Não quero saber como as coisas se comportam.
Quero inventar comportamento para as coisas.
Li uma vez que a tarefa mais lídima da poesia é a
De equivocar os sentidos das palavras.
Não havendo nenhum descomportamento nisso
Senão que alguma experiência linguística.
Noto que às vezes sou desvirtuado a pássaros, que
Sou desvirtuado em árvore, que sou desvirtuado para pedras.
Mas que essa mudança de comportamento gental
Para animal vegetal ou pedra
É apenas um descomportamento semântico.
Se eu digo que grota é uma palavra para ventar nas pedras,
Apenas faço o desvio da finalidade da grota que não é a de ventar nas pedras.
Se digo que os passarinhos faziam paisagens na minha.
É apenas um desvio das tarefas dos passarinhos que não é a de fazer paisagens.
Mas isso é apenas um descomportamento linguístico que
Não ofende a natureza dos passarinhos nem das grotas.
Mudo apenas os verbos e às vezes nem mudo.
Mudo os substantivos e às vezes nem mudo.
Se digo ainda que é mais feliz quem descobre o que não
Presta do que quem descobre ouro -
Penso que ainda assim não serei atingido pela bobagem.
Apenas eu não tenho polimento de ancião.
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