Sinto que não vou parir nada hoje
Não sei se é devido a ideia não estar grávida
A inspiração não estar fecunda o útero mental
Não estar com o feto completamente formado
O ideal não germinou falhou a criatividade a
Criatura não vingou ao morrer antes de nascer
Por não nascer não tem definição de beat ou de
Concreta, moderna ou visual ou de colagem é só
Um texto que depois pode ser lançado no esgoto
Na lata de lixo ou na sarjeta que não vai fazer
Diferença não é recheado de carne nem de
Plástico não é enxertado de silicone nem
Moldado pelo Dr Ivo Pitanguy nem sofreu
Lipoaspiração esteticamente não preenche a
Necessidade de quem precisa encher os olhos
De ficção daquilo que os olhos veem na verdade
Não enxergam as mãos tocam mas se sentem
Vazias frias não existe a colorização humana das
Mulheres naturais normais com suas celulites
Varizes sem dietas sem academias sem músculos
As mulheres mulheres com sentimentos iguais
Que sofrem por seus homens maridos filhos
Que sentem a dor choram sabem o papel a
Desenvolver na composição da sociedade
Universal a poesia que desenvolvo poderia
Ser assim feito essas mulheres de verdade
Não de festim o poema que deveria ter sido
Parido poderia levar o suor da luz do parto
Não deveria ser escondido no quarto
Sim estar na natureza na biodiversidade
A enfrentar toda a dificuldade processo
Que é gerar fazer com que seja aceito
Tal um filho pródigo que volta à casa aos
Braços do pai depois de viver entre os porcos
Nas reflexões deste fragmento que deixo sangrar
Hemorragia de lauda desestruturada sem flanco
Que no costume demoro a aceitar a acreditar
A ser o primeiro a negar a paternidade
A maternidade a adoção por receio de
Cair na ridicularizada na mediocridade
No suicídio de haraquiri intestinal a
Sonhar ser o Colosso de Rodes da antiguidade a
Estátua da Liberdade ou as pirâmides do Egito o
Monte Fuji o trem bala que corre sobre os trilhos
Entre cidades japonesas na era da modernidade
Hoje quem fala assim faço poesia é antes de mais
Nada um troglodita esquecido um fóssil da cultura
Que ninguém mais ousa cultuar nos dias atuais a
Não ser os terroristas teimosos que com extrema
Vontade enfrentar baixarias gozações têm a coragem
De expor em livrarias um livro de poesias de poemas
Vou bater com a minha cabeça nas pedras do caminho
Bater com os meus olhos nas pontas dos meus dedos
Abrir com os meus dentes valas nas terras inóspitas
Virar farelo igual aos judeus pelos nazistas aos
Campos de concentração de extermínio os
Farelos resultados da trituração por máquinas
Depois de terem sidos mortos os corpos queimados
Misturados com a terra para não serem
Nem identificados nem lembrados como restos
De seres humanos esquecidos sempre
Para sempre longínquos distantes
Quero me sentir me colocar no lugar
Dum desses judeus duma dessas crianças
Ou duma dessas mulheres que a violência
Do nazismo dizimou sem motivo algum
Por isso que não posso acreditar que a
Minha poesia deve existir permanecer
Por isso que a minha covardia não
Deixa que um poema expelido sofregamente
Angarie louros medalhas como se fosse
A aura da felicidade da competência
Quero sobre os meus ombros os amargos
As mágoas quero o sal grosso esfregado nas
Minhas feridas o álcool o iodo nas minhas frieiras
Ser amarrado à cauda dum cavalo
Puxado sobre as pedras das estradas
Amarrado à boca dum canhão preste a
Ser disparado ter o corpo despedaçado
Não posso alegrar nem causar alegria
Falar em esperança ter esperança
Quando começo a divagar sobre a vida;
Sem razão sem motivo justificativo
Não posso ser feliz nem causar a felicidade,
Não posso existir nem querer a existência
Só se me derem todas as almas
Todos os espíritos fantasmas que
No passado sofreram morreram na violência
Na dor no sofrimento no torpor
Deem-me todas essas mentes calcinadas loucas
Pela loucura maldade que as exterminaram
Quero possuir todas essas legiões de sofredores
Quero todos os pecadores dentro de mim
Como se minha barriga abrangesse
Todos esses malformados fetos para abortos
Por favor não zombeis não riais de mim
Ajudeis-me a não sentir este carma
Este nirvana que me deixam em frenesi
Este prana que me profana me prostra
Que me faz ruir de cima do meu ser medieval
Que me faz ser levado pela força do vendaval (1)
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