Vomitei um sangue roxo coagulado
Bem no meio do espaço
E o meu avesso cheio de pus
Levou-me ao desespero
Cuspi catarro ensaguentado na calçada
Mais parecia uma morte
E meu peito cheio de vácuo
Pairou na imensidão
Minha cabeça cheia de excrescências
Caí na podridão
E veio uma saliva grossa
No céu de minha boca
Minha língua cascuda e áspera
Mais parecia asfaltada
Não falava
Não sentia
Machucava o gustativo
Matava as papilas
Minha boca frágil e sangrenta
De sangue salgado e quente
Que nem o vampiro Drácula
Ia querer provar
Estava mais para placenta
Dum embrião morto
Retirado torto
Dum útero podre
Cujo feto expelido
Era uma carne crua mal mastigada
Que ficou engasgada
Numa garganta qualquer
E depois foi arrancada
Com muito custo
A trazer com ela
Detritos dum estômago
Cheio de úlcera e câncer
E vomitei isso tudo
Na boca escura da noite
Arregalei os olhos para a lua
Lua escura e sem luz
E um lobisomem me viu
E fugiu de mim
Um morcego passou ao longe
E não se atreveu nem a voar
Sobre minha cabeça e
Vaguei noite a dentro e
Vaguei noite à fora
Nem planetas
Nem satélites
Nem astros
Nem discos voadores
Nem nada me queria
Nada queria me levar
Só uma gosma mal cheirosa
Sem pensamento
Sem espírito
Ao sabor da brisa noturna
Se deixava embalar
Sem alma
Sem corpo
E sem forma.
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