Lembras de quando eu era estúpido?
Eras? lembras de quando eu era inútil?
Eras? lembras de quando eu era ignorante?
Eras? me enganas que gosto vais
Enganar outro queres dar uma de que
Mudaste d'água para o vinho? vês se te
Enxergas rapaz lembras de quando eu era
Homem? estou a falar porque agora sou
Verme roedor de carne podre roedor de osso
Descarnado roedor de entranhas mortas
Lembras de quando eu era covarde? eras?
Lembras dos meus cabelos rebeldes? se
Rebelaram todos fugiram de minha
Cabeça a me deixar careca lembras
Dos meus dentes? não tenho mais nenhum
Que presta na boca dos meus músculos?
Todos hoje são flácidos nada mais
Tenho de rígido de teso lembras
Da minha pele? hoje é toda enrugada
Preste a querer se rasgar com o vento
A mão que era firme é trêmula igual
Gelatina os pés que sustentavam
O corpo agora são vacilantes o corpo uma
Carcaça declinante de baleia que morreu
Encalhada numa praia deserta num banco de areia ou
Dum calhambeque que não teve mais
Jeito não teve conserto foi
Deixado numa rua sem saída ai
Minhas dores lembras de quando eu
Era sadio? não tinha dissabores? vejo
Que a memória de meus amores não tira o
Total estado de hibernação em que entrou
O meu coração meu cérebro é pura letargia
Eu um urso velho que não sai mais para caçar
Que as caças riem zombam que escroto
Ninguém lança pelo menos uma palavra de conforto
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