quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Llewellyn Medina, O Milagre, Prelúdio.

                                               O  milagre                                       
           
                                               Prelúdio

Fiquei triste quando soube o significado dessa  palavra
a  primeira que o ventou trouxe à seara
perdida em alfarrábios
labirintos inextricáveis
são tantos os símbolos
fazem nascer o sol toda manhã no Arpoador
quem me falou da palavra  deus
viajou por paragens paralelas perdidas
lendas vindas d’África
foi assim que talvez tenha vindo
quem chamou de canto o primeiro som da cotovia
quem o diferenciou de outro canto
este é um canário
qual foi a primeira palavra
que o generoso depositário das coisas
de todas as coisas
dos sonhos da manhãs de outono
as mais belas
das noites de escuridão
rompida pelo estalar do raio
barulho do trovão vem depois
           
            “Estamos aqui talvez para dizer:
            casa, ponte, árvore, porta, cântaro, fonte,
            janela – e ainda: coluna, torre...
            mas para dizer, compreende, para
            dizer as coisas como elas jamais
            pensaram ser intimamente.”

Foi o tempo no tempo
em que sabia que não sabia
e quase era santo
oh! mas quanto pecava nessa minha santidade
como o brilho das asas da varejeira
parada no ar espia
era o tempo em que não sabia
e a palavra entranhou-se nas coisas
surgiram as flores a dor o estertor da morte
metamorfoseada Grande Ceifadora
e houve então a nudez o sabor o sal
a tristeza incontida da insignificância


tudo é tão fugidio
a nuvem forma indizíveis formas enigmas

era talvez um bom tempo


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