CANTO À AMADA
Eu tenho uns versos bonitos
Pra cantar pra minha amada
Sempre sempre desdobrada
Em beleza e formosura
Ontem minha amada estava
Dentro da cara da Lua
Numa garota da rua
No palhaço da folia
Um dia vi minha amada
Nas águas do grande mar
Outra vez a encontrei
Num belo maracatu
Numa canção ela estava
Num samba estava também
Estava numa boa pinga
Sempre está no meu amor
Eu tenho uns versos bonitos
Pra cantar pra minha amada
Sempre sempre desdobrada
Em beleza e formosura
SOU NEGRO
A Dione Silva
Sou Negro
Meus avós foram queimados
Pelo sol da África
Minh'alma recebeu o batismo dos tambores atabaques, gonguês e Agogôs
Contaram-me que meus avós
Vieram de Loanda
Como mercadoria de baixo preço plantaram cana pro senhor do Engenho novo
E fundaram o primeiro Maracatu.
Depois meu avô brigou como um danado nas terras de Zumbi
Era valente como quê
Na capoeira ou na faca
Escreveu não leu
O pau comeu
Não foi um pai João
Humilde e manso
Mesmo vovó não foi de brincadeira
Na guerra dos Malês
Ela se destacou
Na minh'alma ficou
O samba
O batuque
O bamboleio
E o desejo de libertação...
GRAVATA COLORIDA
Quando eu tiver bastante pão
Para meus filhos
Para minha amada
Pros meus amigos
E pros meus vizinhos
Quando eu tiver
Livros para ler
Então eu comprarei
Uma gravata colorida
Larga
Bonita
E darei um laço perfeito
E ficarei mostrando
A minha gravata colorida
A todos os que gostam
De gente engravatada...
TEM GENTE COM FOME
Trem sujo da Leopoldina
Correndo correndo
Parece dizer
Tem gente com fome
Tem gente com fome
Tem gente com fome
Piiiiii
Estação de Caxias
De novo a dizer
De novo a correr
Tem gente com fome
Tem gente com fome
Tem gente com fome
Vigário Geral
Lucas
Cordovil
Brás de Pina
Penha Circular
Estação da Penha
Olaria
Ramos
Bom Sucesso
Carlos Chagas
Triagem, Mauá
Trem sujo da Leopoldina
Correndo correndo
Parece dzier
Tem gente com fome
Tem gente com fome
Tem gente com fome
Tantas caras tristes
Querendo chegar
Em algum destino
Em algum lugar
Trem sujo da Leopoldina
Correndo correndo
Parece dizer
Tem gente com fome
Tem gente com fome
Tem gente com fome
Só nas estações
Quando vai parando
Lentamente começa a dizer
Se tem gente com fome
Dá de comer
Se tem gente com fome
Dá de comer
Se tem gente com fome
Dá de comer
Mas o freio de ar
Todo autoritário
Manda o trem calar
Psiuuuuuuuuuu
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NEGROS
Negros que escravizam
E vendem negros na África
Não são meus irmãos
Negros senhores na América
A serviço do capital
Não são meus irmãos
Negros opressores
Em qualquer parte do mundo
Não são meus irmãos
Só os negros oprimidos
Escravizados
Em luta por liberdade
São meus irmãos
Para estes tenho um poema
Grande como o Nilo
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