domingo, 16 de junho de 2013

Mário Quintana, Baú de Espantos, Um nome na vidraça; BH, 0160602013.

A guriazinha
Desenha as letras do seu nome na vidraça
 - Encantadoramente mal feitas -
As letras escorrem...
Enquanto isto,
Umas pessoas morrem.
Outras nascem...
Entre umas e outras,
Viro mais uma página
Desta novela policial.
E exatamente à página 293, verifico,
Quando o herói vai torcendo cautelosamente o trinco da porta,
Interrompo
A leitura
E ele e todos os outros personagens ficam parados.
Eu sou o Deus carastróico: não ligo,
Olho agora a litografia da parede
 - Um trigal muito louro e acima dele apenas uma asa
Contra o céu azul.
É como se eu abrisse uma janela na frustração da chuva!
Bem, neste momento as pessoas já devem ter morrido ou nascido
A verdade, minha filha,
É que eu não sei como parar este poema:
Nos dias de chuva sobem do fundo do mar os navios fantasmas,
Sobem ruas, casas, cidades inteiras,
E procissões, manifestações, os primeiros
E os últimos, o padre-cura e o boticário
Discutindo política na esquina...
(A gurizinha
Apaga as letras lacrimejantes da vidraça.
E recomeça...)

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