Nunca serei dono dum poema
Que tenha vida própria nunca serei
Dono duma poesia que tenha vida
Própria sou próprio não tenho vida
Própria tenho uma vida alheia
Que foi soprada nas minhas narinas
Por isso qualquer obra da qual tento
Ser dono não será de carne e osso
Às vezes se por acaso tiver carne
Osso duma terá mais carne do
Que osso doutra terá mais
Osso do que carne doutra ainda
Mais nervos cartilagens buscarei
Uma composição que lateja que
Pulsa terei que ir a um pulsar
Se preciso for arrastar tudo até
Aqui para ter um quasar um quanta
Nesta mísera folha de papel papel
De pele curtida não é de papiro nem
É de pergaminho é papel de pele
Desidratada ganhará vida própria
Ou também terei que soprar nas
Narinas dele? ganhará luz própria
Ou terei que acender um candeeiro?
Um toco de vela? um braseiro na
Terra do terreiro? terei que acender
Um lampião? ou fincar uma estaca
No meu coração? numa pira cujo
Combustível seja o meu sangue
Numa luz mais límpida o arterial
Numa luz mais tenebrosa o venoso
A vida escolherá qual o símbolo a usar
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