quarta-feira, 31 de agosto de 2022

posso vir nunca publicar nenhuma letra

posso vir nunca publicar nenhuma letra
quanto mais uma palavra mas não faz mal
os grandes nomes da literatura mundial
pouco quase nada publicaram das suas
obras-primas então não publicarei sequer
uma única frase faça ideia um período
ou uma estrofe
ou verso
ou soneto sou neto de soweto de poesia de
poema artigo parágrafo mas penso estou aqui
a me aperfeiçoar na arte da enganação
e do fingimento
e se chegar algum entendido a
dizer que é lixo aceito o meu lixo da mesma forma que o ourives aceita o ouro na fôrma
e só não aceito é o luxo para poucos
e a miséria
e a desgraça
e a pobreza
e a opressão 
e a marginalidade para muitos
e só não aceito é a justiça para a burguesia
e para a elite
e para a maioria da periferia a injustiça
que é uma agonia
e contra essa monstruosidade
luto todo dia até pôr um fim
a essa deformidade que causa ansiedade

BH, 01501002021; Publicado: BH, 0310902022.

mesmo quando escrevo contra deus agradeço

mesmo quando escrevo contra deus agradeço
a deus o livre arbítrio de poder escrever contra
deus pois escrevo contra deus quando deus
abandona principalmente as crianças
e escrevo contra deus justamente quando
deus deixa suas obras-primas ao deus dará
e são destruídas pelas queimadas as floras
e as faunas
e os povos originários
e os povos tradicionais
aí não tem jeito brigo contra deus
e escrevo mal quando o pai mata o próprio filho
ou o filho mata o pai
ou o marido mata a mulher
ou a mulher mata o marido
ou israel bombardeia a palestina
ou os usa invadem
e subjugam nações
ou não põem fim ao covarde
e desumano bloqueio econômico à cuba
mas quando deus lança por terra um injusto
ou um malfeitor
ou um falso pastor dizimista
ou um falso profeta messias covarde
aí só agradeço a deus de todas as maneiras
e oro
e dou louvores
e faço preces
e invoco para que continue a fazer justiça
e a abençoar as obras-primas das suas
mãos
e das civilizações da humanidade

BH, 01501002021; Publicado: BH, 0310902022.

sexta-feira, 26 de agosto de 2022

morri para causas efeitos das cousas

morri para causas efeitos das cousas
e das coisas
e morri para copérnico
e gallilleu
e morri para newton
e fui para o beleléu
ao léu
e morri para a poesia morto
e o poema
e a literatura
e uma letra me matou
e uma palavra 
maldita me enterrou
e morri para seu nestor
para dona conceição
cansanção
urtiga
morri para irmã
e morri para irmão
para amiga
e morri para o mundo moderno
e para a vida futura
e morri para as figuras
e morri para as religiões
ou os deuses sagrados
ou sacros
ou profanos
ou pagãos
e morri mais duma vez para bruno
ou para borges
e esvaziei alforges
e pipas
morri para a filosofia
e eis-me aqui iletrado a tirar onda de letrado
e morri de fome múmia de faraó fominha
sem esquife
ou vampiro
sem ataúde
ou sarcófago
e morri desde que nasci
e até o momento não encontrei a sepultura
para depositar os resquícios
dos meus tormentos
e minhas amarguras

BH, 01501002021; Publicado: BH, 02601002022.

quinta-feira, 25 de agosto de 2022

a vida exige é lutar com sabedoria

a vida exige é lutar com sabedoria
mesmo de quem nunca frequentou
um grupo escolar
ou um ginásio
ou um colégio
ou um liceu
ou uma academia que não seja fisioculturista
e a vida exige é soberania
mesmo para quem é plebeu
ou ralé
e a vida requer é cidadania
mesmo para quem só tem a mania de bajular a elite
endeusar a burguesia
e a vida exige é democracia
mesmo para quem veste o manto da ditadura
ou defende a tortura
e a vida aplaude
é a bravura de quem luta pelas
causas indígenas
ou quilombolas
ou das minorias vítimas das desigualdades
e a vida requer é discernimento
e inteligência para aprender a saber viver
e ter participação
atitude de bêbado
ou não
ou de embriagado
ou sóbrio
ou são
e a vida não gosta é de omissão
ou conivência com a injustiça
e a opressão
ou a exploração
e clama união na força trabalhadora popular
para libertar a nação

BH, 01501002021; Publicado: BH, 0250802022.

terça-feira, 23 de agosto de 2022

a poesia não gosta de muitas letras

a poesia não gosta de muitas letras
e o poema não suporta muitas palavras
e o poeta se puder fazer poemas sem letras
poesias sem palavras
já terá seu nome respeitado em academias
e letras vã
palavras inúteis
ou estrofes absurdas
ou versos mudos
ou sonetos cegos
ou elegias mortas
vazias
e despidas de alegorias só terão
seus nomes escrito na bunda do mosquito
e é isso que causa a alegria dos intelectos
eruditos exigentes das confrarias inteligentes
e quanto o menos do menos as causas
e os efeitos colaterais são maiores
e o poeta com uma letra fala um dicionário
e com uma palavra cita uma enciclopédia 
e com um soneto dum pé quebrado cria uma
centopeia de antologia poética digna dos mais
nobres nomes do olimpo onde cabeça dura
garimpo cascalhos
e entulhos
e destroços de construções
de castelos assombrados

BH, 01401002021; Publicado: BH, 0230802022.

toda vez que surge um poeta à porta

toda vez que surge um poeta à porta
a mendigar vem logo alguém dizer
poeta menos menos poeta
e às vezes o pobre diabo do poeta nem captou
uma letra
ou compôs uma palavra
e vem ali um a reclamar poeta é tudo
menos poeta
poeta menos
menos poeta
e quando não é um pássaro desdenhar
é uma borboleta a menosprezar
ou um beija-flor a desprezar
e junto às ondas das águas antigas do mar
mas em uníssono menos poeta
poeta menos
e o desdito desiste do dito num grito
e enfia o rabo entre às pernas
e vai às encruzilhadas a fazer mandingas
a fazer pactos aos pacotes às musas
ou fazer cantigas às namoradas janeleiras
esperançosas mas aparece uma mariposa
ou uma joaninha
e lá vem menos poeta
poeta menos
e continua a ladainha
laudas
e mais laudas que terminam num laudo
depois do poeta deposto prostrado no asfalto
frustrado das grandes cidades
e as cigarras
as sirenes das fábricas
e os sons
e as buzinas
e as lamúrias
e apupos menos poeta menos

BH, 01401002021; Publicado: BH, 0230802022.

ao meu grande amigo poeta nordestino

ao meu grande amigo poeta nordestino
da cultura operário josé apoiador
guerreiro bezerra trovador
que valida minhas besteiras de malino menino
fico supimpa com tanta fala distinta
se não sei o que falo o bardo de santo antão
sabe tocar ao meu coração que
fica grato com tanto ato de amor
emoção
e retribuo com paz a esse jovem poeta rapaz
capaz de subliminarmente sublime ser sagaz
com quem pensa que faz poesia todo dia
poema à toda ora
e oro ao espírito desse aedo sertanejo que
é antes de tudo um forte igual rochedo do norte
cabra lutador sem temor que
combate com o aroma do seu suor
o fedor da burguesia
e o trabalho das suas mãos
a orgia da elite
e a opressão
e peço licença poética por citar seu nome
sagrado numa literatura de antologia
de blasfêmia que não chega a empolgar
como queria mas o sangue que ferve nas
minhas veias latentes rega a vontade
também de querer ser gente somente

BH, 01401002021; Publicado: BH, 0230802022.

segunda-feira, 22 de agosto de 2022

soube de muitas coisas

soube de muitas coisas
através de coisas nenhumas
mas sempre quis saber
dalguma cousa com causa efeito
de mistério segredo
e com isso descobriu
receitas de curas
de doenças crônicas
e males incuráveis
e utilizou a ciência
tanto a do bem
para o mal
quanto a do mal
para o bem
e aprendeu com a experiência
para não repetir
os mesmos erros
e ser chamado
de disseminador da burrice
e cheirou de sabedoria
e de inteligência mesmo
sem alguém tomar conhecimento
de que é um ninguém
já que a sua vida
não importa
nem ao próprio
quanto mais a outrem
e a fingir de sadio sábio
sobrevive nas estradas da vida
nos caminhos de atalhos
a dar voltas em torno
do eixo comum do lugar comum
do mais do mesmo
a repetir as ladainhas
as rezas preces pressas
das bisavós das avós da mãe

BH, 01401002021; Publicado: BH, 0220802022.

sábado, 20 de agosto de 2022

estou feliz

estou feliz
lamento informar que
apesar da pandemia
e da irresponsabilidade do desgoverno
do mocorongo genocida
e da cúpula cúmplice da burguesia
e comparsas da elite
que o apoiam
estou feliz
e não me desentendi com pai ainda
e pai me chamou de bonitão
e perguntou quem era
o bonitão do papai
e levantei a mão
e até elogiou
a minha camiseta sem mangas
e disse que
combinava com o calção
e mãe foi à rua
comprar algumas coisas
e estou a sós com pai
na sala de estar
e à mesa a assistir vídeos
pelo celular de mãe
e pai como sempre
com o seu bloquinho de rabiscos
garranchos
e outros traços
e traçados
e riscos indecifráveis
e intermináveis
para alimento de traças
e estou feliz infelizmente
apesar das mortes de tantas gentes

BH, 01301002021; Publicado: BH, 0200802022.

sob o manto da boca da noite

sob o manto da boca da noite
engolido pela escuridão me
adentrei na garganta da treva
com visão de visionário
os breus ficaram claros
com audição de morcego
os sons do silêncio audíveis
com raciocínio lógico
as respostas rápidas
com meditação transcendental
de guru espiritual
de mosteiro de monges
e albergue episcopal
o medo se arrefeceu
e a usar criatividade de artistas
os obstáculos transpostos
a esbanjar imaginação de mago
e de bruxo que
fazem o universo ficar pequeno
e com lucidez de lúcido
e a razão pura de gênio racional
e a percepção de cego fenomenal
inspiração de poeta abissal
intuição de sensitivo paranormal
esperei a madrugada
e não senti cansaço
e deparei com o pé
da montanha no fim do vale
e o espírito revigorado
e inabalável
o coração de couraça de encouraçado
e o ser de sobrenatural iluminado
a alma de titã rei de gigante avante
pedra por pedra
pedreira por pedreira
e rocha por rocha
rochedo por rochedo
e rochosa por rochosa
vim
vi
e venci
as íngremes cordilheiras de picos
envoltos de nuvens
e avistei as paisagens longínquas
e as visitas magníficas
e ao retornar olharam para mim
com óculos escuros
para não perderam a visão

BH, 01301002021: Publicado: BH, 0200802022.

quinta-feira, 11 de agosto de 2022

que maravilha maravilhado a escrever poemas

que maravilha maravilhado a escrever poemas
que nunca me deixam saci saciado a pular
insatisfeito numa pena só no leito de morte
com porte de maribondo moribundo na
imundície do catre na cela do quarto imundo
de velho com alma ainda do velho mundo busco
lápides para epitáfios em cemitérios
abandonados para registrar em cada campa
do morto desconhecido que indigente foi
enterrado negrinho do pastoreio em sepultura
de escravo deixo em todo aqui jaz um descanse
em paz sigo em frente com o trabalho de papa
defunto pregador de cruz em cabeceiras de
covas rasas ao relento recebo por pagamento
um poema de lamento uma elegia que finge ser
poesia agradeço o pão que não é de ló de cada
dia que o diabo amassou a fingir com maesria
que maravilhado com essa iludida maravilha
afasto o falso fausto mefistofelis do cão da 
angústia da agonia a encenar alegria no fim do
dia subo sísifo morto as encostas das costas
da montanha com a pedra morta nas costas

BH, 01101002021; Publicado: BH, 0110802022.

quarta-feira, 10 de agosto de 2022

se impossível não for

se impossível não for
preciso de mais uma chance de vida
se possível for
é que ainda não sonhei
e nem saí do pesadelo de louco
e tenho que acabar com este desespero
e é só mais uma chance de vida
antes de morrer de vez
e me salva desta devastação 
que me assola
e imploro nesta oração
mais uma chance de vida
e clamo nesta prece
só mais uma chance de vida
antes da aproximação
total do meu fim
e aí ai de mim
quem irá atender este peregrino
que atravessou o deserto
nesta viagem sem volta?
neste caminho sem destino?
só para reinvindicar
mais uma chance de vida
e depositar uma duna
ao pé do altar
e deixar de herança uma montanha
feita de diamantes de grãos de areia
e uma estrada mármorea de pagamento
pelos pigmentos na pele de cordeiro
para quem vai me legar
nesta lamúria de mortal terminal
mais uma chance de vida
e chegou à boca do abismo
e gritou até às últimas forças
mais uma chance de vida
a esse deslumbrado viajante
à Ilha do oásis da miragem
e o eco grasnou
até ao fim do desfiladeiro a zombar
nem um dia de vida a mais

BH, 01101002021; Publicado: BH, 0100802022.

terça-feira, 9 de agosto de 2022

chorei sozinho a minha mágoa

chorei sozinho a minha mágoa
no silencio da madrugada
e não sei aonde anda a minha amada
no silêncio da madrugada
e só a sós exponho
as minhas vergonhas históricas
nestas lamentações de lamúrias indecorosas
e que apavoram com minhas imprecações
as musas que nos recônditos pulsam
os corações sem esperança de quem tem fé
e nunca a alcança
e o desespero da agonia
e a ansiedade da angústia atormentam
com sussurros de suspiros as lágrimas
contidas que não puderam fugir das masmorras
dos calabouços que levam acorrentados
aos  grilhões
aos cadafalsos
e com os portais intransponíveis sob vigilância
dos guardiões que afastam querubins
e serafins
ou todo aquele que ousa estender
as suplicações
ou as orações
ou as preces dessas almas que sofrem por falta
de liberdade
e são castigadas por suas audácias 

BH, 01101002021; Publicado: BH, 090802022.

segunda-feira, 8 de agosto de 2022

silêncio no infinito do universo

silêncio no infinito do universo
o fim de semana foi agitado
mas o caô do caos foi serenado
e o fogo no cais abrandado
agora na caverna reina a bonança
e o ambiente se apresenta
sorumbático
e com ar meditabundo
de mosteiro vagabundo
albergue imundo
e a imundície impera nos átrios das crateras
nos salões das naves
e nas cúpulas das cimeiras
todos resolveram dormir
mais um pouco para
dissimular o sofrimento
esquecer em sonhos os pesadelos
que é o viver
e o vagar nos espaços dos vácuos
e só algum sonâmbulo solitário
ou algum saltimbanco
sem plateia
ou um resto de fiel
sem deus
ou um deus desconhecido
e que por azar ainda não angariou
nenhum fiel com sorte
e um lobo isolado da estepe
uiva para o eco dos cânions
onde o corvo fez 
ninho na fenda mais inóspita

BH, 01101002021; Publicado: BH, 080902022.

sexta-feira, 5 de agosto de 2022

''Pauliicéia Desvairada", 70 Anos de Modernismo; G.R.E.S.E.S; Composição: Caruso / Deo / Djalma Branco / Maneco.

Eu vi
Ai meu Deus, eu vi
O arco-íris clarear
No céu da minha fantasia
No brilho da Estácio a desfilar
A brisa espalha no ar
Um buquê de poesia
Na Paulicéia Desvairada lá vou eu
Fazer poemas e cantar minha emoção
Quero a arte pro meu povo ser feliz de novo
E flutuar nas asas da ilusão
Me dê, me dá
Me dá, me dê
Onde você for, eu vou com você
Me dê, me dá
Me dá, me dê
Onde você for, eu vou com você
Lá vem o trem
Lá vem o trem do caipira
Um dia novo encontrar pela terra
Pela terra, corta o mar
Na passarela a girar
Músicos, atores e escultores
Pintores, poetas e compositores
Expoentes de um grande país
Mostraram ao mundo o perfil do brasileiro
Malandro, bonito, sagaz e maneiro
Que canta e dança, pinta e borda
E é feliz
E assim
E assim, transformaram os conceitos sociais
E resgataram pra nossa cultura a beleza do folclore
E a riqueza do barroco nacional
Modernismo, movimento cultural
No país da Tropicália
Tudo acaba em carnaval
Modernismo, movimento cultural
No país da Tropicália
Tudo acaba em carnaval

quinta-feira, 4 de agosto de 2022

poder de vontade de potência máxima

poder de vontade de potência máxima
de rabiscar garranchos nas paredes de pedras
rochosas dessas cavernas platônicas
e garrancheador da era da idade paleolítica
usei o sangue nestes escritos de escrituras
rupestres
e usei um osso como instrumento
e algumas das peles para manuscritos
e pergaminhos
e sozinho nessa idade de crânio de luzia onde a
pedra ainda é mingau
ou sopa
e à toda hora cai do céu em fogo
meteoros
e meteoritos incandescentes
e cada um com uma mensagem em códigos
dos confins dos infinitos dos gritos dos ecos
fossilizados nas lavas dos vulcões
exterminados que um dia virariam as falas dos
primatas
e semelhantes dos primeiros hominídeos a se
levantarem do chão em chamas
e a elevarem os olhos para os altos das
cordilheiras dos firmamentos
e a perscrutarem a abóbada leitosa que se
firmou depois de bilhões de anos-luz de
esfriamento
e nunca mais desabou sobre as cabeças dos
sobreviventes das covas subterrâneas que
formaram as gerações das gerações

BH, 0901002021; Publicado: BH, 040802022.

inspiração libertadora redentora

inspiração libertadora redentora
que resulta numa revolução de rebeldia de
juventude genial com atitude de disposição
de adolescente apaixonado com poder de
potência de pai de prole infinita
e de mãe gestora incubadora de universos
infinitos cada um com mais esplendor do que o outro
e filhas
e filhos de raios cósmicos
e de trovões de impactos interplanetários que
geram energias que movem sistemas de
vastas dimensões à velocidade da luz ao
cubo em corpos celestes divinais espirituais
que levam mensagens de anos-luz
e paz aos embalos dos corações doutras
dimensões milenares de séculos mais evoluídas
em experiências de civilizações modernas que
ainda rastejam nas terras das mães idades
das pedras das paredes das cavernas
e dos subterrâneos dos mantos
e das crostas dos montes das montanhas das
cordilheiras das rochas compostas por minerais
nobres matérias-primas das obras-primas que
reis magos ofereceram em oferendas às crianças santas
ouro
e incenso
e mirra dos tesouros

BH, 0901002021; Publicado: BH, 040802022.

vem meu bem

vem meu bem
também quero meu bem
então vem sem outro alguém
dalgum lugar ao sol
ou dalgum lugar ao arco-íris
a esconder na íris
ou nas retinas
ou no supercílio
ou nas pestanas
ou nos cílios
ou nas sobrancelhas
ou nas pálpebras
mas vem meu bem
na visão das vistas das paisagens
das planícies
dos planaltos
ou das pradarias
ou dos penhascos
das ladeiras
das chapadas
das veredas
em flores de margens de regatos
de risos de sorrisos de riachos
lamúrias de lamentações de ribeirões
de acordes de açudes que geram cantigas
de corações de cantos de recantos
encantados de canções
de almas
de amores
vem meu bem sem temores
que temos a desfrutar sabores
fragrâncias de aromas
de odores
perfumes sem dores
de sensíveis sensitivos sentidos
sedentos de papilas gustativas
de palmas de mãos de doce algodão

BH, 0901002021; Publicado: BH, 040802022.

a saída para a humanidade é o ser humano

a saída para a humanidade é o ser humano
fazer poemas com humanismo
e a solução aos trabalhadores do mundo
é o trabalhador fazer poesias trabalhistas
com trabalhismo
unamo-nos no direito humano de vivermos em
paz uns com os outros a preservar a terra do
planeta ao conservar a natureza
e a compartilhar o mundo com inspiração de
poeta com meditação de monge com
criatividade de artista
e com imaginação de gênio
e com consciência de consciente
sabedoria de sábio
e com fé
e audácia
ousadia
e coragem
e força
e discernimento de inteligente
e dons de lucidez
e percepção
e intuição
e razão de fazer da nossa habitação
um jardim dum paraíso terrestre real
e com filosofia de filósofo
e psicologia de psicólogo
e psiquiatria de psiquiatra
e profecia de professor

BH, 0901002022; Publicado: BH, 040802022.

"PRÉMIO NOBEL DE LITERATURA":

 "PRÊMIO NOBEL DE LITERATURA": O BRASIL PRECISA GANHAR UM PRÊMIO NOBEL DE LITERATURA: QUEM AJUDA À PROMOÇÃO DO BLOG DO IVANOVITCH 2, AO PRÊMIO NOBEL DE LITERATURA, PELO CONJUNTO DAS OBRAS-PRIMAS?

quarta-feira, 3 de agosto de 2022

não encontrei a estrela que caiu da cumeeira

não encontrei a estrela que caiu da cumeeira
da soleira do barracão da minha avó na subida
da quebrada do barranco no começo do morro
e o picumã deixou o terno de linho branco do 
meu tio hugulino preto
e o meu tio
e o terno
descerem o morro do cemitério circunspectos
o anel de ouro no dedinho mindinho
e no anel uma pedra reluzente vermelha
e diziam que era rubi
e a pender da algibeira do colete uma corrente
que prendia um relógio omega ferradura
legítimo dito uma raridade
e lá ia o meu tio respeitado
respeitador
e brigador
e deflorador
e falavam as bocas tortas que carregava por
debaixo do colete um punhal cravejado
e uma garrucha carregada azeitada
nos bolsões das calças largas muitos pacotes
de dinheiro vivo pois não confiava em bancos
e muitos envelopes algodoados com pedras
preciosas razão da qual mantinha as unhas
grandes bem cuidadas que era para fazer
cócegas nas mulheres
e pegar as pedras preciosas sem sujar
ou arranhar
ou embaçar
e penduraram o terno do meu tio no pau de
fumeiro que servia para defumar carnes
e linguiças
e que ficava em cima do fogão de lenha da minha avó a aproveitar o calor do fogo o terno de branco que era ficou pretinho como carvão

BH, 0701002021; Publicado: BH, 030802022.

quem sabia que a poesia feria

quem sabia que a poesia feria
e alimento de todo dia pão que dá azia
e quem sabia que a poesia era agonia
e angústia de ansiedade de afogado
e ânsia de asfixiado
e desassossego de enforcado
e haja pânico depressivo no poema agressivo invasivo
e quem sabia que poesia
.já nasceu uma elegia
sem elegância de cadáver
rigor defumado em fragrância
de réquiem
e uma ode fúnebre
e um verso rude
e um versinho tosco
e uma estrofe torta
e até um versículo satânico 
e quem
sabia alguma coisa dum poema
mudo a borboleta nasceu cega a
cigarra nasceu muda o eco nasceu
surdo o poeta nasceu morto ou
não nasceu e matou a mãe e quem
diria que faltaria alegria um dia na
vida dum morto que não foi
enterrado pelos seus próprios
mortos e as formigas tiveram que
trabalhar em dobro a esconder o
horror do corpo exposto com 
terror às visões das crianças dos
guetos das periferias que nunca
conheceram a poesia e o poema
sempre foi o edema duma bala
perdida justamente na boca da
face do olho a olhar o horizonte da
janela do barracão da favela o
sol que se ocultava atrás do monte

BH, 0701002021; Publicado: BH, 030802022.

segunda-feira, 1 de agosto de 2022

beleléu levaram o velho à casa de belial

beleléu levaram o velho à casa de belial
e o velho não quis conversa
e chegou à porta
e deu trabalhos
e no portal pirraçou cão velho molhado a
sacodir respingos
e resquícios dos restos dos despojos surreais
a feder boduns de bodes pretos mal lavados
e empacou no umbral aqui não é legal
e na soleira a espernear a ir a outro
sobrenatural das assombrações nas sombras
das quebradas do beleléu tinhoso
e não deixou barato em choro
ou chorinhos
ou chorões
e deu de cara com as caras das faces das
cabeças de cérbero
e seus rostos de fauces
e espantou cada falsa careta de carranca do
guardião
e despachou o velho para outra dimensão
além da via-láctea onde às vistas da visão
universal o visionário extraordinário com o
indicador em riste tocou o indicado
moribundo de moringa cheia
e o velho imundo retorna ao mundo em
forma duma flor num vaso duma criança da
cor dum raio de sol

BH, 0701002021; Publicado: BH, 01º0802022.

como é impossível uma obra-prima

como é impossível uma obra-prima
inédita na literatura poética moderna
angariar alguma notoriedade
e para ser uma obra-prima de antologia tem
que ser mais do que revolucionária
e visual
e de visão de visionária
e com letras que parecem palavras do futuro
com verbos relevantes
e que despertem a juventude rebelde
e a mocidade independente
e a sociedade livre
e com elevado interesse pela literatura
ditada pelo universo
e uma obra-prima desconhecida
e que navegou milênios a cavalgar
expressões de inspirações
e de imaginações geradas por exoplanetas
extintos mas cujas ondas das reverberações
ainda viajam através das eternidades
e singram nos berços das imortalidades
e das posteridades
e no último suspiro de vida antes de ser
engolida num soluço por um buraco
devorador de planetas
e de soles
e de sistemas de universos que são sussurros
de sombras 
e arroubos de penumbras em monturos
e assombrações em murundus de sonhos
pueris de poeiras cósmicas de ventos solares

BH, 0601002021; Publicado: BH, 01º0802022.

quando olhei o céu

quando olhei o céu
o céu não estava no lugar
o primeiro céu que vi
já havia saído
e agora era um segundo céu
ou o terceiro
pois não sei bem dizer
quantos são os céus
que a humanidade vê
desde que o primeiro ser humano
passou a ser designado ser humano
e talvez este céu
seja até o bilionésimo infinito céu
e desde antes do ser da raça humana
ser batizado de ser raça humana
e olho este céu
e não sou nada
e fico a marretar
nessas bigornas infinitas
dessas forjas de fornalhas solares
de minérios
e de rochas
e de materiais desconhecidos
e dos quais são feitos as naves
que vencem o tempo real
dimensional à velocidade inexistente
e da luz elevada ao quadrado
e depois ao cubo potencial

BH, 0601002021; Publicado: BH, 01º0802022.