sábado, 14 de maio de 2011

Abençoados sejam meus pretos; BH, 0140502011; Publicado: BH, 0140502011.

Abençoados sejam meus pretos,
Bem-aventuradas minhas pretas,
Negras canonizadas e santificadas,
Almas relhadas nos pelourinhos;
Bendito sangue derramado na
Escravidão, justificado pelos
Padres da igreja e pelos deuses do
Céu; a benção meus tios pretos que
Foram levados e vieram trazidos
Em transe e em trânsito; minhas
Mães de santo, mucamas, meninas
Moças para servir senhores barões;
Abençoados sejam todos os que
Foram amaldiçoados pelos malditos,
Lançados em porões, senzalas,
Cortiços, favelas, lugares proibidos à
Justiça, à igualdade, à fraternidade
E à liberdade; aonde andam as
Marias pretas que cuidaram de mim,
Ensinaram-me cantigas, causos, curas;
Cadê minhas negras, pretas Marias,
Abençoadas sejam, beatificadas,
Fizeram milagres comigo, levaram-me
A passear nas esquinas, a ver os letreiros,
As vitrines das lojas, as luzes das noites,
Os luzeiros e as estrelas do céu; mas
Um céu só de pretos, um céu para os
Pretos, que nunca foram para o céu,
E pela outra liturgia, nunca vão para o céu;
Mas, não importa, um céu de mortos, que
Fique lá com seus mortos; os céus dos
Pretos têm batidas de pés calejados no
Chão dos terreiros, têm costas vergadas,
Muita batucada, farofa de galinha e azeite de
Dendê; a benção meus avós, deixa eu entrar,
Que vim de longe, a subir a serra da Barriga,
Do Quilombo dos Palmares, do lado de lá.

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