Descarnei-me desencarnei-me todo
Nestas páginas toscas de pedras
Desossei-me por completo nestas
Linhas indefinidas tudo por querer
Transpor o universo para estas letras
Tortas estas palavras vazias usei a
Pele ressequida para pergaminho
Manuscritos tingidos de sangue se
Tiver de reencarnar-me noutra
Geração escolherei uma que não
Tenha tanta imperfeição uma que
Saiba enxergar ao longe com olhar de
Visão de visionário uma que saiba
Auscultar os sons de dentro da terra
Que oportunista almeje mais a
Sabedoria do que o próprio viver
Das cinzas das incinerações dos meus
Ossos das cinzas destas cremações
Se for para levantar Fênix a alma
Obtusa partidária da obtusidade
Melhor deixá-las ao sabor do vento o
Vento saberá o que fazer com cinzas
De almas pequenas nada mais sábio
Para talhar moldar furar erguer
Dunas desfazer montanhas do que
A vontade de potência dos ventos que
Ensinam-nos a persistência ensinam-nos
A resistir mesmo depois de mortos
Desencarnei-me descarnei-me num
Poema numa ode à poesia quero
Reencarnar-me numa obra-prima
Universal numa matéria-prima para
Obra de arte numa cena de cinema de filme
Clássico noir de Fellini ou de Godard
Nenhum comentário:
Postar um comentário