sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Eu não quero mais aprender; Varanda da Marechal Marques Porto, 131; RJ/SD; Publicado: BH, 0230902012.

Eu não quero mais aprender
Eu não quero mais ensinar
Eu não quero mais fazer
Eu não quero mais mudar
Eu não quero mais evoluir
Eu não quero mais transformar
Eu não quero mais trabalhar
Eu não quero mais ajudar
Eu não quero mais metamorfosear
Eu não quero mais pensar
Eu não quero mais imaginar
Eu não quero mais meditar
Eu não quero mais refletir
Eu não quero mais progredir
Eu não quero mais aperfeiçoar
Eu não quero mais amar
Eu não quero mais mulher
Eu não quero mais pacificar
Eu não quero mais entender
Eu não quero mais compreender
Eu não quero mais interpretar
Eu não quero mais falar
Eu não quero mais dizer
Eu não quero mais reclamar
Eu não quero mais contestar
Eu não quero mais manifestar
Eu não quero mais empregar
Eu não quero mais revolucionar
Eu não quero mais modificar
Eu não quero mais preocupar
Eu não quero mais interessar
Eu não quero mais importar
Eu não quero mais continuar
Eu não quero mais querer
Eu não quero mais poder
Eu não quero mais de ti
Eu não quero mais nada
Eu não quero mais tudo
Eu não quero mais todo
Eu não quero mais eu
Eu não quero mais tu
Eu não quero mais ele
Eu não quero mais nós
Eu não quero mais vós
Eu não quero mais eles
Eu não quero mais não
Eu não quero mais ser
Eu não quero mais existir
Eu não quero mais ter
Eu não quero mais sorrir
Eu não quero mais saber
Eu não quero mais sabor
Eu não quero mais luz
Eu não quero mais calor
Eu não quero mais favor
Eu não quero mais ardor
Eu não quero mais prazer
Eu não quero mais gozar
Eu não quero mais orgasmos
Eu não quero mais caminhar
Eu não quero mais buscar
Eu não quero mais encontrar
Eu não quero mais viver
Eu não quero mais morrer
Eu só quero agora morrer.

Seu maribondo caçador; Varanda da Marechal Marques Porto, 131; RJ/SD; Publicado: BH, 0230902012.

Seu maribondo caçador
O senhor me picaste
Quero dizer me ferroaste
Aqui no ombro
Bem perto do pescoço
O senhor não imaginas
Como foi que doeu
Não sei porque
O fizeste isto comigo
Não vou negar
Já botei fogo
Em casa de maribondo
Mas com o caçador
Nunca mexi
O senhor veio lépido
Pegaste-me distraído
Que me ferroaste no pescoço
Seu maribondo caçador
Vais procurar uma aranha
Uma aranha caranguejeira
Não sou aranha
Não tenho aranha
Nem sei onde tem
Procuras no mato
Procuras na mata
Nas moitas de capim
Procuras nos pântanos
Nos porões
Nos sótãos
Aqui no meu ombro
No meu peito
No meu pescoço
O senhor não vais encontrar nada
Vais me ferroar à toa
Vou sentir muita dor
O local vai ficar
Dolorido inchado
Seu maribondo caçador
Segues o vento
Segues o sol
Deixas-me por favor
Vais mais adiante
Não me ferroas mais
Vou buscar o meu amor

Oh! abelhinha; Varanda da Marechal Marques Porto, 131; RJ/SD; Publicado: BH, 0230902012.

Oh! abelhinha
Vai encher o saco doutro
Para de perturbar
De ficar a voar
Ao redor de mim
Estás pior do que mosca
Estás muito pior
Do que mosquito
Vai caçar uma flor
Para tirares o pólen
Para tirares o néctar
Não sou flor
Não tenho perfume
Não tenho fragrância
Nem tenho nada
Quem dera se tivesse
Pelo menos uma pétala
Um caule
Ou uma colora
Ou uma haste
Não tenho nada disso
Abelhinha
Vai voar longe de mim
Nem tomei banho ainda
Estou todo sujo suado
Não chegas muito perto
Nem pousas em mim
Tu podes te sujar
A te arrependeres
Vai abelhinha
Segues aquela joaninha
Procures uma flor de verdade
Procures uma flor real
Algo digno de ti
Não procures um ser daninho não
Não procures algo podre
Igual a mim
Voas para a natureza
Voas para a beleza
Para a riqueza do teu mel
Transpões teu véu
Voas para o teu céu
Oh! abelhinha
Deixes-me com a paz que não tenho

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Não me disseste nada; Varanda da Marechal Marques Porto, 131; RJ/SD; Publicado: BH, 0230902012.

Não me disseste nada
Não precisaste
Vi em teu olhar
Olhei em teu olhar
Enxerguei em teu olhar
Não falaste nada
Não precisaste
Ouvi o teu coração
Escutei o teu coração
Auscultei o teu coração
Senti as tuas vibrações
Senti as tuas tensões
Teu corpo tremer
Senti o teu sentimento
Não te moveste
Não soltaste um ai
Um sussurro ou um suspiro
Não piscaste um olho
Não franziste nada
Senti tudo
Senti toda
Todo o teu corpo
Todo o teu ser
Teu interior teu íntimo
Toda a tua paz
Teu amor teu calor
Ficaste no mesmo lugar
Parada que pedra
Mas por dentro de ti
Por dentro de tua cabeça
Por tua mente
Por ti inteira
Só meu ser sabia
O que se passava
O que é que acontecia
Levitavas
Estavas leve livre
Pairavas no ar
Estendeste os braços
Enlaçaste-me
Beijaste-me a boca
Despiste-te
Despiste-me
Amaste-me
Amei-te
Fizemos amor sublime
Só Deus sabe o que foi que se passou

Quero uma frase; Varanda da Marechal Marques Porto, 131; RJ/SD; Publicado: BH, 0230902012.

Quero uma frase
Bem psicodélica
Bem louca
Bem sem sentido
Quero uma frase
Bem maluca
Bem doida
Bem sem razão
Uma frase vazia
Uma frase sem frase
Uma frase sem nada
Quero uma frase
Bem diferente
Bem indiferente
Que não tenha valor
Que não tenha calor
Que não traga nada
Nem diga nada
Quero uma frase besta
Uma frase boba
Idiota de imbecil
Quero uma frase
Igual a mim
Sem definição
Sem opinião
Sem conhecimento
Uma frase de cimento
De aço de ferro
Uma frase de enxofre de fogo
De tinta d'água
Quero uma frase sistemática
Uma frase pneumática
Sem vida sem ar
Uma frase sem forma
Sem estrutura
Sem pilastra
Quero uma frase
Era uma vez uma frase
Uma frase que não era
Uma frase que quis
Uma frase que não quis
Que não veio
Uma frase sem meio
Sem seio sem peito
Uma frase sem leito
Quero uma frase seca
Ríspida grossa
Uma frase estrondosa
Quero uma frase branca
Só uma frase
Uma frase silenciosa

Dividir a terra; Varanda da Marechal Marques Porto, 131; RJ/SD; Publicado: BH, 0230902012.

Dividir a terra
Dividir a água
Dividir a renda
Dividir o pão
Dividir o leite
Dividir a comida
Dividir o feijão
Dividir o arroz
Dividir a justiça
Dividir os direitos em partes iguais
Dividir o lucro
Dividir o trabalho
Dividir a obrigação
Dividir a responsabilidade
Dividir o poder
Dividir o dinheiro
Dividir a igualdade
Dividir o espaço
Dividir o céu
Dividir o mar
Dividir as riquezas
Dividir o gado
Dividir a monopolização
Dividir o comércio
Dividir a indústria
Dividir a individualização
Dividir a fome
Dividir a pobreza
Dividir a miséria
Dividir a desgraça
Dividir a graça
Dividir a safra
Dividir a colheita
Dividir a habitação
Dividir a luta
Dividir a briga
Dividir a direção
Dividir a inflação,
Dividir o alto custo de vida
Dividir a mordomia
Dividir a ditadura
Dividir a entregação
Dividir a exploração
Dividir a enganação
Dividir a ilusão
Dividir a divisão
Dividir a multiplicação
Unificar a nação

Olha aqui meu chapa; Varanda da Marechal Marques Porto, 131; RJ/SD; Publicado: BH, 0230902012.

Olha aqui meu chapa
Vou dizer para ti
Não tenho um pingo de medo
De ti de tua corja
Com toda a tua força
Com toda a tua grossura
Com toda a tua brutalidade
Tua ignorância
Não vais conseguir
Calar a minha voz
Parar a minha fala
Interceptar a minha inteligência
Com todo o teu aparato
Não vais conseguir conter
A impetuosidade do meu pensamento
A força do meu espírito
Nem vais alcançar
A profundidade da minha mente
Podes armar-te
Podes reamar-te
Apoderar-te de tudo
Não vais inibir-me
Não me intimidas
Nem me metes medo
Não vais me calar
Nem me convencer
Meu grito é maior
Não vais aprisionar-me
Nem vais conseguir cortar
A minha língua
Podes acabar comigo
Podes me matar
Torturar-me me destruir
Mas minha alma fica aí
Meu berro vai ser ouvido
Todo mundo vai me seguir
Vai me acordar
Vai acordar
Vai partir para a luta
Vai derramar o sangue
Por que é só assim
Que se faz uma revolução

Trabalhar para poder comer; Varanda da Marechal Marques Porto, 131; RJ/SD; Publicado: BH, 0230902012.

Trabalhar para poder comer
Suar para poder beber
Cansar para poder dormir
Dormir para poder sonhar
Sonhar para ter pesadelos
Acordar para morrer
Morrer para descansar
Descansar para ser enterrado
Ser enterrado para não ver
Não ver para não olhar
Não olhar para não enxergar
Não enxergar para não mudar
Não mudar para não transformar
Não transformar para não revolucionar
Não revolucionar para não evoluir
Não evoluir para ficar atrasado
Atrasado para ser dominado
Dominado para poder ser explorado
Explorado para ser escravizado
Escravizado sem poder ser livre
Para não contestar
Para não exigir
Para não reclamar
Reclamar de estar preso
Preso sem direito
Sem direito sem justiça
Sem pão sem nada
Castrado algemado
Acorrentado a grilhões
Trabalho forçado
Sem compensação
Sem salário compatível
Emancipação já
Ao proletariado
Ao operariado
Ao trabalhador
Emancipação já
Ao povo
A todos aqueles
Que lutam que são rebeldes
Que são destemidos corajosos
Que têm um ideal
Uma ideia fixa
Chega de trabalho penoso
Chega de verdade
Chega de tanta miséria fome

terça-feira, 27 de novembro de 2018

Relato dum vampiro; NL, 03040302008; Publicado: BH, 050802010.

Sombras pairam sobre mim penumbras
Envolvem meu ser manto de trevas encobrem
Minh'alma o meu espírito nunca será lâmpada
Para os meus pés nem meu conhecimento luz
Para os meus caminhos pedras saibros espinhos
Não tenho discernimento necessário que me livre
Desses percalços daninhos quem passa não me olha
Quem me olha não me vê quem me vê não me
Enxerga quem me enxerga não me conhece
Quem me conhece não me reconhece sou
Desconhecido anônimo até para mim mesmo
Muros pontes igrejas já arrastei-me por essas paragens
Já vi essas paisagens já senti essas aragens mas
Através dos tempos eras ocasiões fui muitas vezes por acaso
Ver o ocaso contei causos das cousas que muitos
Fazem pouco caso mas que para mim tem importância
De vida sem fim nuvens pairam sobre mim
Sobrecarregadas densas pesadas frutos do meu passado
Impedem o sol de brilhar o meu resplandecer
Abortam as manhãs fazem cesárias no amanhecer
Abandonam meu dia em sacolas de supermercados
Em latas de lixo enrolado em mantos às portas
De casas de desconhecidos o dia se torna
Eterno anoitecer adotado por outros pais tem
Outra família irmãos outros seres que são geneticamente
Incompatibilizados quando meu dia precisa
De doação de medula de sangue de órgãos morre
Sem esperança nada é compatível tudo é rejeitado
Na noite as estrelas não vêm a lua some não
Tem astros no céu não existe cheiro não existe
Existência combustível substância verbo falta elemento
No organismo falta organismo no meu dia inorgânico
Sem química física demais ciências pairam a
Inconsciência a consciência sem a quântica
No anzol a isca sou eu do arpão o alvo da justiça
O réu do criminoso a vítima da mulher a 
Repulsa da família a ovelha negra tudo
Que se procurava não era encontrado
Perdido com destino traçado de feto
Abandonado gostinho de fel na boca
Sorriso de hiena nos lábios avancei
Vampiro sedento na minha noite adentro
Sem sangue puro de virgem para beber de
Manhã um morcego de asas quebradas tenta
Fugir da luz cai no vago da estaca da cerca
Que o menino puxa esmaga o morcego infeliz

Urubus; BH, 0210702001; Publicado: BH, 0250702010.

Angústia abandona-me
Tal aqueles urubus que agora
Abandonam a cena da paisagem
Pergunto para aonde irão? se a 
Ida da angústia fosse fácil assim
Igual aos voos daqueles urubus 
Bom seria para mim que deixo-me
Levar pela ansiedade pelos
Raciocínios sofísticos pelos sons
Dos discursos retóricos vazios
De dialética síndrome perpétua
Depressão eterna porque tento ser
O que não consigo ser? porque
Teimo em sobreviver se não sei
Viver? o medo de morrer me deixa
Pequeno a covardia por sofrer
Amesquinha mais ainda o meu
Ser se nem sei enxugar um
Texto como poderei saber enxugar
As lágrimas do meu pranto? o
Choro das minhas lamentações?
Valha-me sabedoria socorra-me
Inteligência preciso aprender
O conhecimento para superar os
Percalços transpor os obstáculos
Quem irá eximir-me dos meus
Sentimentos de culpa? quem irá
Encher de sentido os caminhos
Da minha vida? só o meu negro
Ser que navega nas trevas
Sabe o quanto invejo aqueles
Urubus que voavam ali naquele azul

Dizem que o inferno está cheio de poetas; BH, 0200102002; Publicado: BH. 0250702010.

Dizem que o inferno está cheio de poetas
É por que Deus não gosta de concorrentes
O poeta é um concorrente de Deus
Deus criou o mundo o poeta criou o imundo
Deus criou o caos descansou no
Sétimo dia o poeta não descansa
Nem depois de morto os átomos os
Prótons os nêutrons o resto do núcleo dos
Seus elementos resistem ainda
Apesar da maldição estigmatizada
Dizem que o inferno está cheio de
Poetas o céu está cheio de quê?
Se santos ou de hipócritas? o céu
Está cheio de imbecis de medíocres
Falsos profetas pastores cães outras
Bestas que a igreja canoniza ou
Cãononiza? o que fazem em nome
Da fé da paixão da religião por
Aqui não é nem preciso que
Sejam mandados para o inferno o
Inferno é dos poetas os verdadeiros
Excomungados esconjurados amaldiçoados
Já os belos bonitos lindos limpos
Já estão no céu mas não é no
Céu do além que Deus criou é no
Céu do aquém criado pelo poeta
No céu mesmo estão os ateus agnósticos
Céticos os que acreditam em tudo
Duvidam deles mesmos os poetas
Pelo menos acreditam na poesia
Acreditam na inspiração na criatividade
Humanas fantasmagóricas

Já estou acostumado; BH, 0180102002; Publicado: BH. 0250702010.

Já estou acostumado 
Ser preterido por todos os santos
Santas por homens mulheres
A quem mais me encanta
Ainda adultos crianças
Porém só não quero é ser o
Preferido dos demônios a carregar
Um particular igual Sócrates
Carregava nem penso em
Passar a experiência de Fausto
Narrada por Goethe ser preterido
Pela humanidade até Jesus Cristo
Foi mais vale ser preterido pelos
Demônios bruxos duendes os
Maus espíritos quero ser sempre
Preterido pelos homens cobras
Serpentes víboras quero ser
Sempre preterido pelos que me
Olham com a frente dos olhos
Com indiferença no olhar na
Qual primeira olhada bem sei
Que nunca irei agradar como
Não estou contente muito menos
Satisfeito não fico acostumado
Nem escondo meus defeitos sou
Desafeto inimigo adversário do
Peito passarei por todos incólume
Nada restará em mim nem na
Lembrança nem na memória
Nem a recordação no fim não
Descarto minhas culpas nem
Apresento explicação concordo
Com a natureza em qualquer
Situação sempre serei preterido
Em qualquer ocasião

Porque estás a chorar? perguntou-me alguém; BH, 0160202008; Publicado: BH. 0250702010.

Porque estás a chorar? perguntou-me alguém
Numa esquina da qual não me lembro porque
Gostaria de escrever uma obra-prima criar uma
Obra de arte literária a imortalizar-me através
Das letras palavras antes que fique cego
Meus olhos estão a arder avermelhados meu
Glaucoma está a acentuar-se já quase não
Enxergo do olho direito se ainda tivesse a
Genialidade de Homero ou de Jorge Luís Borges ou doutros cegos memoráveis valeria
A pena ficar cego mas sou o mais cego dos
Cegos não enxergo nem pelo tato não
Enxergo pelo olfato paladar audição não
Enxergo nem pelos poros tenho milhões
Deles espalhados pela pele todos
Abundantemente cegos é por isto que só sei
Chorar derramar lágrimas prantear implorar
Clemência nem Sêneca se vivesse nos dias de
Hoje seria capaz de me aturar só sei pedir
Perdão que o mundo seja generoso comigo o
Ser humano misericordioso não sei ser
Imperturbável no meu comportamento ninguém
Sabe como tanto me envergonho ter que pedir
Misericórdia falta-me severidade virtude
Sobra-me crueldade não tenho dimensão
Humana autoridade cidadania supremas
Nem vínculo com a liberdade meu erro é a
Escravidão majestosa a falta dum gesto
Histórico modelar que sirva para solidificar
Minha segurança pessoal com a máxima
Definição de que valem minhas leis minhas
Regras minhas normas meus estatutos?
Quebro-os todos não os respeito de que valem
Meus princípios? se não tenho equilíbrio
Moderação prudência de que valem minhas
Máximas se sou menos do que o mínimo?
Quem me dará crédito? gostaria de pelo
Menos parar de chorar dar um basta pois
Sei que obra-prima obra de arte não sou
Capaz de criar o que é isso? que escuridão
É essa? luz acendam a luz luz Sêneca luz

Oh minha obra Deus que te abençoe; BH, 0140202008. Publicado: BH. 0250702010.

Oh minha obra Deus que te abençoe
És o meu filho gerado é com olhos marejados
Que choro estas palavras Deus que te dê caminho
Segurança pelos meandros da vida pois és
O meu tesouro as minhas pérolas a luz que
Ilumina-me me tiras da ruína purificas o sangue
Do meu coração oh minha obra que grande
Emoção ver-te partir que comoção sentir
Que podes ganhar o mundo levar benefícios
À humanidade boa sorte minha obra que
Deus afaste dos teus caminhos o azar que o
Universo fique a teus pés como não tenho
Nenhum anjo torto para me aconselhar
A ser alguma coisa na vida vais minha
Obra ser alguma coisa por este mundo a fora
Vais impostergável sem te submeteres sem te
Omitires sem te deixares desmoralizar não
Abras mão de tuas prerrogativas do teu brio
Do teu papel perante este céu azul que nos
Abençoa vais minha obra razão do meu viver
Não sou Camões que com um braço só nadou
No mar para Os Lusíadas proteger não deixou
Que a obra maior viesse num naufrágio
Perecer sei que já partiste a deixar-me partido
Estás a caminho da glória do clássico para
Transformar-te em pergaminho em papiros em
Manuscritos vivos alfarrábio de obras-primas
Bíblia da retórica poética calafrios de sentimentos
Arrepios de sentido êxito de sensação respiro
Fundo suspiro encho os pulmões de ar cada
Molécula de matéria é uma poesia que veio bailar é
Um poema que veio te formar dos três estados
Donde fui te moldar (sólido líquido gasoso) nos
Mais complicados teoremas em tudo que pude te
Encontrar procurei te tirar agora voas para longe
Do meu alcance tomas de ímpeto o infinito os registros
Abissais as cores nobres as certezas celestiais
Chegarás aonde não chegarei jamais pai coruja
Mãe amante tenho peito tenho seio tenho mama
Leite para tua aridez tua sede tua fome asas para
Tua fuga para longe da insensatez oh minha
Obra ruptura do meu útero fim da minha estupidez

Virou ideia fixa de pura obsessão; BH, 060402002; Publicado: BH, 0270702010.

Virou ideia fixa de pura obsessão
Jamais conseguirei corrigir minhas
Deficiências ao mudar o lado de
Dentro do meu coração sou pedra
Sedimentada pau podre madeira
Aglomerada areia que escorre pela
Mão bolha de sabão morta direção
Fornalha apagada carvão molhado
Espermatozoide sem reação feto
Inato preste a sofrer o aborto
A ser levado da vida para a morte
Louco com sede de maldade
Mente insana sedenta de ruindade
De mentira de falsidade
Uma cobra com asas para voar
Fazer a acontecer um escorpião
Com veneno para matar doer
Um aracnídeo que suga as
Vítimas deixando-as secas sem
Sangue medula entranhas
Osso sem tutano calcinado
Carne à flor da pele nervo
Exposto angústia ansiedade
Depressão agonia de terminal
Salvo pela eutanásia gerado
De clonagem cujo clone
É a imagem da mesma
Desesperança dos mesmos erros
Defeitos de deficiências o clone
Já nasce envelhecido portador
Da mesma ideia fixa pura
Obsessão um câncer dentro do peito
Um tumor no morto coração