Escrevo igual ao goleiro dum time de futebol,
Que, acabou de levar um gol, aos quarenta
E cinco minutos do segundo tempo, numa partida
Final, de disputa de campeonato; e levou
Um frango, falhou na hora fatal e o empate
Dava o título ao seu time: e é aí que ele
Gostaria de estar numa cantoneira; numa prateleira,
Que se adapta ao canto da casa, de ser uma peça
Metálica para quinas de móveis, em forma de
L; um encaixe de papel para fixar fotografia
Em álbuns, tudo que lembra a esquecimento
E a arrependimento, ele gostaria de ser aquela
Hora, menos goleiro; o que entrou pelo canudo, entrou
Pelo tubo comprido e aquele cacho de cabelos anelados,
Ficou transformado em cão, em mamífero da família
Dos cânidas; numa pessoa ruim, no próprio demônio
Em pessoa e sem perdão e sem desculpas e a
Receber na cara a detonação da peça de
Espingarda que percute a cápsula e ainda
Foi chamado de cego e de caolho; foi
Chamado de zarolho que não tem olho
E se tem, o olho é torto, vê duas bolas,
Segura uma e a outra entra; escrevo
Igual aquele mendigo que anda na
Chuva, coberto de chagas e não tem uma
Capa, para encobrir seus andrajos; não tem
A peça de vestuário larga, com ou sem mangas,
Que pende dos ombros e se usa sobre a
Roupa; e como o toureiro que não tem o pano
De cor viva usado para enfrentar o touro
E igual ao próprio touro que recebe nas costas,
O que envolve o cobre, alguma coisa pontuda,
Uma cobertura que não é envoltório de
Papel, cartolina, couro, ou outro material,
A não ser o ferro, o metal, não como o que
Protege externamente um livro, uma revista
E a parte da sela que protege as pernas do
Cavaleiro do contato da montada; e o
Motociclista que acaba de cair de testa
No meio-fio e lembrou-se de estar sem capacete,
A armadura de copa oval para a cabeça,
Que impede que o teto móvel de moinho
De vento venha a capar o pescoço, castrar a
Cabeça, cortar e separar com a violência do
Tombo; escrevo dotado de capachismo, com
Ausência de brio e cheio de servilismo, pois
Não passo dum capacho, dum tapete de esparto,
Ou fibra de coco, onde se limpam as solas dos
Calçados antes de entrar em casa; sou uma
Pessoa servil e sem capacidade, não carrego em
Mim a qualidade de capaz; meu recipiente não
Tem volume interior e âmbito e aptidão e
Não conheço o que é direito legal e grande
Sumidade de saber; nada pode me capacitar
E não nasci para habilitar e persuadir, não
Nasci para compreender e convencer-me de que
Posso ser útil à cultura, à literatura e
Às letras, às palavras, à poesia, à teoria e à poética
Em geral; nasci capado, um porco capado, barrão,
Para a engorda, um capão de qualquer definição:
Frango, ou cavalo, ou ordeiro; nasci varrão, varrasco,
Nasci castrado; não sou o bosque que se
Destaca no meio dum descampado e só
Sabe inutilizar dalgum modo os meus órgãos
De reprodução; não sou um bom capataz,
Um chefe dum grupo de trabalhadores, capcioso,
Manhoso e ardiloso; e quem me olha, sente
Que sou um indivíduo, ou uma coisa
Que procura induzir ao engano; sou um capanga,
Com os fracos sou valentão, contra os covardes
Ponho-me a serviço de alguém para executar
Tarefas violentas por qualquer bolsa pequena,
Usada a tiracolo em viagens, com menor
Número de moedas do que o Judas recebeu;
Sou um Judas capenga, um comprado coxo, um
Vendido manco; por qualquer capilé, qualquer
Bebida composta de água e xarope, perco
O capeamento, perco o revestimento moral que
Nunca tive; perco manto de doutor, a capilaridade,
O capilar e me vejo um careca sem capuz.
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