segunda-feira, 31 de março de 2014

Qual o mistério François-Marie Arouet Voltaire? BH, 0801202013; Publicado: BH, 0310302014.

Qual o mistério François-Marie Arouet Voltaire?
Com toda a filosofia que deixou à humanidade
Morreu a comer os próprios excrementos Friedrich
Nietzsche contestador filósofo erudito alemão
Morreu louco depois de honrar a raça humana
Com todas as suas obras-primas Marcel Proust
Morreu doente solitário num quarto só em
Companhia duma colaboradora Michel de
Montaigne mijava sangue puro Miguel de
Cervantes vários anos encarcerado Vincent
Van Gogh suicidou-se depois de crise de
Loucura na antiguidade Sócrates condenado
A beber cicuta todos nos deixaram suas
Belas obras de arte esses homens de luz
Tiveram um futuro escuro gênios das letras
Das palavras da filosofia das tintas do
Pensamento tiveram um final de vida não
Digno dum ser humano qual a razão desses
Mistérios? qual a chave desses segredos?
Qual a causa dessas maldições? desses
Estigmas? passar tanta luz tanta lucidez
Tanto discernimento morrer como um
Traste um lixo um molambo ou farrapo
Como uma roupa velha pano de chão
Muitos eram guerreiros heróis de
Batalhas homens de duelos de lutas
Desenfreadas de embates de coragem,
Provas de destemor é uma pena é triste
Mesmo o que o futuro faz com o passado

Para que fazer as coisas com ansiedade com pressa? BH, 01201202013; Publicado: BH, 0310302014.

Para que fazer as coisas com ansiedade com pressa?
Para que angústia agonia desespero pânico?
É preciso que a calma entre na alma
A serenidade no espírito
Não importa se o outro é deprimido
Ansioso desesperado apressado
Ceda a vez para quem quer morrer na frente
Ceda a vez para quem tem pressa em morrer
Em correr para a morte
As conquistas que são prioridades da luta
Ninguém quer mais saber
Por mais que as cadeias estão superlotadas
Mais crimes são cometidos
Muitas vezes por reincidentes
Ou os que a justiça dalguma forma
Livrou das grades
O cara insatisfeito com a liberdade
Faz de tudo para ser preso de novo
A consciência sem a inconsciência
Que é a base da sobrevivência
Com a educação a cultura a saúde
Não se faz mais questão
Não importa-se com a razão
Política
Que aquecia os debates
Jaz esquecida
Os falsos políticos apoderam-se da política
Como os falsos profetas da religião
Tudo virou questão pessoal
Deixou-se de lado a questão social
Põe-se soda cáustica em leite muçarela
Desvia-se verba da saúde
Paga-se com dinheiro da educação
Espaços na grande mídia
Fazem-se isso como se todos estivessem num paraíso

Nós seres humanos existimos; BH, 01201202013; Publicado: BH, 0310302014.

Nós seres humanos existimos
Para rir da cara duns doutros
Nós da raça humana nascemos
Para debochar zombar duns doutros
Nós a humanidade vivemos uma ópera bufa
Uma tragicomédia
Desde da idade média
Da época medieval
O nosso intento é colocar chifres
Nas cabeças duns doutros
Há os que são ainda os mais estúpidos
Os mais brutos
Os mais ignorantes
Que são os que só querem levar a coisa a sério
Tudo para eles são batalhas
Guerras terrorismos atentados
Bombardeios tiroteios drones
Todos os tipos de violências
Esses não parecem que são semelhantes
O riso não existe
A brincadeira não presta
As gargalhadas atrapalham
A paz envergonha
São também componentes da humanidade
Mas a desprezam
Não bebem vinho
Não bebem cerveja
Não ficam loucos
Rezam sem parar
Não param nem para amar ao próximo
A raça humana precisa voltar aos tempos das óperas bufas
Das tragicomédias voltar a rir
Voltar a sorrir parar de rezar
Parar de orar de pedir a Deus
Que tenha pena dela
Passar a amar mais o ser humano

Os elementos que nos formam; BH, 01301202013; Publicado: BH, 0310302014.

Os elementos que nos formam
Os organismos que nos engendram
Os universos que nos compõem
Conspiram ao nosso engrandecimento
Quem diz que queremos crescer
Quem diz que queremos nos agigantar
Aproveitar nossos esqueletos de marfim
Nossas ossadas milenares
Nossas caveiras risonhas
Quem diz que queremos iluminar nossos espíritos
Clarear nossas almas nas trevas
A estupidez não deixa
Pensamos em voar nos derruba
Pensamos em levantar do chão
A ignorância não deixa
A insensatez nos prostra por terra inóspita
Por terreno insólito
Agressor ao nosso desenvolvimento
Cometemos absurdidades que já foram banidas da época medieval
Agimos como se fossemos senhores feudais
Queremos fazer dos próximos os nosso vassalos
Se a nossa civilização é moderna
O nosso comportamento é atrasado
Falta-nos consciência civilidade cidadania
Fazemos questões de apresentar comportamentos
Incompatíveis inconvenientes indiscretos
Quebramos as regras elementares dos elementos
Que causarão a nossa própria morte
Desorganizamos os organismos
Não pensamos nas consequências
Depois só nos resta chorar
Maldizer blasfemar
Olhar os céus com raiva
Sem sequer perturbar um ramo de folhagem
Com a nossa falsa indignação

A vida acaba antes de começar; BH, 01301202013; Publicado: BH, 0310302014.

A vida acaba antes de começar
Quando o ser pensa que é ser
Acorda pó
A vida acaba bem mais cedo do que o esperado
É curta grossa
E não manda recado
Não tira retrato
Não grava imagem
Não deixa som nos ouvidos depois dos tímpanos
Não deixa eco na alma
Nem cheiro no espírito
A vida é um pito
Que o universo passa a cada ser
Que não sabe viver
A vida quer que cada ser a prolongue
Dum mendigo a dum bilionário
Ávida
A vida espera que cada um cumpra o seu dever
De aumentá-la
A vida quer crescer em cada um
O que cada ser sabe fazer
É totalmente ao contrário diminui-la
Levá-la ao rés-do-chão
O que cada ser sabe fazer
É torná-la turva
Ensombrecê-la ofuscá-la
O que faz com que a vida sinta vontade
De acabar antes de crescer
A vida é um mar
É um universo
É o que a vida quer
Que cada um faça dela
Um mar um universo
A vida não quer nem acabar

domingo, 30 de março de 2014

Quero me convencer; BH, 02501202013; Publicado: BH, 0300302014.

Quero me convencer
Ou me converter a mim mesmo
A me provar
Que também posso ser humano
Também posso ambicionar
Ser soberbo
Orgulhoso vaidoso
Quero ser desta mesma raça humana
Sentir inveja ter orgulho
Ter maldade dentro do peito
Normalmente
Como todo ser humano tem
Sem entrar em depressão
Sem entrar em remorso
Quero chocar da mesma ruindade
Praticar a mesma malvadeza
Deitar a cabeça no travesseiro
Com a consciência do serviço completo
Quero falar mal de todo mundo
Com o mesmo sorriso
Sem o abalo na voz
Como a humanidade fala do seu semelhante
Quero ter olho grande
Mau-olhado
Torcer como todo mundo torce
Para que o outro se dê mal
O próprio se dê bem
Que os sete pecados capitais sejam poucos
Que sou o que cometa infinitas vezes mais pecados
Como qualquer pecador deste planeta
Sem envergonhar-me
Sem ruborizar-me
Afinal de contas,
Todos depois posam com caras de santos
Lotam as igrejas
Saem de lá revigorados
A cometer muito mais pecados
Preciso urgentemente me convencer
Converter-me a mim
Também sou filho de Deus

Alguns querem despertar a alegria numa ode; BH, 02101202013; Publicado: BH, 0300302014.

Alguns querem despertar a alegria numa ode
Bebem vinho
Bebem muito vinho
Ficam embriagados
Perdem a lucidez
Outros querem despertar os músculos
Usam bombas de esteroides anabolizantes
Levantam pesos
Malham em academias
Outrem querem despertar a libido
Usam viagra cialis
Afrodisíacos doutros estimulantes
Se pudesse escolher diria que
O que quero despertar é a escrita
Gritar para as letras
Levantem andem ganhem vida
Gritar para as palavras falem
Mas sou mesmo um Lázaro
Dependo dos altos
Dos universos insondáveis
Não tenho como despertar a escrita
Que já nasce natimorta
Já nasce escrita defunta
Com cheiro de cadáver
Com ares sepulcrais
De cemitérios de féretros
De enterros de semblantes fúnebres
Macabros duma escrita que é réquiem
Por si só suicida mórbida
Nunca se transformará numa Ode Triunfal
Numa Ode à Alegria
Numa Ode Marcial
Numa Ode às Obras de Arte
Numa Ode às Obras-Primas
Será sempre uma Elegia
Uma funesta onde nunca terei
Como ressuscitá-la pois durmo
Não acordo dos pesadelos estranhos

sexta-feira, 28 de março de 2014

Acredita minha mãe me surpreendeu hoje; BH, 01901202013; Publicado: BH, 0280302014.

Acredita minha mãe me surpreendeu hoje
Sentada na cadeira de rodas no quintal
Ao perguntar-me do nada
Por que o céu é azul? sem brincadeira
Falei a senhora sabia que essa frase
Já foi dita por um poeta inglês?
Continuei só que ele disse
Because the sky is blue
Lógico que a minha mãe não entendeu nada
Está com noventa sete anos
Mesmo assim queria saber
Por que o céu era azul
Disse à minha mãe que o céu não era azul
Que era a distância o infinito
Que davam essa tonalidade
Aí matou-me de brincadeira
Depois de velho ficaste inteligente
Aí ri respondi
Então quando era criança
Era burro
Rimos a valer
Depois inda veio outra encarnação
De quando me ensinava matemática
Perguntava-me
Dois vezes dois?
Dois vezes dois mamãe?
Eu pergunto tu respondes
Toma um vidro de Gammar
Dois vezes dois?
Não acertava
Toma um vidro de Memoriol
Tornamos a rir até dizer chega
Grande figuraça a velhinha da minha mãe
Dos altos dos seus noventa sete anos
Quando está de bom humor

Não leio mais nada; BH, 01901202013; Publicado: BH, 0280302014.

Não leio mais nada
Não leio nem mais um livro
Não encontro no meu meio
Quem gosta de leitura de literatura
É a dura realidade
O homem é produto do meio
Quando no meio em que vive
Tudo leva à aversão aos livros
O homem também passa a viver longe dos livros
Um homem sem livro
Como poderia ser definido?
Um homem sem leitura sem literatura
Onde seria enquadrado?
Torcidas organizadas de times de futebol?
Coxinhas de direita formados pela mídia medieval?
Assinantes das revistonas dos jornalões?
Telespectadores das televisões jornais eletrônicos do
PIG Partido da Imprensa Golpista?
Qual conceito caberia a um homem sem biblioteca?
A um homem sem escrita?
Militantes dos partidos da oposição?
Apreciadores dos ministros do STF
Supremo Tribunal Federal?
Esses são os caminhos dum apedeuta
Não quero nunca seguir um caminho desse
Que faz apologia à Ditadura
Que navega contra o povo trabalhador brasileiro
Nunca quererei fazer parte dessa direita raivosa
Feliciana malafaiana bolsonariana
Preciso teimar voltar a ler alguma coisa
Ou serei um morto também

quinta-feira, 27 de março de 2014

Llewellyn Medina, Omnia meum mecum porto.

Omnia meum mecum porto



Aproxima-se a hora de fechar
o balanço de vida minha
se houver sobra é indevida

a hora que se aproxima
se anuncia sutilmente
vista cansada
andar trôpego
lembrança esmaecida
aproxima-se a hora de fechar
o balanço de minha vida

a farfalhar sutilmente
brisa do crepúsculo
calma serena
a soprar tenuemente
anuncia gravemente
chegada é a hora de encerrar
o balanço de minha vida.

Llewellyn Medina, Eu e meus fantasmas.

Eu e meus fantasmas



Acompanham-me os fantasmas meus
acompanham-me noite e dia
acompanham-me mais nas noites frias
de meus dias tristes noites vazias
acompanham-me meus fantasmas
nas noites de meus dias de alegria

meus fantasmas falam comigo
às vezes sussurram à capela
como o vento na veneziana
na veneziana que espia da janela

pode ser que também eu fale
falo mais comigo mesmo
coisa simples coisa arcana
pensamentos que perdem
no silêncio de meus dias

meus fantasmas silenciam
sábios são meus fantasmas
torcem os bigodes cofiam

sopra o vento na veneziana
na veneziana que da janela espia
estou só fantasmas meus
sempre estive comigo mesmo
o início de mim   fim  começo.

quarta-feira, 26 de março de 2014

Quem nunca leu uma linha do horizonte; BH, 01501202013; Publicado: BH, 0260302014.

Quem nunca leu uma linha do horizonte
Quem nunca testemunhou o encontro das paralelas
Quem nunca habitou o olho do furacão
Quem nunca deu nome à todas as estrelas dos céus
Quem nunca as chamou pelos nomes
Quem nunca viajou pelos exoplanetas fora do corpo
Quem nunca saiu do sistema solar
Quem nunca ultrapassou as barreiras do universo
Quem nunca entrou dentro dum núcleo dum átomo
Quem nunca entrou dentro duma membrana celular
Quem nunca contou os grãos das poeiras cósmicas
Quem nunca bebeu água de chuva ácida
Quem nunca caminhou pelos caminhos subterrâneos que unem os continentes
Quem nunca pescou nos lençóis freáticos
Quem nunca soube contar o era uma vez da pré-história
Quem nunca teve contato imediato do terceiro grau
Quem nunca viu fantasmas assombrações espíritos almas penadas
Quem nunca viu entidades entes sobrenaturais duendes
Quem nunca viu restos mortais dos loucos mortos em hospícios
Quem nunca viu restos mortais dos presos mortos em calabouços
Quem nunca viu nada dos mortos engolidos pelos mares que inda não foram vomitados
Quem nunca andou sonâmbulo de cabeça para baixo no teto
Foi acordado no ato ao cair de ponta cabeça
Deu uma guinada de gato no corpo caiu de pé:
Está a beber pouco a fumar pouca maconha
A cheirar cocaína batizada a aplicar água nas veias

terça-feira, 25 de março de 2014

Antes de dormir de madrugada; BH, 01701202013; Publicado: BH, 0250302014.

Antes de dormir de madrugada
Inda quero sonhar mais um pouco
É que gosto de sonhar acordado
Não gosto de sonhar quando estou a dormir
Gosto de pensar que saí do corpo
Que naveguei pelos mares de oceanos
Pelos subterrâneos pelos espaços siderais
Antes de ir dormir nesta madrugada alta
Inda quero sonhar sem ter pesadelos
Toda vez que durmo tenho pesadelos
Caio em abismo despenco em precipício
Fico preso em sepultura
Acorrentado em caverna
Esquecido em masmorra
Amordaçado em calabouço,
Afogado em arcabouço
Em solitária de penitenciária
Em seguro de presídio
Em cubículo de hospício
Quando acordo
Pareço-me outro
Corri léguas
Lutei com gigantes
Domei titãs
Movi pedras
Escalei montanhas
Não consigo nem levantar-me da cama
Arrasto-me o dia todo
Todo moído
Qualquer ruído
Deixa-me doído
O tempo não passa
Nada dá certo
Amarrotado
Um terno que nunca foi passado
Escondo-me atrás da porta
No vão da escada
Na sacada
Em cima do muro
Disfarço-me junto à parede
A noite vai vem a madrugada
Pega-me ao deitar mesmo sem sono
Sonho o que tenho medo de sonhar

segunda-feira, 24 de março de 2014

Poesias de Adélia Prado:

"Eu sou uma mulher sem nenhum mel
eu não tenho um colírio nem um chá
tanto a rosa de seda sobre o muro
minha raiz comendo esterco e chão
Quero a macia flor desabrochada
irado polvo cego é meu carinho
Eu quero ser chamada rosa e flor
eu vou gerar um cacto sem espinho."
(Senha)

"A Bíblia, às vezes, não me leva em conta,
tão dura com minha gula.
Nem me adiantou envelhecer,
partes de mim seguem adolescentes,
estranhando privilégios.
Nunca me senti moradora,
a sensação é de exílio.
Criancinha de peito, essa já sabe,
seu olhar muda quando desmamada.
Tudo é igual a tudo,
mas por agora a unidade nos cega,
daí o múltiplo e suas distrações.
Deus sabe o que fez.
Mesmo com medo escrevo
que é 1º de julho de 2011.
Parece póstumo, parece sonho.
Alguma coisa não muda,
minha fraqueza me põe no caminho certo.
Deus nunca me abandonou."
(Sala de Espera)
"Os peixes me olham
de suas postas sangrentas.
Falta modéstia às frutas.
De ponta a ponta, barracas,
quero fugir dali
acossada pelos tomates
de inadequado esplendor.
Compro dois nabos para comê-los crus,
feito um eremita em sua horta.
Não por virtude,
por orgulho talvez travestido do júbilo
que me vendeu o diabo
em sua tenda de enganos."
(Feira de São Tanaz)
"A Deus entrego meus pecados,
entrego-os a quem pertencem,
não a Satanás que é um dos nossos
e sofre também o tormento dos filhos
que têm o Pai ocupado em alimentar pardais.
Nem torres que tocam a lua,
ou o que quer que nos roube o fôlego,
fazem assomar Seu rosto.
Por que nos abandonastes?
Vosso Filho soube, na obediência da morte,
e o que se viu foi só um tremor rasgando a pele da terra.
Alguém no derradeiro instante exclamou Oh! Oh!
E fechou os olhos.
Eu não tenho aonde ir, tudo me ignora,
ignoro tudo, pois sou natureza.
Um beija-flor enfia numa flor natalina
o seu bico comprido e come e bebe e voa,
não pousa no meu ombro,
não bebe do meu olho a água de sal.
Por agora, o que me faz prosseguir
é sua indiferença. Esta ausência de milagre."
(Lápide para Steve Jobs)

domingo, 23 de março de 2014

Quem quer alguma coisa; BH, 01601202013; Publicado: BH, 0230302014.

Quem quer alguma coisa
Há de querer mais do que alguma coisa
No meu caso quero mais do que o querer
O querer é o universo
O infinito a eternidade
A posteridade
O querer é o caos
É a velocidade da luz
É o sistema solar de exoplanetas
De bilhões de galáxias grávidas
De bilhões de constelações gêmeas
Quem quer alguma coisa
Não precisa saber o que quer
Há de querer o que ninguém quer
Há de querer o que ser nenhum nunca quis
Há de acertar no querer
Há de dar um tiro no escuro do buraco negro
Liberar a energia que iluminará o desejo de
Querer algo mais do que alguma coisa querida
Desse jorro de gozo de prazer
Desse gêiser de lava dessa explosão
Expelida da cratera do vulcão responsável
Por esse vácuo que a tudo engole sem ter boca
Sem ter estômago organismo
Esse vácuo sem elemento eco grito
Esse vácuo de matéria desconhecida
Que faz do querer o querer algo mais além
Do querer sem saber porque

Meu jovem o que fazes com uma mulher; BH, 01501202013; Publicado: BH, 0230302014.

Meu jovem o que fazes com uma mulher
Em mulher não se bate nem com uma flor
Sai para lá velho caduco em briga de casal
Não se mete colher nem de pau não estou
Mesmo a me meter nessa briga só estou a
Pedir-te para não bater na mulher é minha
Esposa bato nela quantas vezes quiser já
Avisei para não te meteres ou apanharás
Também espera aí meu jovem só quero o
Teu bem não sou grosseiro nem sem
Educação em mim tu não bates não bato
Uma ova queres ver? toma toma toma
Toma toma toma mais sua vagabunda
Quero saber quem mais que quer apanhar
Aí? meu jovem sabes o que é isto em
Minha mão? é uma Magnum 765 sou
Um velho um ancião caduco mas lúcido
O suficiente para fazer de ti um defunto
A bater à porta do inferno não terás
Nem tempo de ter o último pensamento
Na calçada aqui da Voluntários da Pátria
Deixarei estendido o teu corpo morto como
Monumento a todos os espancadores
De mulheres foi assim que o pintor Iberê
Camargo pôs fim à vida dum agressor de mulher
Na maravilhosa cidade do Rio de Janeiro

Gostaria de dizer algo não sei se deveria dizer: BH, 02101202013; Publicado: BH, 0230302014.

Gostaria de dizer algo não sei se deveria dizer
Não estou preparado nem à altura de dizer
Algo à humanidade mas vou dizer assim
Mesmo é que gostaria de saber que espécies
De seres somos? quais são as nossas
Espécimes? sei que é um questionamento
Totalmente inútil não deveria nem fazê-lo
Se nem sequer estudei para entender alguma
Coisa é justamente quem estudou que me faz
Chegara tanto são esses catedráticos esses
Diplomados que me contestarão que ousadia
È essa? que audácia é essa? quem és tu? do
Alto da tua ignorância contestar-nos? quem
És tu? afinal terei que recolher minhas letras
Guardar minhas palavras engolir minha língua
Enfiar meu rabo entre as pernas quem sou?o
Que sou? o que tenho? só em fábulas anões
Destroem titãs os Davi derrotam gigantes
Golias recolherei-me às minhas pedras ao
Meu barro à minha lama à minha borra
Não não direi nada nada nunca deve dizer
Alguma coisa nada só deve ter a consciência
De que é nada a admirar quem é tudo

sexta-feira, 21 de março de 2014

Louco sei que sou louco; BH, 0501202013; Publicado: BH, 0210302014.

Louco sei que sou louco
Só uma loucura pode explicar as coisas que sei
Sei tudo que diz respeito ao nada
A respeito do nada sei tudo
Quem quererá saber
Inda mais a partir dum louco vadio
A vagabundear pelas estrelas
A andar pelos planetas
A sair do corpo nas noites de tempestades
Para onde o tempo parou
Para a viagem de volta
Ao hospício o infeliz do corpo torturado
Tatuado com os rabiscos na carne,
Cicatrizado das reminiscências rupestres
Hoje denominadas patrimônios fósseis
Iguais as estrias dos ossos universais
Dos esqueletos retorcidos
Das caveiras a sorrir
São frutos de estudos técnicos a desvendar épocas
Amanhã não estarei aqui
Dói em mim esta verdade
O que será de mim?
É que penso muito em não estar aqui
Alguém precisar do meu ombro
Dói em mim esta realidade
Indago onde estarei se alguém chorar?
Não poderei consolar
Enxugar as lágrimas
Abraçar a falar mentiras para o choro sorrir
Entristeço-me à toa à toa à toa
Um menino que perdeu algo
Foi embora da roça
Se mudou do campo
Largou a fazenda
Desterrou-se da terra
Hoje sufocado
Asfixiado sofre odiado e a odiar
Não vive amor não existe
Morre de medo do futuro
Do escuro incerto
Aguarda sereno a senilidade
Débil ancião abandonado
Onde me esconderei
Para chorar desesperado?

quinta-feira, 20 de março de 2014

Haverá um dia no qual pararemos; BH, 0601202013; Publicado: BH, 0200302014.

Haverá um dia no qual pararemos
Não andaremos nem com os pés doutros
Não pegaremos nem com as mãos doutros
Haverá um dia em que nossos ouvidos serão olvidos
Nossos olhos serão embaçados
Não enxergaremos nem com olhos doutrem
Nem no tato
Nem nonada
Nos recolheremos nalgum lugar
Num sótão
Num porão
Num terreiro
Nem num quintal
Num toco de pau
Num banco de pedra
Não teremos nem a nós mesmos
Quereremos quebrar todos os espelhos que nos refletir
Não acreditaremos que aquelas imagens nos fundos dos espelhos somos nós
Haverá uma noite em que sentiremos frios
Enroscaremos nossos corpos uns noutros
Sentiremos mais frio
Colocaremos cobertas cobertores
Edredons lareiras congelaremos
Não quereremos ser mais nós mesmos
Haverá uma ocasião
Que quereremos ser tudo
Menos nós mesmos
Pediremos para que noutra encarnação
Sejamos torrões tijolos monturos entulhos murundus
Menos gentes pessoas entes
Sejamos peixes anzóis molinetes faróis
Haverá um dia no qual não haverá um dia

Passar diante dum monumento; BH, 0801202013; Publicado: BH, 0200302014.

Passar diante dum monumento
Não ter a mínima curiosidade
Não ter um pulsar de pulso fraco
Não ter um bater de pálpebras
Não é passar diante dum monumento
É estar mais morto do que o monumento

Se esse monumento for uma montanha?
Se esse monumento for um colosso?
Se esse monumento for uma maravilha?
Se passares diante dele pequeno
Como se não passasses diante dele
Sairás menor de diante dele

Passar perante duma duna milenar
Não ter um suspiro
Passar perante uma pirâmide
Não ter um soluço
Não é passar diante duma pirâmide
Não é passar diante duma duna milenar 

Passar num cais
Não sentir as pedras
Passar num porto
Não vislumbrar as naus
Passar num outeiro
Não vivenciar os castelos?

Não é passar
É voltar sem ter ido
É rastejar andar sem deixar pegadas
Voar sem deixar rastos no ar 
Pelo menos um olhar
É para se deixar nas vistas das pradarias

Pelo menos uma miragem
É para se imaginar na paisagem
Numa pincelada de cílios pestanas
Imortalizar nas retinas ciganas
As belas artes das telas das falésias
Que tanto encantam aos artistas

segunda-feira, 17 de março de 2014

Llewellyn Medina, No tempo em que os deuses eram mortais.





No tempo em que os deuses eram mortais

Houve um tempo
em que os deuses eram mortais
os deuses eram muitos
os deuses eram mortais
andávamos de mãos dadas
como era dado aos deuses e aos homens andar
houve um tempo dos deuses e dos homens
houve um tempo

no tempo em que havia deuses e homens
os deuses eram muitos
os homens sempre foram muitos
assim como é incontável a areia do mar
incontáveis os sonhos dos homens
no tempo em que havia deuses e homens
houve um tempo em que havia

hoje é o tempo em que Deus é imortal
os homens são mortais como sempre
hoje os deuses são Um
e os homens são muitos como sempre
assim como seus sonhos
até quando sonharemos os homens?

hoje Deus e os homens não andam de mãos dadas
há um abismo entre Deus e os homens
intransponível como o Nada
mistério dos homens
padres bispos arcebispos santos
quem escondeu Deus?
e os sonhos
os sonhos
os sonhos dos homens?
tenho sonhos de solidão vazio
solidão vazia como a imensidão do mar

haverá um tempo de Deus e dos homens?