Este buquê de tenras flores
Vos são, meu bem, fiéis penhores
De que esta vida é temporã
Como este ramo e que o prazer,
Deveis colher, deveis colher,
Sem o deixar para amanhã.
Sem esperar que o fim da vida,
De frio torpor adormecida,
O nosso corpo assaz degrade,
Passai em cálidos momentos
E mui gentis encantamentos
O que sobrou da mocidade.
Porquanto a Parca, sem doçura,
Pra nos deitar na sepultura,
Já nos lançou a sua sorte;
Acreditai, amor, em mim,
Vivamos bem até o fim:
Nada se sente após a morte.
Nossa feição se desfigura,
Vai-se pulmão, sangue, nervura,
Fígado, pulso e coração:
Fica somente sombra, espuma,
Nenhum sentir, veia nenhuma,
Presa dos vermes e do chão.
Sabeis do padre o que ele diz,
Quando nos traça na cerviz
A santa cruz com devoção:
Nos faz ouvir que somos só
Corpos que vêm do mesmo pó
E ao mesmo pó se voltarão.
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