Só sonho em escrever obras de arte
Não consigo
Sonho em escrever obras-primas
Infrutífero
Acordo para os pesadelos da realidade
Parto para o parto destes garranchos
Nesta parca folha de papel
Sem sucesso
Teimo em voltar às cavernas
Escrever nas paredes delas
As escritas rupestres
Com alguma esperança
Dalgum pesquisador de escritos antigos
Atinja as cavernas onde os escritos
Estão esquecidos nas paredes
Ledo engano
O que penso escrever então
Nesta pré-história em que vivo
Se a literatura não faz mais sentido?
Persisto nestas escrituras fossilizadas
Que nunca serão lidas
Teimo nestes escritos toscos
Que não impedirão o suicídio da humanidade
Mas enquanto não arranjar uma lápide
Para a cabeça parar de latejar
A saída é esta sangria
Como se fazia antigamente
Numa provocada hemorragia
Para o paciente não morrer
Molho a pena do meu osso no meu sangue
Na minha pele desidratada
Minha obra é registrada
Se será clássica erudita
Nem o tempo poderá dizer
Pois até ser encontrada
O tempo não existirá mais
Sem o tempo não há razão de viver
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