Vede o inculto novilho em liso plaino!
Orgulhoso senhor de vastos campos
Troa irado e fogoso,
E o bosque atroa e o pó sutil expande
Com as unhas bipartidas - e nos troncos
Ensaia os fortes galhos.
Embalde o afaga o agricultor que o chama,
Embalde esconde o jugo poderoso;
Ele pára - e recua -
Dos olhos - cor de sangue - as iras pulam,
Que a indômita cerviz não sói curvar-se
À mansa voz traidora.
Assim, fui eu também no albor da vida
Orgulhoso, como ele, e forte d'alma
Dizia eu entre mim: <Que força humana
Há i capaz de me vergar escravo?
Que braço - que poder - ou que potência
Neste mundo, em que eu sou - pode curvar-me,
E assentar-me no colo o jugo escravo?
Ninguém - ninguém o pode! Assim na terra
Hei de a vida passar co'a fronte erguida
A todos sup'rior - maior que os grandes
Hei de entre eles sentar-me ébrios na vida,
Hei de sentar-me - e crente - e bardo - n'harpa
Cantando o nome do Senhor que pune,
Da vida nos festins cantando a morte.
Foi Deus que me puniu - acaso o orgulho
Em nós pode caber - em nós abortos
De incompleta feitura - uns quase vermes
Que sobre a lama - e pó - nos arrastamos?
Foi Deus que me puniu: co'a fronte baixa,
Coberto o rosto de vergonha - e tímido
Como aos pés do senhor um vil escravo,
Subi de um rico a escada - suplicante.
Vilão mesquinho! dentre os frouxos lábios
Sorriso frouxo despontou; - e a testa
Baixa, e curva, e calva, e as faces
Cheias de ruga - de palor, - e o rosto
Vidrado - e o baço - eram ruim composto
D'avarento feliz... c'os pés no féretro.
Teu nome - não direi - que fora eterno...
Foste sem ele em vida, em morte - o sejas!
Ah! que se eu não quebrei naquele instante
A minha harpa - inda então desconhecida -
Foi porque ainda queria confessar-te,
Ó meu Deus - que foi grande o teu castigo,
Foi porque ainda queria ao mundo inteiro
Por mor vergonha minha - confessar-me
Baixo - infame - e vil - quando essa escada
Do avarento subi! - que não esmola,
Mas um favor pedindo!
Pitões - 5 de novembro de 1844.
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