Em febre, sentado numa cadeira, sem
Nenhuma noção do que acontece ao
Redor do universo, sinto como se o
Sol ocupasse o lugar do meu cérebro;
E tremo de frio, com calafrios e
Arrepios e no entanto, um calor sem
Igual toma conta de tudo; suores
Molham-me as vestes e vapores
Embaçam-me a visão; sem nexo, a
Caneta corre num papel, como se a
Mão fosse guiada por uma mão
Dalgum fantasma oculto; e oculto
No escuro, daqui, onde estou, observo
Os outros fantasmas a moverem-se na
Penumbra e a confudirem-se com
Suas sombras; com tanto calor, sinto
Frio nas trevas e um ardor por dentro,
Como se algo fervesse, bebo água
Que não chega-me ao estômago e sai
Toda pelos póros; e com toda
Evaporação, as lágrimas secaram e
Choro um choro indefinido, como se
Não chorasse a ninguém; quem virá
Ao socorro dum espírito assim,
Ressequido, sem óleos lubrificantes
Nas engrenagens, sem sucos nos
Organismos? os músculos estão sem
Fibras, os ossos sem tutanos e a
Coluna cervical sem a medula óssea;
Tudo é só areia a emperrar a máquina,
Um deserto noturno, em tempestade
Tão densa, que os raios do sol, não
Ultrapassam mais as paredes; a luz
Encontra uma névoa de chumbo que,
Se cair da altura em que se encontra,
Na queda, esmagará o mundo.
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