fala alguma coisa aí alguém pois o silêncio
faz tudo parecer surdo
e cego
e mudo
e mova algo na paisagem pois a paragem
dá a impressão que a natureza morreu
e o tempo parou nos telhados
e nas janelas fechadas
e nas portas trancadas
e nos portões de taramelas
e cadeados enferrujados
e ferrolhos emperrados
e nenhuma música se ouve ao longe
ou um zumbido mesmo de zumbi
ou um zunido no ouvido
ou o toque dum instrumento
ou o sopro dum vento
e cadê as coisas que estavam aqui?
e cadê as vozes
e os sorrisos
e as gargalhadas?
e cadê os sussurros
e os soluços
e os espirros?
nem o choro duma criança para a gente ficar
com pena
ou um canto
ou uma cantiga
ou uma canção de ninar
e o que que aconteceu com o quê? ninguém
sabe de ninguém
ou de nada
e as pessoas se fazem de dissimuladas
e se evitam umas às outras
e os pássaros pararam de voar
e é só uma fumaça que irrita o dia
que se levanta lentamente num quintal distante e sérios os mentais não pensam em nada
e só ruminam em benefício do ódio o que acaba
de estragar o que já estava ruim
e é péssimo o estado de paciência apesar da
aparência do paciente
e calma mas é uma assombração dalgum
fantasma escondido num salgueiro
ou sabugueiro que sonda pelos recantos
sombrios de entulhos
e penumbras de chorumes dos seres
que agora se cosem nas sombras
e o chumbo tenebroso cingiu o horizonte
e o outrora céu azul de firmamento de mar
celestial se cobriu de nuvens cinzentas que
prenunciam as tormentas termófilas
BH, 0300402019; Publicado: BH, 01801002022.
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