Rei dos sertões, o Sol, alagando a planura,
Cai, em golfões de luz, do azul do céu infindo.
Tudo se cala e o ar se abrasa amorrecido;
Em seu manto de fogo, a Terra está dormindo.
O espaço não tem fim, os campos não têm sombra
E está sem água a fonte onde o gado bebia;
O denso matagal, que escurece o horizonte,
Imóvel, dorme ao longe, em funda letargia.
Apenas o trigal, desdenhoso do sono,
Se estende na amplidão, lembrando um mar dourado;
Vindo ao mundo na paz da Terra sacrossanta,
A taça azul do Sol esgota sossegado.
Como um suspiro, então, de sua alma incendida,
Do meio dos pendões, maduros, farfalhantes,
Uma vaga desperta e, lenta e majestosa,
Avança e vai morrer nos espaços distantes.
A babugem deixando escorrer na barbela,
Jazem, no capinzal, pesados animais.
Seus olhos tristes e soberbos vão seguindo
O sonho interior que não acaba mais.
Homem, se vais, ao meio-dia, ao campo em fogo,
E tens, no coração, alegria, amargor,
Foge! É o Sol destruição, vazia a Natureza:
Nada tem vida aqui, nem dá prazer nem dor.
Se as lágrimas, porém, e os risos não te enganam,
E este mundo sem paz, sedento de esquecer,
Queres, ficando alheio ao perdão, às ofensas,
Gozar de um derradeiro e sofrido prazer,
Vem! Mergulha no fogo inclemente do Sol.
Vem! E escuta do Sol a sublime lição.
E volta lentamente às cidades mesquinhas,
Depois de ter, no Nada, ungido o coração.
Nenhum comentário:
Postar um comentário