Não quero pedir nada ao fado e à vida.
Nada vale pedir—lhes, porque são
Dependentes de uma outra coisa ida
Que não lhes deixou forma nem razão.
Para que hei eu de pedir glória ou esmola
A quem não tem licença para ser?
O ar suficientemente me consola
Por existir, e o campo com’ o ver.
Não, nada peço.
Quando a prece é inútil
Ë prolixo o mais curto do rezar.
Se a natureza é assim tão falsa e fútil
De que serve sentir, crer ou pensar?
Há ramos altos cuja sombra espalha
Um sossego de fresco sobre nós,
E há um som de água, que ao cair da calha,
Nos faz mais sonolentos e mais sós.
Isso sim, isso...
O resto é o que o mundo
Tem por glória ou amor ou isenção.
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