sexta-feira, 6 de maio de 2011

Antônio Nobre, Os Sinos; BH, 060502011.

Os sinos tocam a noivado,
No Ar lavado!
Os sinos tocam, no Ar lavado,
A noivado!

Que linda menina que assoma na rua!
Que linda, a andar!
Em êxtase, o Povo comenta "que é a Luz
Que vem a andar..."

Também, algum dia, o Povo na rua,
Quando eu casar,
Ao ver minha Noiva, dirá "que é a Luz
Que vai casar..."

2

E o sino toca a batizado
Um outro fado!
E o sino toca um outro fado,
A batizado!

E banham o anjinho na água de neve,
Para o lavar,
E banham o anjinho na água de neve,
Para o sujar.

Ó boa Madrinha, que o enxugas de leve,
Tem dó desses gritos! compreende esses ais;
Antes enxugue a Velha! antes Deus to leve!
Não sofre mais...

3

Os sinos dobram por anjinho,
Lá no Minho!
Os sinos dobram, lá no Minho,
Por anjinho!

Que asseada que vai pra cova!
Olhai! olhai!
Sapatinhos de sola nova,
Olhai! olhai!

Ó ricos sapatos de solinha nova,
Bailai! bailai!
Nas eiras que rodam debaixo da cova...
Bailai! bailai

4

O sino toca pra novena,
Gratiae plena,
E o sino toca, gratiae plena,
Pra novena.

Ide, Meninas, à ladainha,
Ide rezar!
Pensai nas almas como a minha...
Ide rezar!...

Se, um dia, me deres alguma filhinha,
Ó Mãe dos Aflitos! ela há de ir também:
Há de ir às novenas, assim à tardinha,
Com sua Mãe...

5

E o sino chama ao Senhor-fora,
A esta hora!
Os sinos clamam, a esta hora,
Ao Senhor-fora!

Acendei, Vizinhos, as velas,
Alumiai!
Velas de cêra nas janelas!
Alumiai!

E Luas e Estrêlas também põem velas,
A alumiar!
E a alminha, a esta hora, já está entre elas,
A alumiar!

6

E os sinos dobram a defuntos,
Todos juntos!
E os sinos dobram, todos juntos,
A defuntos!

Que triste ver amortalhados!
Senhor! Senhor!
Que triste ver olhos fechados!
Senhor! Senhor!

Que pena me fazem os amortalhados,
Vestidos de prêto, deitados de costas...
E de olhos fechados! e de olhos fechados!
E de mãos postas!

E os sinos dobram a defuntos,
Dlin! dlang! dling! dlong!
E os sinos dobram, todos juntos,
Dlong! dling! dling! dlong!

                                                                         (Pôrto, 1891.)

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