quarta-feira, 15 de junho de 2011

Tomás Antônio Gonzaga, Lira XI; BH, 0150602011.

Não toques, minha Musa, não, não toques
Na amorosa Lira,
Que às almas, como a minha, namoradas
Doces canções inspira:
Assopra no clarim, que apenas soa,
Enche de assombro a terra!
Naquele, a cujo som cantou Homero,
Cantou Virgílio a Guerra.

Busquemos, ó Musa,
Empresa maior;
Deixemos as ternas
Fadigas de Amor.

Eu já não vejo as graças, de que forma
Cupido o seu tesouro;
Vivos olhos, e faces cor-de-rosa,
Com crespos fios de ouro:
Meus olhos só vêem graças, e loureiros;
Vêem carvalhos, e palmas;
Vêem os ramos honrosos, que distinguem
As vencedoras almas.

Busquemos, ó Musa,
Empresa maior;
Deixemos as ternas
Fadigas de Amor.

Cantemos o Herói, que já no berço
As serpes despedaça;
Que fere os Cacos, que destrona as hidras;
Mais os leões que abraça.
Cantemos, se isto é pouco, a dura guerra
Dos Titãs, e Tifeus,
Que arrancam as montanhas, e atrevidos
Levam armas aos Céus.

Busquemos, ó Musa,
Empresa maior;
Deixemos as termas
Fadigas de Amor.

Anima pois, ó Musa, o instrumento,
Que a voz também levanto,
Porém tu deste muito acima o ponto,
Dirceu não sobe tanto:
Abaixa, minha Musa, o tom, qu'ergueste;
Eu já, eu já te sigo.
Mas, ah! vou a dizer Herói, e Guerra,
E só MARÍLIA digo.

Deixemos, ó Musa,
Empresa maior;
Só posso seguir-te
Cantando de Amor.

Feres as cordas d'ouro? Ah! sim, agora
Meu canto já se afina:
E a humana voz parece que ao som delas
Se faz também divina.
O mesmo, que cercou de muro a Tebas,
Não canta assim tão terno;
Nem pode competir comigo aquele,
Que desceu ao negro Inferno.

Deixemos, ó Musa,
Empresa maior;
Só posso seguir-te
Cantando de Amor.

Mal repito MARÍLIA, as doces aves
Mostram sinais de espanto;
Erguem os olhos, voltam as cabeças,
Param o ledo canto:
Move-se o tronco, o vento se suspende;
Pasma o gado, e não come:
Quanto podem meus versos! Quanto pode
Só de Marília o nome!

Deixemos, ó Musa,
Empresa maior;
Só posso seguir-te
Cantando de Amor.

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