose do orifício
Dum meato ou canal no organismo
Então um dia espero atingir o perfil
Elevar a perfeição de escritor de poeta
Firme como um arcobotante um pilar
Terminado em meio arco que ampara
Exteriormente parede ou abóbada um
Pegão grande pilar ou suporte maciço
Em que se apoiam os arcos das pontes
Devastador como um grande pé de
Vento quem escreve é como um estribo
A peça de metal ou madeira em que o
Cavaleiro firma o pé a pequena plataforma
À maneira dum degrau nos veículos para facilitar
O embarque desembarque dos passageiros mentais
Não tenho nem quero; BH, 280602000; Publicado: BH, 0270902011.
Não tenho nem quero
Nenhuma relação com o clero
Nem arciprestal nem arciprestada
A tal dignidade de jurisdição do arci
De arcipreste aqui preste atenção
Ligação com a igreja graças a Deus
Não quero não nenhuma pois o
Homem nunca precisou da igreja
Para a sua salvação só para a sua
Perdição a igreja é que precisa do
Dinheiro do homem para a sua
Sustentação a única manifestação
Arciforme que tem forma de arco
Que sem dúvida me comove é o
Arco-íris colorido arcífero que
Nnão é arcifino nem tem limite
Geográfico natural só armado o
Arco no firmamento que some
Quando chega a archotada
Acompanhada do cortejo noturno
De estrelas que parece de longe
Iluminado com archotes numa
Marcha de constelações universais
Toda a minha imaginação cabe no
Ornato da pequena arca o archete
Que sustenta meu coração sei que
Sou um archeiro errado um
Alabardeiro que nunca acerta o alvo
Um guarda de paços desempregado
Que usava o arco a flecha também a
Conhecida archa armas antigas que
Eram usadas pelos archeiro para acabar
Com os arcediagados da inquisição
Odeio; RJ, 080601981; Publicado: BH, 0370902011.
Odeio
O que trago nas veias
É o ódio
No peito não tenho coração
Tem ódio
Raiva rancor
Cólera
Odeio
Odeio a todos
Odeio tudo
Só conheço o ódio
Só conheço esta doença
O nervosismo
O medo a insegurança
Odeio
Odeio-me
Odeio o mundo
A humanidade
A sociedade
Odeio o capitalismo
O comunismo
O socialismo
Odeio a política
Os políticos os militares
Odeio as armas
Odeio a guerra
O desamor o terror
Odeio os covardes
Os assassinos destruidores
Da paz do lar
Do amor das crianças
Odeio o ódio
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
Minha ignorância é uma pedra; BH, 0280602000; Publicado: BH, 0260902011.
Minha ignorância é uma pedra
Tão bruta dura que nem com o
Arcete conseguirei abrir uma
Porta no meu ser apedeuta nem
Serra especial para cortar pedras
Conseguirá abrir uma fenda na
Hipocrisia da minha obtusidade
Os gavetões do meu arcaz estão
Lacrados com grandes rochas
Até o arcebispo já me fez uma
Reza arcebispal para ver se
Conseguia me iluminar um dia
Abrilhantar-me engrandecer-me
Todas as formas alteradas foram
Usadas de arce de arque de arqui
Nada consegui de urgir minha
Arcatura era uma arcaria fingida
Que serve de ornato às fachadas é
Comum em certos estilos
Arquitetônicos meu perfil
Arcangélico era uma pequena
Cobertura que encobria os recifes
Que formavam o meu rosto a arcal
Planta rosácea espécie ee esteva que
Se cria nas turfeiras da minha face
Servia para encobrir a minha dor a
Dor que me faz arcaizar tornar-me
Um arcaico de vergonha de feição
Arcaica jeito arcaísta todo o meu
Arcaísmo é para esconder-me
Inibir-me aumentar a arcadura a
Curvatura das trevas das sombras
Que carrego em minhas costas
Ai quem me dera se; BH, 0280602000; Publicado: BH, 0260902011.
Ai quem me dera se
Fosse um arcador honrado um
Operário honesto que nas fábricas
De chapéus seleciona o pelo a
Prepará-lo para a fula porém não
Passo dum arcado arqueado no peso
Da ignorância curvado pelo peso da
Obscuridade não conheci o clacissicismo
Do arcadismo a influência literária das
Arcádias o que há de acádico em mim
São só os meus erros eternos minhas
Falhas infinitas que se tivesse de
Contá-las as contaria as contaria sem
Jamais chegar ao fim melhor teria sido
Se recebesse uma arcabuzaria na cabeça
Uma troca armada de arcabuzeiro para
Esfacelar meu cérebro derradeiro numa
Descarga de arcabuzes fuzilaria nada
Sobraria desta cabeça sombria chama o
Melhor arcabuzeiro aí fabricante ou o
Indivíduo armado de arcabuz chama aí o
Batalhão a manga todo o regimento para
Arcabuzar-me o perigoso pensamento
Matar-me a tiros acabar comigo ao
Fuzilar-me ao espingardear-me com
Tanta ignorância de imbecilidade só
Um arcabuzamento inevitável uma
Arcabuzada sem fim ai de mim
Malgrado meu não mereço continuar
A viver sem romper a condição
De ser arbustivo de ser
Este arbustiforme rupestre
João Cabral de Melo Neto, O Rio; BH, 0260902011.
Sempre pensara em ir
Caminho do mar.
Para alguns bichos e rios
Nascer já é caminhar.
Eu não sei o que os rios
Têm de homem do mar;
Sei que sente o mesmo
E exigente chamar.
Eu já nasci descendo
A serra que se diz do Jacarará,
Entre caraibeiras
De que só sei por ouvir contar
(Pois, também como gente,
Não consigo me lembrar
Dessas primeiras léguas
De meu caminhar).
Desde tudo que me lembro,
Lembro-me bem de que baixava
Entre terras de sede
Que das margens me vigiavam.
Rio menino, eu temia
Aquela grande sede de palha,
Grande sede sem fundo
Que águas meninas cobiçava.
Por isso é que ao descer
Caminho de pedras eu buscava,
Que não leito de areia
Com suas bocas multiplicadas.
Leito de pedra abaixo
Rio menino eu saltava.
Saltei até encontrar
As terras fêmeas da Mata.
Caminho do mar.
Para alguns bichos e rios
Nascer já é caminhar.
Eu não sei o que os rios
Têm de homem do mar;
Sei que sente o mesmo
E exigente chamar.
Eu já nasci descendo
A serra que se diz do Jacarará,
Entre caraibeiras
De que só sei por ouvir contar
(Pois, também como gente,
Não consigo me lembrar
Dessas primeiras léguas
De meu caminhar).
Desde tudo que me lembro,
Lembro-me bem de que baixava
Entre terras de sede
Que das margens me vigiavam.
Rio menino, eu temia
Aquela grande sede de palha,
Grande sede sem fundo
Que águas meninas cobiçava.
Por isso é que ao descer
Caminho de pedras eu buscava,
Que não leito de areia
Com suas bocas multiplicadas.
Leito de pedra abaixo
Rio menino eu saltava.
Saltei até encontrar
As terras fêmeas da Mata.
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
Beth Carvalho de Nelson Sargento, Agoniza mas não morre; BH, 02501202010.
Alguém sempre te socorre
Antes do suspiro derradeiro
Samba, negro forte destemido
Foi duramente perseguido
Na esquina, no botequim, no terreiro
Samba, inocente pé no chão
A fidalguia do salão
Te abraçou, te envolveu
Mudaram toda a sua estrutura
Te impuseram outra cultura
E você não percebeu.
Álvaro de Campos/Fernando Pessoa, Apostila; BH, 040202011.
Aproveitar o tempo!
Mas o que é o tempo, para que eu o aproveite?
Aproveitar o tempo!
Nenhum dia sem linha...
O trabalho honesto e superior...
O trabalho à Virgílio, à Milton...
Mas é tão difícil ser honesto ou ser superior!
É tão pouco provável ser Milton ou ser Virgílio!
Aproveitar o tempo!
Tirar da alma os bocados precisos - nem mais nem menos -
Para com eles juntar os cubos ajustados
Que fazem gravuras certas na história
(E estão certas também do lado de baixo, que não se vê)...
Pôr as sensações em castelo de cartas, pobre China dos serões,
E os pensamentos em dominó, igual contra igual,
E a vontade em carambola difícil...
Imagens de jogos ou de paciências ou de passatempos-
Imagens da vida, imagens das vidas, Imagem da Vida...
Verbalismo...
Sim, verbalismo...
Aproveitar o tempo!
Não ter um minuto que o exame da consciência desconheça...
Não ter um ato indefinido nem factício...
Não ter um movimento desconforme com propósitos...
Boas-maneiras da alma...
Elegância de persistir...
Aproveitar o tempo!
Meu coração está cansado como um mendigo verdadeiro
Meu cérebro está pronto como um fardo posto no canto
Meu canto (verbalismo!) está tal como está e é triste.
Aproveitar o tempo!
Desde que comecei a escrever passaram cinco minutos.
Aproveitei-os ou não?
Se não sei se os aproveitei, que saberei de outros minutos?
(Passageira que viajava tantas vezes no mesmo compartimento comigo
No comboio suburbano,
Chegaste a interessar-te por mim?
Aproveitei o tempo olhando para ti?
Qual foi o ritmo do nosso sossego no comboio andante?
Qual foi o entendimento que não chegamos a ter?
Qual foi a vida que houve nisto? Que foi isto à vida?)
Aproveitar o tempo!...
Ah, deixem-me não aproveitar nada!
Nem tempo, nem ser, nem memórias de tempo ou de ser!
Deixem-me ser uma folha de árvore, titilada por brisas,
A poeira de uma estrada, involuntária e sozinha,
O regato casual das chuvas que vão acabando,
O vinco deixado na estrada pelas rodas enquanto não vêm outras,
O pião do garoto que vai a parar,
E oscila, no mesmo movimento que o da terra,
E estremece, no mesmo movimento que o da alma,
E cai, como caem os deuses no chão do Destino
Mas o que é o tempo, para que eu o aproveite?
Aproveitar o tempo!
Nenhum dia sem linha...
O trabalho honesto e superior...
O trabalho à Virgílio, à Milton...
Mas é tão difícil ser honesto ou ser superior!
É tão pouco provável ser Milton ou ser Virgílio!
Aproveitar o tempo!
Tirar da alma os bocados precisos - nem mais nem menos -
Para com eles juntar os cubos ajustados
Que fazem gravuras certas na história
(E estão certas também do lado de baixo, que não se vê)...
Pôr as sensações em castelo de cartas, pobre China dos serões,
E os pensamentos em dominó, igual contra igual,
E a vontade em carambola difícil...
Imagens de jogos ou de paciências ou de passatempos-
Imagens da vida, imagens das vidas, Imagem da Vida...
Verbalismo...
Sim, verbalismo...
Aproveitar o tempo!
Não ter um minuto que o exame da consciência desconheça...
Não ter um ato indefinido nem factício...
Não ter um movimento desconforme com propósitos...
Boas-maneiras da alma...
Elegância de persistir...
Aproveitar o tempo!
Meu coração está cansado como um mendigo verdadeiro
Meu cérebro está pronto como um fardo posto no canto
Meu canto (verbalismo!) está tal como está e é triste.
Aproveitar o tempo!
Desde que comecei a escrever passaram cinco minutos.
Aproveitei-os ou não?
Se não sei se os aproveitei, que saberei de outros minutos?
(Passageira que viajava tantas vezes no mesmo compartimento comigo
No comboio suburbano,
Chegaste a interessar-te por mim?
Aproveitei o tempo olhando para ti?
Qual foi o ritmo do nosso sossego no comboio andante?
Qual foi o entendimento que não chegamos a ter?
Qual foi a vida que houve nisto? Que foi isto à vida?)
Aproveitar o tempo!...
Ah, deixem-me não aproveitar nada!
Nem tempo, nem ser, nem memórias de tempo ou de ser!
Deixem-me ser uma folha de árvore, titilada por brisas,
A poeira de uma estrada, involuntária e sozinha,
O regato casual das chuvas que vão acabando,
O vinco deixado na estrada pelas rodas enquanto não vêm outras,
O pião do garoto que vai a parar,
E oscila, no mesmo movimento que o da terra,
E estremece, no mesmo movimento que o da alma,
E cai, como caem os deuses no chão do Destino
WikiLeaks; BH, 01001202010; Publicado: BH, 0230902011.
Penso que Julian Paul Assange seja um herói
Deveríamos agradecê-lo por trazer à tona
Falcatruas dos governos do mundo até do
Que sempre jogou mais sujo rasteiro o
Norte-americano quantas sujeiras não estão
Escondidas nos subterrâneos desses
Governos? Julian Paul Assange prestou um
Serviço imenso à humanidade mostrou que
Plenipotenciários quando querem mais poder
Não medem o tamanho da falta de escrúpulo
Ética moral tanto as multinacionais notórias
Petrolíferas laboratórios que usaram cobaias
Humanas Julian Paul Assange expôs o que
Pedimos a Deus para conhecer todos os dias
Não conhecemos aí aparece a demagogia
Aparece a hipocrisia o homem é preso falam
Em liberdade de tudo falam em democracia
Em igualdade fazem as coisas mais sujas as
Relatam em documentos secretos em
Correspondências confidenciais não me
Conformo com o que fizeram com Julian
Paul Assange o cara é tipo um profeta que
Nos revela a luz jamais imaginávamos que
Corríamos tantos riscos que governos eram
Capazes de fazer o que os documentos vídeos
Mostraram muito obrigado Julian por expor
Essas entranhas esses organismos que se
Apresentam como assépticos que no fundo
Fedem igual retrete latrina mal lavadas
Nietzsche, Fazer brilhar sua própria felicidade; BH, 0120202011.
Do mesmo modo que os pintores que de maneira alguma
Podem atingir o tom profundo e luminoso do céu, tal como existe
Na natureza, são obrigados a tomar todas as cores de que têm
Necessidade para sua paisagem, alguns tons mais baixos que aqueles
Que a natureza lhes mostra: do mesmo modo que conseguem
Atingir por esse artifício uma semelhança na luminosidade e uma
Harmonia de tons que corresponde à natureza: assim também é
Necessário que os poetas e os filósofos, aos quais o brilho luminoso
Da felicidade é inacessível, saibam usar de expedientes.
Conferindo a todas as coisas um colorido de alguns tons mais sombrios que
Os reais, a luz que conhecem dá um efeito quase ensolarada e se
Assemelha à luz da plena felicidade.
- O pessimista, que confere a todas as coisas as cores mais negras e mais sombrias,
Usa apenas chamas e clarões, glórias celestes e tudo o que possui uma força
Luminosa muito viva e que torna os olhos hesitantes; nele a claridade
Existe simplesmente para aumentar o temor e deixar pressentir nas
Coisas mais terror do que elas contêm na realidade.
Podem atingir o tom profundo e luminoso do céu, tal como existe
Na natureza, são obrigados a tomar todas as cores de que têm
Necessidade para sua paisagem, alguns tons mais baixos que aqueles
Que a natureza lhes mostra: do mesmo modo que conseguem
Atingir por esse artifício uma semelhança na luminosidade e uma
Harmonia de tons que corresponde à natureza: assim também é
Necessário que os poetas e os filósofos, aos quais o brilho luminoso
Da felicidade é inacessível, saibam usar de expedientes.
Conferindo a todas as coisas um colorido de alguns tons mais sombrios que
Os reais, a luz que conhecem dá um efeito quase ensolarada e se
Assemelha à luz da plena felicidade.
- O pessimista, que confere a todas as coisas as cores mais negras e mais sombrias,
Usa apenas chamas e clarões, glórias celestes e tudo o que possui uma força
Luminosa muito viva e que torna os olhos hesitantes; nele a claridade
Existe simplesmente para aumentar o temor e deixar pressentir nas
Coisas mais terror do que elas contêm na realidade.
Nietzsche, Máximas e Interlúdios; BH, 010202011.
160 "Não se ama suficientemente o própio conhecimento logo que o Comunica a outros." 161 "Os poetas não têm pudor para com suas aventuras - eles as exploraram." 162 ""Nosso próximo não é nosso vizinho, mas o vizinho deste" - assim Pensam todos os povos." 163 "O amor revela as qualidades sublimes e secretas daquele que ama - o Que ele possui de raro, de excepcional. É por isso que o amante engana Facilmente naquilo que nele é regra." 164 "Jesus disse a seus judeus: "A lei foi feita para os escrevos - amem a Deus como Eu o amo, como seu filho! Que importa a moral, para nós, filhos de Deus!"" 165 "Aviso a todos os partidos. - Um pastor sempre tem necessidade De um carneiro condutor - de outro modo é obrigado a fazer-se ele Próprio de carneiro." 166 "É realmente com a boca que se proferem mentiras: mas com os trejeitos Que se fazem ao mesmo tempo, a verdade é dita da mesma forma." 167 "Nos homens rudes, a intimidade é objeto de pudor - e é também algo de precioso." 168 "O cristianismo deu veneno a Eros para beber - ele não morreu, mas ficou viciado." 169 "Falar muito de si pode ser também um meio como outro para se esconder." 170 "No elogio há muito maior indiscrição que na recriminação." 171 "A compaixão causa um efeito risível no homem que busca o Conhecimento, com mãos delicadas no ciclope." 172 "Por amor dos homens, abraçamos o primeiro que chega (porque não Podemos abraçar a todos): mas é precisamente o que não se deve dizer a ele." 173 "Não se odeia tanto quanto se despreza. Não se odeia senão seu igual ou seu superior." 174 "Ó utilitaristas, vocês também não gostam do útil a não ser como veículo De suas inclinações - vocês também acham o ruído das rodas desse veículo insuportável?" 175 "Amamos em definitivo, somente nossas inclinações e não aquilo a que nos inclinamos." 176 "A vaidade dos outros só fere nosso gosto quando fere nossa vaidade." 177 "A respeito da "veracidade", ninguém até agora foi talvez realmente verídico." 178 "Não se acredita nas tolices das pessoas sensatas - que perda para os direitos do homem!" 179 "As consequências de nossas ações nos agarram pelos cabelos; para elas É diferente que, no intervalo, nos tenhamos tornado melhores." 180 "Há uma ingenuidade na mentira que é indício de boa-fé." 181 É desumano bendizer aquele que nos amaldiçoa." 182 "As familiaridades de um homem superior irritam, porque não podemos retribuí-las." 183 "Fiquei desnorteado, não pelo fato de que tenha mentido, mas pelo Fato de que não posso mais acreditar em ti." 184 "Há uma exuberância na bondade que parece ser maldade." 185 ""Ele não me agrada." - Por quê? - "Não me sinto à sua altura." - Algum homem já respondeu de tal forma?" |
Nietzsche, Máximas e Interlúdios; BH, 0110202011.
130
"Começa-se a adivinhar quem é alguém quando seu talento declina
- Quando deixa de mostrar o que pode.
O talento pode ser um ornamento e o ornamento um esconderijo."
131
"Os sexos se enganam mutuamente: isso demonstram que não amam e
Não estimam no fundo senão a si mesmos (ou seu próprio ideal, para me
Exprimir de maneira mais gentil).
Assim, o homem deseja a mulheer pacífica
- Mas a mulher é essencialmente batalhadora, da mesma forma que o gato,
Por mais que tenha a habilidade de manter as aparências de paz."
132
"É por suas virtudes que alguém é punido melhor."
133
"Aquele que não sabe encontrar o caminho que conduz a seu ideal vive
De maneira mais frívola, mas insolente que o homem sem ideal"
134
"São os sentidos que tornan as coisas dignas de fé, lhes conferem boa
Consciência e aparência de verdade."
135
"O farisaísmo não é uma corrupção do homem bom.
É, pelo contrário, em grande parte, condição necessária para ser bom."
136
"Um procura um auxiliar para desenvolver suas ideias, outro procura a
Quem possa ajudar: é assim que organiza um bom entretenimento."
137
"Quando uma mulher tem gosto pelas ciências, há geralmente em
Sua sexualidade alguma coisa que não está em ordem.
A esterilidade já predispõe a uma certa masculinidade de gosto; com efeito o homem é,
Com sua permissão, o "animal estéril"."
138
"Fazemos quando despertos o que fazemos em sonho: começamos por
Inventar e imaginar o ser que frequentamos - e isso, nós o esquecemos logo."
139
"Na vingança como no amor, a mulher é mais bárbara que o homem."
140
"Conselho em forma de adivinha: "se não quiseres que o laço se parta, é
Preciso segurá-lo com os dentes"."
141
"É seu baixo ventre que impede o homem de se considerar tão facilmente
Um deus."
142
"A frase mais casta que já ouvi: "no verdadeiro amor, é a alma que
Envolve o corpo"."
143
"O que melhor fazemos, nossa vaidade gostaria que passase a ser
Considerada a mais difícil.
Isso para explicar a origem de muitas morais."
144
"Nas relações com sábios e artistas, nos enganamos facilmente em
Sentido oposto: atrás de um sábio notável encontramos muitas vezes um
Homem medíocre e, atrás de um artista medíocre, um homem notável."
145
"Comparando, em seu conjunto, o homem e a mulher, pode-se dizer: a
Mulher não possuirá o talento de se adornar se não soubesse, por instinto,
Que ela desempenha o papel secundário."
146
"Aquele que luta contra os monstros deve vigiar para não se tornar um deles.
Ora, quando seu olhar se fixa muito tempo no fundo de um
Abismo, o próprio abismo penetra em ti."
147
"Extraído de uma antiga novela florentina - coisa vivida: buona femmina
E mala femmina vuol bastone (Saccheti, novela 86).
(Boa mulher e má mulher requer bordoada) (N.do T,)"
148
"Induza insidiosamente nosso próximo a ter boa opnião de nós e, de
Repente, acreditar firmemente que essa é a opinião de outro: quem, pois,
Nessa coisa toda saberia imitar as mulheres?"
149
"Aquilo que numa época é considerado mau, é geralmente um eco
Inatual daquilo que outrora foi considerado bom - o atavismo de um ideal
Envelhecido."
150
"Em torno de um heroi, tudo se torna tragédia; - em torno de um
Semideus, tudo se torna drama satírico; - em torno de Deus, tudo se torna
- Em quê?
Talvez "mundo"."
151
"Não basta ter talento: é preciso também ter permissão de tê-lo - o quê!
Meus amigos?"
152
""Onde se encontra a árvore do conhecimento se encontra também o paraíso".
Assim falam as mais velhas e mais jovens serpentes."
153
"O que se faz por amor sempre se faz além do bem e do mal."
154
"A objeção, o distanciamento, a desconfiança alegre, a ironia, são sinais
De saúde; tudo o que é absoluto pertence aos domínios da patologia."
155
"O sentido do trágico aumente e diminui
"Começa-se a adivinhar quem é alguém quando seu talento declina
- Quando deixa de mostrar o que pode.
O talento pode ser um ornamento e o ornamento um esconderijo."
131
"Os sexos se enganam mutuamente: isso demonstram que não amam e
Não estimam no fundo senão a si mesmos (ou seu próprio ideal, para me
Exprimir de maneira mais gentil).
Assim, o homem deseja a mulheer pacífica
- Mas a mulher é essencialmente batalhadora, da mesma forma que o gato,
Por mais que tenha a habilidade de manter as aparências de paz."
132
"É por suas virtudes que alguém é punido melhor."
133
"Aquele que não sabe encontrar o caminho que conduz a seu ideal vive
De maneira mais frívola, mas insolente que o homem sem ideal"
134
"São os sentidos que tornan as coisas dignas de fé, lhes conferem boa
Consciência e aparência de verdade."
135
"O farisaísmo não é uma corrupção do homem bom.
É, pelo contrário, em grande parte, condição necessária para ser bom."
136
"Um procura um auxiliar para desenvolver suas ideias, outro procura a
Quem possa ajudar: é assim que organiza um bom entretenimento."
137
"Quando uma mulher tem gosto pelas ciências, há geralmente em
Sua sexualidade alguma coisa que não está em ordem.
A esterilidade já predispõe a uma certa masculinidade de gosto; com efeito o homem é,
Com sua permissão, o "animal estéril"."
138
"Fazemos quando despertos o que fazemos em sonho: começamos por
Inventar e imaginar o ser que frequentamos - e isso, nós o esquecemos logo."
139
"Na vingança como no amor, a mulher é mais bárbara que o homem."
140
"Conselho em forma de adivinha: "se não quiseres que o laço se parta, é
Preciso segurá-lo com os dentes"."
141
"É seu baixo ventre que impede o homem de se considerar tão facilmente
Um deus."
142
"A frase mais casta que já ouvi: "no verdadeiro amor, é a alma que
Envolve o corpo"."
143
"O que melhor fazemos, nossa vaidade gostaria que passase a ser
Considerada a mais difícil.
Isso para explicar a origem de muitas morais."
144
"Nas relações com sábios e artistas, nos enganamos facilmente em
Sentido oposto: atrás de um sábio notável encontramos muitas vezes um
Homem medíocre e, atrás de um artista medíocre, um homem notável."
145
"Comparando, em seu conjunto, o homem e a mulher, pode-se dizer: a
Mulher não possuirá o talento de se adornar se não soubesse, por instinto,
Que ela desempenha o papel secundário."
146
"Aquele que luta contra os monstros deve vigiar para não se tornar um deles.
Ora, quando seu olhar se fixa muito tempo no fundo de um
Abismo, o próprio abismo penetra em ti."
147
"Extraído de uma antiga novela florentina - coisa vivida: buona femmina
E mala femmina vuol bastone (Saccheti, novela 86).
(Boa mulher e má mulher requer bordoada) (N.do T,)"
148
"Induza insidiosamente nosso próximo a ter boa opnião de nós e, de
Repente, acreditar firmemente que essa é a opinião de outro: quem, pois,
Nessa coisa toda saberia imitar as mulheres?"
149
"Aquilo que numa época é considerado mau, é geralmente um eco
Inatual daquilo que outrora foi considerado bom - o atavismo de um ideal
Envelhecido."
150
"Em torno de um heroi, tudo se torna tragédia; - em torno de um
Semideus, tudo se torna drama satírico; - em torno de Deus, tudo se torna
- Em quê?
Talvez "mundo"."
151
"Não basta ter talento: é preciso também ter permissão de tê-lo - o quê!
Meus amigos?"
152
""Onde se encontra a árvore do conhecimento se encontra também o paraíso".
Assim falam as mais velhas e mais jovens serpentes."
153
"O que se faz por amor sempre se faz além do bem e do mal."
154
"A objeção, o distanciamento, a desconfiança alegre, a ironia, são sinais
De saúde; tudo o que é absoluto pertence aos domínios da patologia."
155
"O sentido do trágico aumente e diminui
com a sensualidade."
156
"A loucura, no indivíduo, é coisa rara - nos grupos, nos partidos, nos
Povos, nas épocas, é a regra."
157
"A ideia do suicídio é um poderoso consolo: ela ajuda a passar mais de
Uma noite ruim."
158
"Não é somente nossa razão, mas também nossa consciência, que se
Submete a nosso instinto mais forte, àquele que é o tirano em nós."
159
"Deve-se atribuir o bem e o mal.
Mas por que teria de ser justamente
Para a pessoa que nos fez o bem e o mal?
160
"Não se ama suficientemente o próprio conhecimento logo que se o
Comunica a outros."
156
"A loucura, no indivíduo, é coisa rara - nos grupos, nos partidos, nos
Povos, nas épocas, é a regra."
157
"A ideia do suicídio é um poderoso consolo: ela ajuda a passar mais de
Uma noite ruim."
158
"Não é somente nossa razão, mas também nossa consciência, que se
Submete a nosso instinto mais forte, àquele que é o tirano em nós."
159
"Deve-se atribuir o bem e o mal.
Mas por que teria de ser justamente
Para a pessoa que nos fez o bem e o mal?
160
"Não se ama suficientemente o próprio conhecimento logo que se o
Comunica a outros."
Nietzsche, Máximas e Interlúdios; BH, 010202011.
63
"Aquele que é fundamentalmente mestre só leva a sério as coisas por
Causa de seus alunos - inclusive ele próprio."
64
"O conhecimento pelo conhecimento" - eis a última armadilha
Tramada pela moral: é assim que se acaba por envolver-se nele de novo
Completamente."
65
"O encanto do conhecimento seria diminuto se, para atingi-lo, não
Houvesse tanto pudor a vencer."
65 a
"É com relação a Deus que demonstramos menos probidade: não lhe
Concedemos o direito de pecar."
66
"A tendência a humilhar-se, a deixar-se roubar, a enganar e explorar,
Essa tendência não poderia ser o pudor de um deus entre os homens?"
67
"O amor de um só é uma barbárie, pois se exerce em detrimento de todos
Os outros.
Mesmo o amor de Deus"
68
"Eu fiz isso", diz minha memória.
"Não pude fazer aquilo" - diz minha
Altivez, que permanece inflexível.
E finalmente é a memória que cede."
69
"Observou-se mal a vida, se ainda não se descobriu a mão que mata com
Luvas de veludo."
70
"Quando se tem caráter, tem-se na vida uma aventura típica que sempre se renova."
71
"O sábio como astrônomo -
Enquanto considerares as estrelas como
Algo que está "acima de ti", falta-te o olhar do conhecedor."
72
"Não é a força dos grandes sentimentos que faz os homens superiores,
Mas sua duração."
73
"Aquele que atinge o seu ideal, por isso mesmo o ultrapassa."
73 a
Certo pavão esconde sua cauda aos olhos de todos - e a chama seu
Orgulho."
74
"Um homem dotado de gênio é insuportável se, além disso, não possuir
Pelo menos duas outras qualidades: a gratidão e a cortesia."
75
"O grau e a espécie de sexualidade no homem atingem até o cume mais
Elevado de seu espírito."
76
"Em tempo de paz o homem belicoso se ataca a si mesmo."
77
"Com nossos princípios gostaríamos de tiranizar nossos hábitos ou
Justificá-los ou honrá-los ou maldizê-los ou escondê-los - dois homens
Com princípios iguais querem com isso alcançar algo fundamentalmente
Diferente."
78
"Quem despreza a si mesmo, se honra pelo menos como desprezador."
80
"Uma coisa que se explica deixa de interessar. -
O que queria dizer esse deus que aconselhava:
"Conhece-te a ti mesmo?"
Talvez quisesse dizer:
"Deixa de interessar-te por ti mesmo!
Torna-te objetivo!"
- E Sócrates?
E o "homem científico"?"
81
"É terrível morrer de sede no mar.
Deve-se, portanto, salgar a verdade,
De modo que não estanque nunca mais a sede!"
82
"Piedade para todos" - isso seria crueldade e tirania para ti, senhor meu
Vizinho!"
83
"O instinto - quando a casa está em chamas, esquece-se até de comer.
Mas depois se come sobre as cinzas."
84
"A mulher aprende a odiar à medida que desaprende a fascinar."
85
"As mesmas paixões têm um ritmo diferente no homem e na mulher: é
Por isso que o homem e a mulher jamais deixam de se desentender,"
86
"Mesmo as mulheres, no fundo de sua vaidade pessoal, têm sempre
Desprezo impessoal - pela "mulher."
87
"Coração acorrentado, espírito livre - quando se acorrenta fortemente
O coração e se o mantém preso, pode-se conceder muitas liberdades ao
Espírito.
Já o disse uma vez.
Mas ninguém quer acreditar em mim - é de se
Supor que já o sabia."
88
"Começa-se a desconfiar das pessoas muito sensatas, quando se mostram
Embaraçadas."
89
"As aventuras terríveis levam a pensar se aquele a quem lhe acontecem
Não é ele próprio alguém terrível."
90
"Os homens pesados, melancólicos se tornam mais leves por aquilo que
Torna os outros mais pesados, pelo ódio e pelo amor.
E desse modo sobem às vezes até à superfície."
91
"Tão frio, tão gelado que queima os dedos!
A mão que toca o recua de pavor!
- E é poe isso que alguns o acham ardente!"
92
"Quem ainda não se sacrificou pelo menos uma vez por sua boa reputação?"
93
"Na afabilidade não há misantropia, mas é por isso que se encontra tanto
Desprezo pelos homens."
94
"A maturidade do homem consiste em ter reencontrado a seriedade que
Tinha nos brinquedos quando era criança."
95
"Ter vergonha de sua moralidade é um degrau da escada em cujo topo
Se tem vergonha de sua moralidade."
96
"É preciso despedir-se da vida como Ulisses de Nausica - bendizendo-a
Mais que mostrar-se enamorado dela."
97
"Como!
Um grande homem?
Não consigo ver nele mais do que o comediante
De seu próprio ideal."
98
"Quando alguém quer amestrar a própria consciência, ela o abraça, mas
Mordendo."
99
"O desiludido fala -
"Espero um eco, mas só ouvi elogios.""
100
"Diante de nós mesmos fingimos todos ser mais simples do que realmente
Somos: assim não nos repousamos de nossos semelhantes."
101
"Hoje, um homem que busca o conhecimento poderia facilmente
Acreditar-se um deus que se torna animal."
102
"Descobrir que é correspondido no amor deveria abrir os olhos a
Respeito do fato de ser amado.
- "Como?
Seria coisa bastante modesta te
Amar?
Ou bastante tola?
- Ou ainda - ou ainda...""
103
"O perigo na felicidade - "agora, tudo vai bem; gosto de toda espécie de
Destino - quem tem vontade de ser meu destino?""
104
"Não é seu amor pela humanidade, mas a importância de seu amor pela
Humanidade que impede os cristãos de hoje - de nos jogar na fogueira."
105
"Por meio da música as paixões desfrutam de si próprias."
106
"Para o espírito livre, para aquele que possui a "religião do conhecimento"
- Pia fraus (piedosa fraude: (N. do T.) é mais contrária a seu gosto (à sua religiosidade)
Que a impia fraus. (impiedosa fraude (N. do T.)
Disso decorre sua profunda incompreensão da Igreja - como a
Própria sujeição do tipo "espírito livre"".
107
"Quando se toma uma decisão, é preciso tapar os ouvidos mesmo
Com melhores argumentos contrários.
É o indício de um caráter forte.
Quando oportuno, deve-se, portanto, fazer triunfar a própria vontade até
A estupidez."
108
"Não existem fenômenos morais, mas interpretações morais dos
Fenômenos."
109
O criminoso não está muitas vezes à altura do seu ato: ele o
Amesquinha e o calunia."
110
"Os advogados de um criminoso são raramente bastante artistas para
Utilizar, em proveito do culpado, a beleza terrível do seu ato."
111
"É quando nosso orgulho acaba de ser ferido que é mais difícil ferir
Nossa vaidade."
112
"Aquele que se sente predestinado à contemplação e não à fé, acha todos
Os crentes ardentes e inoportunos: procura evitá-los."
113
"Queres dispor alguém em teu favor?
Finge-te embaraçado diante dele."
114
"A enorme expectativa no amor sexual e a vergonha dessa expectativa
Estraga de uma só vez na mulher todas as perspectivas."
115
"Quando o amor e o ódio não estão em jogo, a mulher joga de
Maneira medíocre".
116
"As grandes épocas de nossa vida são aquelas em que temos a coragem
De considerar o que é mau em nós como aquilo que temos de melhor."
117
"A vontade de superar uma paixão não é, em definitivo, senão a vontade
De outra ou de muitas outras paixões."
118
"Existe uma ingenuidade na admiração.
É aquela do homem que não
Considera a possibilidade de ele também poder ser admirado um dia."
119
"O nojo da sujeira pode ser tão grande que impede de nos purificar - de
Nos "justificar"."
120
"A sensualidade muitas vezes ultrapassa o crescimento do amor, de tal
Forma que a raiz permanece fraca e fácil de arrancar."
121
"Há em Deus uma questão delicada por ter aprendido grego quando quis
Ser escritor - a de não tê-lo aprendido melhor."
122
"Regozijar-se por um elogio não passa muitas vezes de uma cortesia do
Coração - e o contrário de uma vaidade do espírito."
123
"Também o concubinato foi corrompido - pelo matrimônio."
124
"Aquele que se regozija ainda na fogueira, não triunfa da dor, mas do
Fato de não sentir a dor onde esperava.
Um símbolo."
125
"Quando somos obrigados a mudar de opinião a respeito de alguém,
Fazemos com que pague caro o embaraço que nos causa."
126
"Um povo é o desvio da natureza para chegar a seis ou sete grandes
Homens.
- Sim, e em seguida deixá-los de lado,"
127
"Para as verdadeiras mulheres, a ciência é despudorada.
Elas têm a impressão de que são olhadas por debaixo da pele
- Pior ainda! por baixo das roupas."
128
"Quanto mais abstrata a verdade que queres ensinar, mais deverás seduzir
Os sentidos."
129
"O diabo tem as mais amplas perspectivas com relação a Deus, por isso
Se mantém tão distante dele.
- O diabo, isto é, o mais antigo amigo do
Conhecimento."
"Aquele que é fundamentalmente mestre só leva a sério as coisas por
Causa de seus alunos - inclusive ele próprio."
64
"O conhecimento pelo conhecimento" - eis a última armadilha
Tramada pela moral: é assim que se acaba por envolver-se nele de novo
Completamente."
65
"O encanto do conhecimento seria diminuto se, para atingi-lo, não
Houvesse tanto pudor a vencer."
65 a
"É com relação a Deus que demonstramos menos probidade: não lhe
Concedemos o direito de pecar."
66
"A tendência a humilhar-se, a deixar-se roubar, a enganar e explorar,
Essa tendência não poderia ser o pudor de um deus entre os homens?"
67
"O amor de um só é uma barbárie, pois se exerce em detrimento de todos
Os outros.
Mesmo o amor de Deus"
68
"Eu fiz isso", diz minha memória.
"Não pude fazer aquilo" - diz minha
Altivez, que permanece inflexível.
E finalmente é a memória que cede."
69
"Observou-se mal a vida, se ainda não se descobriu a mão que mata com
Luvas de veludo."
70
"Quando se tem caráter, tem-se na vida uma aventura típica que sempre se renova."
71
"O sábio como astrônomo -
Enquanto considerares as estrelas como
Algo que está "acima de ti", falta-te o olhar do conhecedor."
72
"Não é a força dos grandes sentimentos que faz os homens superiores,
Mas sua duração."
73
"Aquele que atinge o seu ideal, por isso mesmo o ultrapassa."
73 a
Certo pavão esconde sua cauda aos olhos de todos - e a chama seu
Orgulho."
74
"Um homem dotado de gênio é insuportável se, além disso, não possuir
Pelo menos duas outras qualidades: a gratidão e a cortesia."
75
"O grau e a espécie de sexualidade no homem atingem até o cume mais
Elevado de seu espírito."
76
"Em tempo de paz o homem belicoso se ataca a si mesmo."
77
"Com nossos princípios gostaríamos de tiranizar nossos hábitos ou
Justificá-los ou honrá-los ou maldizê-los ou escondê-los - dois homens
Com princípios iguais querem com isso alcançar algo fundamentalmente
Diferente."
78
"Quem despreza a si mesmo, se honra pelo menos como desprezador."
80
"Uma coisa que se explica deixa de interessar. -
O que queria dizer esse deus que aconselhava:
"Conhece-te a ti mesmo?"
Talvez quisesse dizer:
"Deixa de interessar-te por ti mesmo!
Torna-te objetivo!"
- E Sócrates?
E o "homem científico"?"
81
"É terrível morrer de sede no mar.
Deve-se, portanto, salgar a verdade,
De modo que não estanque nunca mais a sede!"
82
"Piedade para todos" - isso seria crueldade e tirania para ti, senhor meu
Vizinho!"
83
"O instinto - quando a casa está em chamas, esquece-se até de comer.
Mas depois se come sobre as cinzas."
84
"A mulher aprende a odiar à medida que desaprende a fascinar."
85
"As mesmas paixões têm um ritmo diferente no homem e na mulher: é
Por isso que o homem e a mulher jamais deixam de se desentender,"
86
"Mesmo as mulheres, no fundo de sua vaidade pessoal, têm sempre
Desprezo impessoal - pela "mulher."
87
"Coração acorrentado, espírito livre - quando se acorrenta fortemente
O coração e se o mantém preso, pode-se conceder muitas liberdades ao
Espírito.
Já o disse uma vez.
Mas ninguém quer acreditar em mim - é de se
Supor que já o sabia."
88
"Começa-se a desconfiar das pessoas muito sensatas, quando se mostram
Embaraçadas."
89
"As aventuras terríveis levam a pensar se aquele a quem lhe acontecem
Não é ele próprio alguém terrível."
90
"Os homens pesados, melancólicos se tornam mais leves por aquilo que
Torna os outros mais pesados, pelo ódio e pelo amor.
E desse modo sobem às vezes até à superfície."
91
"Tão frio, tão gelado que queima os dedos!
A mão que toca o recua de pavor!
- E é poe isso que alguns o acham ardente!"
92
"Quem ainda não se sacrificou pelo menos uma vez por sua boa reputação?"
93
"Na afabilidade não há misantropia, mas é por isso que se encontra tanto
Desprezo pelos homens."
94
"A maturidade do homem consiste em ter reencontrado a seriedade que
Tinha nos brinquedos quando era criança."
95
"Ter vergonha de sua moralidade é um degrau da escada em cujo topo
Se tem vergonha de sua moralidade."
96
"É preciso despedir-se da vida como Ulisses de Nausica - bendizendo-a
Mais que mostrar-se enamorado dela."
97
"Como!
Um grande homem?
Não consigo ver nele mais do que o comediante
De seu próprio ideal."
98
"Quando alguém quer amestrar a própria consciência, ela o abraça, mas
Mordendo."
99
"O desiludido fala -
"Espero um eco, mas só ouvi elogios.""
100
"Diante de nós mesmos fingimos todos ser mais simples do que realmente
Somos: assim não nos repousamos de nossos semelhantes."
101
"Hoje, um homem que busca o conhecimento poderia facilmente
Acreditar-se um deus que se torna animal."
102
"Descobrir que é correspondido no amor deveria abrir os olhos a
Respeito do fato de ser amado.
- "Como?
Seria coisa bastante modesta te
Amar?
Ou bastante tola?
- Ou ainda - ou ainda...""
103
"O perigo na felicidade - "agora, tudo vai bem; gosto de toda espécie de
Destino - quem tem vontade de ser meu destino?""
104
"Não é seu amor pela humanidade, mas a importância de seu amor pela
Humanidade que impede os cristãos de hoje - de nos jogar na fogueira."
105
"Por meio da música as paixões desfrutam de si próprias."
106
"Para o espírito livre, para aquele que possui a "religião do conhecimento"
- Pia fraus (piedosa fraude: (N. do T.) é mais contrária a seu gosto (à sua religiosidade)
Que a impia fraus. (impiedosa fraude (N. do T.)
Disso decorre sua profunda incompreensão da Igreja - como a
Própria sujeição do tipo "espírito livre"".
107
"Quando se toma uma decisão, é preciso tapar os ouvidos mesmo
Com melhores argumentos contrários.
É o indício de um caráter forte.
Quando oportuno, deve-se, portanto, fazer triunfar a própria vontade até
A estupidez."
108
"Não existem fenômenos morais, mas interpretações morais dos
Fenômenos."
109
O criminoso não está muitas vezes à altura do seu ato: ele o
Amesquinha e o calunia."
110
"Os advogados de um criminoso são raramente bastante artistas para
Utilizar, em proveito do culpado, a beleza terrível do seu ato."
111
"É quando nosso orgulho acaba de ser ferido que é mais difícil ferir
Nossa vaidade."
112
"Aquele que se sente predestinado à contemplação e não à fé, acha todos
Os crentes ardentes e inoportunos: procura evitá-los."
113
"Queres dispor alguém em teu favor?
Finge-te embaraçado diante dele."
114
"A enorme expectativa no amor sexual e a vergonha dessa expectativa
Estraga de uma só vez na mulher todas as perspectivas."
115
"Quando o amor e o ódio não estão em jogo, a mulher joga de
Maneira medíocre".
116
"As grandes épocas de nossa vida são aquelas em que temos a coragem
De considerar o que é mau em nós como aquilo que temos de melhor."
117
"A vontade de superar uma paixão não é, em definitivo, senão a vontade
De outra ou de muitas outras paixões."
118
"Existe uma ingenuidade na admiração.
É aquela do homem que não
Considera a possibilidade de ele também poder ser admirado um dia."
119
"O nojo da sujeira pode ser tão grande que impede de nos purificar - de
Nos "justificar"."
120
"A sensualidade muitas vezes ultrapassa o crescimento do amor, de tal
Forma que a raiz permanece fraca e fácil de arrancar."
121
"Há em Deus uma questão delicada por ter aprendido grego quando quis
Ser escritor - a de não tê-lo aprendido melhor."
122
"Regozijar-se por um elogio não passa muitas vezes de uma cortesia do
Coração - e o contrário de uma vaidade do espírito."
123
"Também o concubinato foi corrompido - pelo matrimônio."
124
"Aquele que se regozija ainda na fogueira, não triunfa da dor, mas do
Fato de não sentir a dor onde esperava.
Um símbolo."
125
"Quando somos obrigados a mudar de opinião a respeito de alguém,
Fazemos com que pague caro o embaraço que nos causa."
126
"Um povo é o desvio da natureza para chegar a seis ou sete grandes
Homens.
- Sim, e em seguida deixá-los de lado,"
127
"Para as verdadeiras mulheres, a ciência é despudorada.
Elas têm a impressão de que são olhadas por debaixo da pele
- Pior ainda! por baixo das roupas."
128
"Quanto mais abstrata a verdade que queres ensinar, mais deverás seduzir
Os sentidos."
129
"O diabo tem as mais amplas perspectivas com relação a Deus, por isso
Se mantém tão distante dele.
- O diabo, isto é, o mais antigo amigo do
Conhecimento."
Nietzsche's; BH, 080202011.
Logo após a experiência!
"Mesmo os grandes espíritos não tem uma experiência mais
Larga do que cinco dedos - logo depois cessa a reflexão e seu vazio
Indefinido, suas asneiras, começam."
A ilusão da ordenação moral do mundo
"Não há qualquer necessidade eterna que exija que toda a falta
Seja expiada e paga - crer nessa necessidade era precisamente uma
Terrível ilusão, apenas útil: - do mesmo modo que é uma ilusão
Crer que tudo o que é considerado como falta é na realidade uma.
Não são as coisas que pertubaram de tal forma os homens, mas
As opiniões sobre coisas que não existem."
Os sedentários e os homens livres
"É somente nos infernos que nos é mostrada alguma coisa do sombrio
Pano de fundo de toda essa felicidade de aventureiro que envolve Ulisses
E seus companheiros como de uma eterna luminosidade - desse pano de
Fundo que nunca mais podemos esquecer: a mãe de Ulisses morreu de
Desgosto e do desejo de rever seu filho!
Um é impelido de lugar para lugar
E é isso que parte o coração do outro, do ser terno e sedentário!
A aflição parte o coração daqueles que vêem seu ente mais querido abandonar as
Ideias e a fé do passado - tudo isso faz parte da tragédia que os espíritos
Livres criam - essa tragédia de que estes algumas vezes têm conhecimento!
Então deverá ocorrer de serem forçados, como Ulisses, a descer entre os
Mortos para lhes aliviar seu desgosto e tranqulizar sua ternura."
"Mesmo os grandes espíritos não tem uma experiência mais
Larga do que cinco dedos - logo depois cessa a reflexão e seu vazio
Indefinido, suas asneiras, começam."
A ilusão da ordenação moral do mundo
"Não há qualquer necessidade eterna que exija que toda a falta
Seja expiada e paga - crer nessa necessidade era precisamente uma
Terrível ilusão, apenas útil: - do mesmo modo que é uma ilusão
Crer que tudo o que é considerado como falta é na realidade uma.
Não são as coisas que pertubaram de tal forma os homens, mas
As opiniões sobre coisas que não existem."
Os sedentários e os homens livres
"É somente nos infernos que nos é mostrada alguma coisa do sombrio
Pano de fundo de toda essa felicidade de aventureiro que envolve Ulisses
E seus companheiros como de uma eterna luminosidade - desse pano de
Fundo que nunca mais podemos esquecer: a mãe de Ulisses morreu de
Desgosto e do desejo de rever seu filho!
Um é impelido de lugar para lugar
E é isso que parte o coração do outro, do ser terno e sedentário!
A aflição parte o coração daqueles que vêem seu ente mais querido abandonar as
Ideias e a fé do passado - tudo isso faz parte da tragédia que os espíritos
Livres criam - essa tragédia de que estes algumas vezes têm conhecimento!
Então deverá ocorrer de serem forçados, como Ulisses, a descer entre os
Mortos para lhes aliviar seu desgosto e tranqulizar sua ternura."
Nietzsche, A ponderação aliada à ignorância; BH, 060202011.
Por toda parte onde compreendemos, tornamo-nos
Gentis, felizes, inventivos e por toda a parte onde aprendemos
Suficientemente e onde educamos a vista e o ouvido, nosso
Espírito se mostra cheio de desembaraço e de graça.
Mas compreendemos tão poucas coisas e somos tão miseravelmente
Instruídos que raramente acontece que abracemos uma coisa e
Ao mesmo tempo nos tornemos dignos de amor: antes, rígidos
E insensíveis, atravessamos a cidade, a natureza e a história
E nos orgulhamos dessa atitude e dessa frieza, como se elas
Fossem o efeito da superioridade.
Nossa ignorância e nossa medíocre sede de saber se dispõem
Muito bem para assumir a máscara da dignidade e do caráter.
Gentis, felizes, inventivos e por toda a parte onde aprendemos
Suficientemente e onde educamos a vista e o ouvido, nosso
Espírito se mostra cheio de desembaraço e de graça.
Mas compreendemos tão poucas coisas e somos tão miseravelmente
Instruídos que raramente acontece que abracemos uma coisa e
Ao mesmo tempo nos tornemos dignos de amor: antes, rígidos
E insensíveis, atravessamos a cidade, a natureza e a história
E nos orgulhamos dessa atitude e dessa frieza, como se elas
Fossem o efeito da superioridade.
Nossa ignorância e nossa medíocre sede de saber se dispõem
Muito bem para assumir a máscara da dignidade e do caráter.
Nietzsche, Viver facilmente; BH, 050202011.
O melhor modo de viver de modo fácil e despreocupado é
Aquele do pensador: pois, para dizer de improviso as coisas mais
Importantes, tem sobretudo necessidade das coisas que os outros
Desdenham e abandonam.
- De resto, ele se alegra facilmente e
Desconhece os custosos meios de acesso ao prazer; seu trabalho
Não é duro, mas, de alguma forma, meridional; seus dias e suas
Noites não são estragados pelo remorso; ele se move, come, bebe
E dorme, observando um comedimento que convém a seu espírito,
Para que este se torne sempre mais tranquilo, forte e lúcido; seu
Corpo é para ele fonte de alegria e não tem nenhuma razão para
Temê-lo; não tem necessidade de companhia, a não ser de tempos
Em tempos, para em seguida abraçar com mais ternura ainda sua
Solidão; os mortos têm para ele o lugar de vivos e até mesmo para
Substituir seus amigos, evocando entre os mortos os melhores
Que algum dia viveram.
- Questionemos de uma vez, se não são
Os desejos e os hábitos opostos que tornam custosa a vida dos
Homens e, por conseguinte, penosa e muitas vezes insuportável.
- Em outro sentido, no entanto, a vida do pensador é a mais
Custosa - nada é bom demais para ele; e ser privado precisamente
Do melhor seria para ele uma privação insuportável.
Aquele do pensador: pois, para dizer de improviso as coisas mais
Importantes, tem sobretudo necessidade das coisas que os outros
Desdenham e abandonam.
- De resto, ele se alegra facilmente e
Desconhece os custosos meios de acesso ao prazer; seu trabalho
Não é duro, mas, de alguma forma, meridional; seus dias e suas
Noites não são estragados pelo remorso; ele se move, come, bebe
E dorme, observando um comedimento que convém a seu espírito,
Para que este se torne sempre mais tranquilo, forte e lúcido; seu
Corpo é para ele fonte de alegria e não tem nenhuma razão para
Temê-lo; não tem necessidade de companhia, a não ser de tempos
Em tempos, para em seguida abraçar com mais ternura ainda sua
Solidão; os mortos têm para ele o lugar de vivos e até mesmo para
Substituir seus amigos, evocando entre os mortos os melhores
Que algum dia viveram.
- Questionemos de uma vez, se não são
Os desejos e os hábitos opostos que tornam custosa a vida dos
Homens e, por conseguinte, penosa e muitas vezes insuportável.
- Em outro sentido, no entanto, a vida do pensador é a mais
Custosa - nada é bom demais para ele; e ser privado precisamente
Do melhor seria para ele uma privação insuportável.
Nietzsche, retalhos; BH, 050202011.
Não esquecer!
"Quanto mais nos elevamos, menores parecemos aos olhos
Daqueles que não sabem voar"
Mudar de pele
"A serpente que não pode mudar de pele morre.
De igual modo os espíritos que impedidos de mudar
De opinião deixam de ser espíritos."
A vida deve nos tranquilizar
"Se, como o pensador, vivemos habitualmente na grande
Corrente das ideias e dos sentimentos e mesmo que nossos sonhos
Durante a noite sigam essa corrente, pedimos à vida, calma e
Silêncio - enquanto outros querem justamente descansar da vida
Quando se entregam à meditação"
Farmácia militar da alma
"Qual o remédio mais eficaz?
- A vitória"
Perdas
"Certas perdas comunicam à alma uma sublimidade que a
Leva a se abster de toda queixa e caminhar em silêncio, como
Altos cipestres negros"
Aos solitários
"Se não pouparmos a honra dos outros tanto em nossos
Solilóquios como em público, somos desonestos."
Poeta e pássaro
"A Fênix mostrou ao poeta um rolo inflamado que se reduzia a cinzas.
"Não te assustes, disse, é a tua obra!
Ela não tem o espírito do tempo e ainda menos o espírito daqueles que
Vão contra o tempo: por conseguinte, é necessário que seja queimada.
Mas é bom sinal: há muitas espécies de auroras.""
Em campanha
""Devemos tomar as coisas mais alegremente do que merecem;
Especialmente porque as levamos a série mais tempo do que o merecem"
- Assim falam os bravos soldados do conhecimento"
"Quanto mais nos elevamos, menores parecemos aos olhos
Daqueles que não sabem voar"
Mudar de pele
"A serpente que não pode mudar de pele morre.
De igual modo os espíritos que impedidos de mudar
De opinião deixam de ser espíritos."
A vida deve nos tranquilizar
"Se, como o pensador, vivemos habitualmente na grande
Corrente das ideias e dos sentimentos e mesmo que nossos sonhos
Durante a noite sigam essa corrente, pedimos à vida, calma e
Silêncio - enquanto outros querem justamente descansar da vida
Quando se entregam à meditação"
Farmácia militar da alma
"Qual o remédio mais eficaz?
- A vitória"
Perdas
"Certas perdas comunicam à alma uma sublimidade que a
Leva a se abster de toda queixa e caminhar em silêncio, como
Altos cipestres negros"
Aos solitários
"Se não pouparmos a honra dos outros tanto em nossos
Solilóquios como em público, somos desonestos."
Poeta e pássaro
"A Fênix mostrou ao poeta um rolo inflamado que se reduzia a cinzas.
"Não te assustes, disse, é a tua obra!
Ela não tem o espírito do tempo e ainda menos o espírito daqueles que
Vão contra o tempo: por conseguinte, é necessário que seja queimada.
Mas é bom sinal: há muitas espécies de auroras.""
Em campanha
""Devemos tomar as coisas mais alegremente do que merecem;
Especialmente porque as levamos a série mais tempo do que o merecem"
- Assim falam os bravos soldados do conhecimento"
Nietzsche, Nós, aeronautas do espírito; BH, 040202011.
Todas essas ousadas aves que voam para espaços distantes,
Sempre mais distantes - virá certamente um momento em que não
Poderão ir mais longe e vão pousar sobre um mastro ou sobre um
Árido recife - bem felizes ainda por encontrarem esse miserável refúgio!
Mas quem teria o direito de concluir disso que diante delas não se abre
Uma imensa via livre e sem fim e que voaram para tão longe quanto é possível voar?
Entretanto, todos os nossos grandes iniciadores e todos os nossos precursores
Acabaram por parar e o gesto da fadiga que pára não é das atitudes mais nobres
E mais graciosas: isso vai acontecer tanto para mim como para ti!
Mas que me importa e que te importa!
Outras aves voarão mais longe!
Este pensamento, essa fé que nos anima, torna seu impulso, rivaliza
Com elas, voa sempre mais longe, mais alto, se lança diretamente
Para o ar, acima de nossa cabeça e da impotência de nossa cabeça
E do alto do céu vê na imensidão do espaço, vê agrupamentos de
Aves bem mais poderosas que nós e que se lançaram na direção para
A qual nos lançamos, onde tudo ainda é só mar, mar, e sempre mar!
- Para onde então queremos ir?
Queremos ultrapassar o mar?
Para onde nos arrasta essa poderosa paixão que para nós conta
Mais que qualquer outra paixão?
Por que esse voo perdido nessa direção, para o ponto onde até
Agora todos os sóis declinaram e se extinguiram?
Dir-se-à talvez um dia que nós também, dirigindo-nos
Sempre para o oeste, esperávamos atingir uma Índia desconhecida
- Mas que era nosso destino encalhar diante do infinito?
Ou então, meus irmãos.
Ou então?
Sempre mais distantes - virá certamente um momento em que não
Poderão ir mais longe e vão pousar sobre um mastro ou sobre um
Árido recife - bem felizes ainda por encontrarem esse miserável refúgio!
Mas quem teria o direito de concluir disso que diante delas não se abre
Uma imensa via livre e sem fim e que voaram para tão longe quanto é possível voar?
Entretanto, todos os nossos grandes iniciadores e todos os nossos precursores
Acabaram por parar e o gesto da fadiga que pára não é das atitudes mais nobres
E mais graciosas: isso vai acontecer tanto para mim como para ti!
Mas que me importa e que te importa!
Outras aves voarão mais longe!
Este pensamento, essa fé que nos anima, torna seu impulso, rivaliza
Com elas, voa sempre mais longe, mais alto, se lança diretamente
Para o ar, acima de nossa cabeça e da impotência de nossa cabeça
E do alto do céu vê na imensidão do espaço, vê agrupamentos de
Aves bem mais poderosas que nós e que se lançaram na direção para
A qual nos lançamos, onde tudo ainda é só mar, mar, e sempre mar!
- Para onde então queremos ir?
Queremos ultrapassar o mar?
Para onde nos arrasta essa poderosa paixão que para nós conta
Mais que qualquer outra paixão?
Por que esse voo perdido nessa direção, para o ponto onde até
Agora todos os sóis declinaram e se extinguiram?
Dir-se-à talvez um dia que nós também, dirigindo-nos
Sempre para o oeste, esperávamos atingir uma Índia desconhecida
- Mas que era nosso destino encalhar diante do infinito?
Ou então, meus irmãos.
Ou então?
Nietzsche, Do alto dos montes; BH, 030202011.
Oh! Meio-dia da minha vida!
Hora solene!
Oh! jardim de verão!
Felicidade inquieta, de pé na ansiedade e à espera;
Espero meus amigos, pronto noite e dia,
Onde estão, meus amigos?
Venham!
É tempo, é hora!
Não é por vocês que o cinza do gelo
Hoje se enfeitou de rosas?
O riacho os procura; e mais alto,
O vento e as nuvens se comprimem no azul
Para ver de longe sua chegada como voo de pássaro.
Nas alturas a mesa está posta para vocês:
Quero viver mais perto das estrelas,
Tão perto dos sombrios abismos?
Que reino seria mais vasto que o meu?
E de meu mel - quem dele provou?
Aqui estão, amigos! -
Ai! não é para mim
Que querem vir?
Hesitam surpresos - ah! vocês se incomodam?
Não sou mais eu?
Não é mais meu rosto, meu andar?
E o que eu sou, amigos - não o seria para vocês?
Serei outro?
Estranho a mim mesmo?
Fugido de mim mesmo?
Lutador que muitas vezes teve de se superar?
Que muitas vezes lutou contra a própria força,
Ferido e detido por suas próprias vitórias?
Procurei acaso onde a brisa era mais forte?
Aprendi a viver ali,
Onde ninguém mora, nos desertos áridos do urso polar?
Não esqueci Deus, o homem, a blasfêmea e a oração?
Eu, fantasma errante das geleiras?
- Meus velhos amigos!
Vejam!
Vocês empalidecem,
Com um calafrio de amor!
Não sem rancor!
Avante, para vocês nada de repouso:
Aqui, nesses reinos das geleiras e dos rochedos!
Aqui é preciso ser caçador e igual ao cervo!
Fui um malvado caçador!
Vejam como meu arco
Tem sua corda totalmente distendida!
Pois foi o mais forte que disparou a flecha.
Mas azar de vocês!
Essa flecha é perigosa
Como nenhuma flecha - ah! fujam para seu bem!
Fogem? -
Ó coração, é o que basta,
Tua esperança ainda se mantém firme:
Deixa abertas tuas portas para novos amigos!
Abandona os amigos!
Larga suas lembranças!
Se foste jovem, aí estás - bem mais jovem!
O que jamais nos une, o laço de uma só esperança,
Quem lê os sinais
Pálidos que outrora o amor escreveu?
É como o pergaminho que a mão
Receia tocar - enegrecido, queimado como ele.
Não são mais amigos, são - que digo? -
Fantasmas de amigos!
Às vezes à noite batem em meu coração, em minha janela
Olham para mim e dizem:
- "Somos nós"!
Oh! palavras fenecidas, vocês tinham odor de rosas!
Ó saudade de juventude que não se compreendeu!
Aqueles que eu procurava,
Aqueles que achava que eram meus parentes e transformados,
Envelheciam no entanto, era o que os baniu:
Somente aquele que se transforma permanece meu parente.
Ó meio-dia, ó segunda juventude,
Ó jardim de verão!
Felicidade inquieta, em pé na ansiedade e na espera!
Espero os amigos, prontos dia e noite,
Os novos amigos!
Venham, pois é tempo!
A canção terminou - o doce grito do desejo
Morreu em minha boca:
Era um encantador, o amigo do bom momento,
O amigo do meio-dia - não, não me perguntem quem -
Ele era meio-dia, quando um se tornou dois...
Celebramos juntos agora, certos da vitória,
A festa das festas:
Zaratustra veio, o amigo, o hóspede dos hóspedes!
O mundo ri, a cortina negra se rasgou,
A luz na obscuridade se uniu...
Hora solene!
Oh! jardim de verão!
Felicidade inquieta, de pé na ansiedade e à espera;
Espero meus amigos, pronto noite e dia,
Onde estão, meus amigos?
Venham!
É tempo, é hora!
Não é por vocês que o cinza do gelo
Hoje se enfeitou de rosas?
O riacho os procura; e mais alto,
O vento e as nuvens se comprimem no azul
Para ver de longe sua chegada como voo de pássaro.
Nas alturas a mesa está posta para vocês:
Quero viver mais perto das estrelas,
Tão perto dos sombrios abismos?
Que reino seria mais vasto que o meu?
E de meu mel - quem dele provou?
Aqui estão, amigos! -
Ai! não é para mim
Que querem vir?
Hesitam surpresos - ah! vocês se incomodam?
Não sou mais eu?
Não é mais meu rosto, meu andar?
E o que eu sou, amigos - não o seria para vocês?
Serei outro?
Estranho a mim mesmo?
Fugido de mim mesmo?
Lutador que muitas vezes teve de se superar?
Que muitas vezes lutou contra a própria força,
Ferido e detido por suas próprias vitórias?
Procurei acaso onde a brisa era mais forte?
Aprendi a viver ali,
Onde ninguém mora, nos desertos áridos do urso polar?
Não esqueci Deus, o homem, a blasfêmea e a oração?
Eu, fantasma errante das geleiras?
- Meus velhos amigos!
Vejam!
Vocês empalidecem,
Com um calafrio de amor!
Não sem rancor!
Avante, para vocês nada de repouso:
Aqui, nesses reinos das geleiras e dos rochedos!
Aqui é preciso ser caçador e igual ao cervo!
Fui um malvado caçador!
Vejam como meu arco
Tem sua corda totalmente distendida!
Pois foi o mais forte que disparou a flecha.
Mas azar de vocês!
Essa flecha é perigosa
Como nenhuma flecha - ah! fujam para seu bem!
Fogem? -
Ó coração, é o que basta,
Tua esperança ainda se mantém firme:
Deixa abertas tuas portas para novos amigos!
Abandona os amigos!
Larga suas lembranças!
Se foste jovem, aí estás - bem mais jovem!
O que jamais nos une, o laço de uma só esperança,
Quem lê os sinais
Pálidos que outrora o amor escreveu?
É como o pergaminho que a mão
Receia tocar - enegrecido, queimado como ele.
Não são mais amigos, são - que digo? -
Fantasmas de amigos!
Às vezes à noite batem em meu coração, em minha janela
Olham para mim e dizem:
- "Somos nós"!
Oh! palavras fenecidas, vocês tinham odor de rosas!
Ó saudade de juventude que não se compreendeu!
Aqueles que eu procurava,
Aqueles que achava que eram meus parentes e transformados,
Envelheciam no entanto, era o que os baniu:
Somente aquele que se transforma permanece meu parente.
Ó meio-dia, ó segunda juventude,
Ó jardim de verão!
Felicidade inquieta, em pé na ansiedade e na espera!
Espero os amigos, prontos dia e noite,
Os novos amigos!
Venham, pois é tempo!
A canção terminou - o doce grito do desejo
Morreu em minha boca:
Era um encantador, o amigo do bom momento,
O amigo do meio-dia - não, não me perguntem quem -
Ele era meio-dia, quando um se tornou dois...
Celebramos juntos agora, certos da vitória,
A festa das festas:
Zaratustra veio, o amigo, o hóspede dos hóspedes!
O mundo ri, a cortina negra se rasgou,
A luz na obscuridade se uniu...
Nietzsche, Oração ao deus desconhecido; BH, 0170102011.
Antes de prosseguir em meu caminho
E lançar o meu olhar para a frente,
Uma vez mais elevo, só, minhas mãos
A ti de quem eu fujo.
A ti das profundezas do meu coração,
Tenho dedicado altares festivos para que,
Em cada momento, tua voz me
Pudesse chamar.
Sobre esses altares estão gravadas em fogo
Palavras: ao deus desconhecido.
Teu, sou eu, embora até o presente
Tenho me associado aos sacrilégios.
Teu, sou eu, não obstante os laços que
Me puxam para o abismo.
Mesmo querendo fugir, sinto-me
Forçado a servir-te;
Eu quero te conhecer, desconhecido
Tu, que me penetras a alma e,
Qual turbilhão invades a minha vida.
Tu, o incompreensível, mas meu semelhante,
Quero te conhecer, quero sevir só a ti.
E lançar o meu olhar para a frente,
Uma vez mais elevo, só, minhas mãos
A ti de quem eu fujo.
A ti das profundezas do meu coração,
Tenho dedicado altares festivos para que,
Em cada momento, tua voz me
Pudesse chamar.
Sobre esses altares estão gravadas em fogo
Palavras: ao deus desconhecido.
Teu, sou eu, embora até o presente
Tenho me associado aos sacrilégios.
Teu, sou eu, não obstante os laços que
Me puxam para o abismo.
Mesmo querendo fugir, sinto-me
Forçado a servir-te;
Eu quero te conhecer, desconhecido
Tu, que me penetras a alma e,
Qual turbilhão invades a minha vida.
Tu, o incompreensível, mas meu semelhante,
Quero te conhecer, quero sevir só a ti.
Meu Nietzsche anticristo; BH, 0201202010; Publicado: BH, 0230902011.
A maior parte do tempo que passei foi a de desempregado
Do tempo é por isso que mato o tempo a lançar palavras
Ao vento velho vento que ninguém sabe donde veio nem
Para aonde irá velho vento a levar velhas palavras desde
A primeira a ser dita até a última gerada que já sai
Envelhecida engessada pelo reumatismo nas
Articulações velho universo dizem que só tem alguns
Bilhões de anos de palavras de sons ecos caos cacos
Velhos velhos sem esperanças que têm as aposentadorias
Abocanhadas por todos velhas oligarquias velhos políticos
Que nem as operações plásticas os botox outros truques
Conseguem renovar velhas religiões a prometerem a
Neófitos carolas céus paraísos velhas igrejas modernas
Todas com contas correntes em bancos que grande
Incongruência que maior hipocrisia casamentos de
Bancos com igrejas com tecnologias avançadíssimas
Para que sejam depositadas as indulgências as ofertas
Medievais que garantirão a salvação dos fiéis novos
Pastores feudais com velhas práticas não se acanham
Nem se envergonham pois sabem que o Deus deles
Também não está nem aí para as velhas manias que
Defendem em novos altares púlpitos brilhantes cheios
De luzes de refletores ofuscantes ainda bem que tenho
Um Nietzsche anticristo vivo lá em casa no fundo do
Quarto escuro na aurora com janelas trancadas enjaulado
A uivar que fala com sons cavernosos a esmurrar paredes
Muros que me mostra todo dia Zaratustra a passar de costas
No fundo do monte em chamas...