Quem vai primeiro não interessa à morte
Quando passa o cerou não olha o pescoço todo
Morto morre duas vezes morre uma vez quando
Nasce morre outra vez quando morre morto
Só vou ao enterro de quem for no meu morto
Deixo que os mortos enterrem os seus próprios
Mortos não choro a morte dum morto
Quanto mais a morte dum vivo e nestas
Reminiscências de morto avalio quem vale mais
O vivo ou o morto penso que o morto vale
Mais do que o vivo o vivo não vale uma vida
Não vale um centavo furado nem um favo
De mel curado o morto vale uma eternidade
Uma posteridade uma imortalidade o morto
Vale uma lembrança uma memória uma
Recordação toda uma herança tida das
Tranças da trama universal o vivo?
Quem acredita no vivo? todo vivo inveja
Um morto quer ser um morto na intimidade
Quais são os nomes dos vivos os nomes
Dos mortos? os nomes dos vivos são mortos
Os nomes dos mortos são vivos os vivos
Partem-se em mil pedaços os mortos se
Partem-se em um único átomo causam o
Caos o vivo não é nada não presta para nada
O morto é matéria de obra-prima de obra de
Arte é poesia é poema o vivo é elegia é
Póstumo fúnebre é féretro funesto é esquife
É tudo que é morte o morto é eterno é vida
Perpétua é o que não acaba mais o vivo é
Desprezado desperta orgulho soberba
Ambição é desprezível a morte não quer o
Vivo a morte quer o morto para a morte o
Vivo é morto o morto é vivo quantos anos
Resta-nos de vida? se tivemos toda uma vida
Para sermos vivos não fomos agora que estamos mortos
Perto da morte é que não seremos vivos nunca
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