E não abri mais os olhos desde o dia no qual nasci
E desci da esfera colossal para o mundo real
E o meu sonho acabou sem ser realizado
E não quebrei os pontos dos meus olhos costurados
E não rompi as barreiras dos meus ouvidos chumbados
E quem queria me dizer alguma coisa não me disse nada
E também não disse nada a ninguém pois a língua
Estava presa no fundo da garganta cada vez mais
Era engolida ao contrário pelo esôfago
E nunca pronunciou amor
E nunca teimou pela paz
E só propagou a guerra
E a mentira
E a violência
E o desamor
E desde então este meu coração
É só solidão é rocha de vulcão é resposta sem solução
É braço sem mão é baleia no arpão é boca sem pão
É cristão sem visão
E lábios que só dizem não é
Cérebro sem percepção é cabeça sem noção é
Mente sem razão
É pensamento sem dimensão é discernimento
Sem direção é sentido sem condição é escada
Sem vão é rampa sem corrimão é pião sem cordão
É criança sem irmão é Deus sem adoração é prece
Sem oração é garganta sem canção é alma sem
Iluminação é pântano sem drenação é edifício
Sem fundação é alicerce sem sustentação
E a cada dia é uma nova arruinação que até parece
Uma maldição que não tem fim de tanta estigmatização
Mas um dia a luz há de chegar com a acepção.
BH, 01201102020; Publicado: BH, 0230602022.
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