Ai se tomasse um grande susto agora
Que desse-me um empurrão ou um
Esbarrão para a frente não que
Levasse-me ao chão ai se fosse
Despertado agora com um clarão ou
Um relâmpago acompanhado de
Trovão ou um raio que partisse-me
Ao meio tudo o que é vão ai se
Rompesse agora como rompe a
Aurora quebrasse a bolsa da
Placenta saísse ao dia como sai a
Poesia a espuma branca transborda
Pela borda da bacia o sol não é para
Todo dia a lua não é para toda noite
Mas a poesia é para todo dia mais do
Que o pão nosso de cada deia a poesia é
Coração de oração ai se respirasse agora
Como o prisioneiro respirou ao deixar a
Caverna segundo Platão ai sim pararia
Com tanta lamentação águas nos
Olhos mágoas no peito viveria
Com defeito mas a procurar a
Encontrar a causa atenuar o efeito
Com a mesma altivez com que o
Pássaro ignora-me rir de mim nas
Minhas estupidezes poéticas
Ignorâncias líricas fraquezas
Intelectuais o pássaro deu de ombros
Para mim sempre dará de ombros
Para mim é um pássaro foi concebido
Determinado a ser um pássaro a ter
Um firmamento fui determinado a ser
Vão indeterminado ai
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