aqui da janela do barracão da favela
vejo o céu a dominar a barrela dos becos
e das vielas
e o aglomerado
e o gueto são o oco do mundo
e a terra da viagem sem volta
e o lugar onde judas perdeu as botas
e o vento faz a curva
e não aguento mais ver tanto tormento
e dum lado o assaltante
e traficante
e um fuzil a me oferecer
e doutro a polícia a me endereçar a sua bala
perdida com endereço ao meu coração
ou sempre à cabeça dalguma incerta criança
ou adulto não importa a resposta
ou a explicação para a estatística pobre preto favelado não tem expectativa duma perspectiva
e não pode sair além da janela do barracão da
favela a não ser quando pega carona num
camburão
ou num rabecão na banguela
e mesmo com o horizonte à frente o fim da
viagem é o instituto médico legal para falsas
autopsia
e causas mortis
e atestado de óbito do indigente
e depois é vala rasa recente
e tudo muito rápido que atrás vem "gente" ops
gente não meliante pois quem mora na
favela é bandido
e assaltante diz a autoridade boquirrota
e ignorante que sabe que tudo vai continuar
como dantes no quartel de abrantes pois o
próprio povo não tem interesse de levar a
cidadania
e a dignidade
e a soberania adiante
e prefere ficar à janela do barracão da favela
boneco falante manipulado por ventríloquo
ambulante
BH, 0260602022; Publicado: BH, 01201002022.
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