"Comigo a anatomia se fez louca. Sou todo coração"
Maiakowski.
Quisera compor a trova
De tal maneira que fosse
Milagre de vida nova
Para você, Rio Doce.
Poeta
A Fernando Brant
Eu canto, logo existo.
Assim, cantando,
Chego agora à harmonia do universo.
Meu espírito voa, flutuando,
Na plenitude que inspirou meu verso.
Amado plenamente, vou doando
Mistérios de poesia, vivo, imenso
No infinito, em triunfo, semeando
Serenamente, já não mais disperso.
Viajo ainda, ´pois a travessia
É meu legado para a eternidade.
Sou instrumento em nota de louvor,
A música divina que irradia
A paz eterna que me envolve,
Há de fazer meu canto
Eterno para o amor.
ANTÔNIO
Frederico de Castro Alves
De um navio negreiro tu chegaste
Ao coração da pátria brasileira.
Dos teus lábios sangrando tu lançaste
A dor em versos pela vez primeira.
Condor sobrevoando a cordileira,
No altissonante voo em que te alçaste,
Maestro de uma orquestra verdadeira,
Aos céus em sinfonia tu clamaste.
Estás mais vivo Antônio. A tua imagem
Se fez cristal e luz. Tua passagem
Se faz legado para a eternidade.
Ressoa fascinante nas senzalas,
Na escravidão, em todas as escarpas,
Teu brado por justiça e liberdade!
Clown
Não sou quem já pensei que fui, Serei
Talvez espectro envolto pela bruma.
Da corte o bobo, bem melhor que o rei,
Sem ilusão de hilariedade alguma.
As enganosas dores, uma a uma,
Levei-as para o abismo, e retornei,
Deixando lá também, o que se esfuma,
Com uma certeza só. Transformarei
A angústia que me ronda em pantomima.
Hei de cantar a música que anima
Quem de viver traz da alegria a fome.
Transfigurada a face da amargura,
Eu sonharei meu sonho de ternura
Com a piedade a consagrar meu nome.
"Se"
"Se você vir algo
Faiscando na
Areia, deve abaixar-se
E pegar.
Pode ser um caco
De vidro ou
Uma pérola,
Mas você nunca
Saberá se não
Pegar."
José Ignácio Pereira,
Poeta das ruas do bairro Céu Azul,
Belo Horizonte, Minas Gerais.
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