O areal infinito é como um rubro oceano,
Que resplandece, mudo, em seu leito espraiado.
Ondula, imoto, o céu cor de cobre, do lado
Do horizonte em que habita o formigueiro humano.
Nem rumor e nem vida... O leão, farto, descansa
No antro afastado, em meio aos matagais infindos,
Vai beber a girafa esguia à fonte mansa,
Que a pantera conhece, ao pé dos tamarindos
Dorme tudo. Sequer um pássaro no ar quente,
No ar em que gira um sol de fogo, um sol em chama.
Às vezes, com volúpia, adormida serpente
Faz ondular, morosa, a rutilante escama.
O ar inflamado queima. O calor é mais denso.
E, bamboleando a massa - intrépidos viajantes,
Ruma do ermo natal, pelo deserto imenso,
Vão-se, mum bando escuro, os tardos elefantes.
Vêm eles do horizonte ensanguentado e quieto,
Vêm levantando o pó, que em nuvem grossa ondeia,
E, para não sair do caminho mais reto,
Desmonoram com a pata os cômoros de areia.
Velho chefe, talvez, é o que à frente caminha:
Rugoso como um tronco a pele do seu dorso;
É um rochedo a cabeça... O arco imenso da espinha
Dobra-se, com violência, ao mais pequeno esforço.
Os passos não estuga e também não lerdeia.
Que os passos pelo dele o bando inteiro marca,
E, deixando após si fundos sulcos na areia,
Seguem todos atrás do velho patriarca.
Seguem, levando a tromba apertada entre os dentes,
As orelhas em leque. O ventre bate e fuma...
E o suor deles produz uma ligeira bruma
No ar cheio de tavões e de insetos ardentes.
Mas que importam a sede e o calor sufocante?
Que lhes importa o enxame importuno que esvoaça?
Vai o bando a pensar numa silva distante
- Primeira habitação da primeira raça.
Vai rever uma selva umbrosa o escuro bando
E o caudal em nada o hipopótamo enorme,
E onde, brancos de luar, iam beber, quebrando
Os juncos marginais com a grande pata enorme.
Lá vão... E a linha escura a fantástica ondeia...
Lá vão eles, molgando as juntas lentamente.
Mas passam... e depois fica imóvel a areia,
Passam... e depois fica o deserto somente.
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