mas a caveira da cabeça de luzia
desenterrada num terreno baldio
onde estava enterrada há milênios
e hoje vive a dar à luz exposta num
museu de antiguidades
e também a dar à luz aos cegos da história
e das ciências
e como homero deu luz
e édipo fez o mesmo
e borges nuns fenecidos traços de poesias
e nuns envelhecidos rastos de poemas
e o único cego desconhecido
e que não dá à luz
e a quem não é erguido altar
ou monumento
ou edificada uma estátua
ou um mausoléu
ou declamada oração
ou elevada uma prece
ou destinado um culto
ou uma oblação
e beberagens
e comes
e danças
e batucadas
ou ladainhas
e é o único cego esquecido nas
encruzilhadas
e nas gameleiras assombradas
e nas cumeeiras das casas velhas fantasmas
e abandonadas é o poeta desprezado por não ser
visionário
ou um gênio da lâmpada
ou um pote d'água fresca num canto
dum casebre no outeiro dum barranco
e teima imortalizar nos solavancos
dos epiléticos contra os cascalhos
BH, 01001202021; Publicado: BH, 0120902022.
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