E fico por aqui
Por não saber ir adiante e avante e
Para a frente como todo corpo que
Não é dormente e fico por aqui novamente
E quando a terra passar por mim de volta
Pelo passeio através do universo estarei
No mesmo ponto e nem um passo a mais
E nem a menos e sempre a teimar
Com o mais do mesmo e ninguém me
Lança as vísceras na cara e nem vomita
Na minha boca a comida que poderia
Matar a minha fome e ninguém me
Guarda dentro das entranhas ou me
Resguarda num útero como se fosse a
Minha mãe de úbero e ninguém me dá um
Peito de pai e fico órfão em situação de
Rua e lançam pedras pontiagudas onde
Enterraria minha caveira para dormir e
Vejo que não sou produto do meio dos homens
E os homens enchem-me de medo e de raiva
E de rancor e passo a odiar como se fosse
Um homem também e passo a sentir
Vontade de matar de fome e de sede e nem
Quero mais me sentir homem e nem
Humano e nem da raça humana e nem da
Humanidade e não quero me sentir mais
Um ser e sonhei que veio um ente vestido
De branco como se fosse um fantasma ou
Uma assombração e com uma marreta nas
Mãos quebrou todas as pedras pontiagudas
Do meu caminho e pude estender o meu
Esqueleto inofensivo e meus trapos e
Farrapos e restos mortais e essa entidade
Sobrenatural acalentou o meu coração e
Não era um super-homem ou um herói de
Ficção e era de carne e osso mas com uma
Força descomunal e uma força de Dom Helder
Câmara ou uma força de Dom Paulo
Evaristo Arns e esse ectoplasma me acolheu
E não acreditei que no meio dos homens
Havia um homem e dentre a garoa e as
Lágrimas nos fundos dos meus olhos
Embaçados de velhote distingui a imagem
Reluzente do Padre Júlio Lancellotti.