sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Wislawa Szymborska, De uma expedição realizada ao Himalaia; BH, 0100202012.

Ah, então este é o Himalaia.
Montanhas correndo para a Lua.
O instante da largada fixado
No rasgar súbito do céu.
Deserto de nuvens perfurado.
Um golpe no nada.
Eco - uma branca mudez.
Silêncio.

Yeti, lá embaixo é quarta-feira
Tem abecedário, pão
Dois e dois são quatro
E a neve derrete.
Tem rosa amarela,
Tão formosa, tão bela.

Yeti, nem só crimes
Acontecem entre nós.
Yeti, nem todas as palavras
Condenam à morte.

Herdamos a esperança -
O dom de esquecer.
Você vai ver como damos
À luz em meio a ruínas.

Yeti, temos Shakespeare lá,
Yeti, e violinos para tocar.
Yeti, ao cair da noite
Acendemos a luz.

Aqui - nem lua nem terra
E a lágrima congela.
Ó Yeti meio lunar
Pense, volte!

Entre as quatro paredes da avalanche
Assim eu chamava pelo Yeti
Batendo os pés para me aquecer
Na neve
Na eterna.

                                                de "Wolanie do Yeti"
                                             (Chamando pelo Yeti), 1957

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