e não sou descoberto
continente estuprado
nas grandes navegações
dos inúmeros navios negreiros
e vi irmãos capitães do mato
a arrastar irmãos pelos grilhões
e pelos ferros
e debaixo de chibatas
e de tacões
e vi guerreiros feitos escravos
e reis
e rainhas vendidos como se
fossem farinha
e as minhas histórias doem
e não comovem
e não libertam
e cafuzo confuso
não encontro em confúcio
alento para o tormento
de mestiço
e o horror do calu sarara
e de miscigenado
de nação de mamelucos
com sagas de índios
e de negros
e de ciganos
e de pajés
e de pais de santos
e pretas velhas com encantos
e crianças com quebrantos
e caxumbas
e espinhelas caídas
e cobreiros
e dordóis que rezas
e preces
e orações não dão mais resultados
e as unções
e os pós
e os chás
e as poções
e as pastas
e grudes
e os unguentos
e os patuás
e os amuketos
não protegem dos colonizadores
e do representante da burguesia
e do opressor da elite
e quebram
e moem os ossos
e sangram o sangue numa
sangria de hemorragia em terra infértil
e escondem a verdade
e sustentam a mentira
com vivacidade no olhar
e os deuses africanos
não saem mais das selvas
a nos ajudar
e perdemos a fé nos nossos ancestrais
e perdemos o axé dos nossos antepassados
e nos retraímos até nunca mais
e nos escondemos debaixo do
manto da vergonha que
deveríamos não ter ao lutar
em rebeldia pois somos vítimas
e heróis dessa história mal contada
e vilipendiada
e passamos a vangloriar os
nossos carrascos capatazes
e feitores
e senhores de engenhos
e estamos aqui para recontar a história
e a recompor o sangue
em nossas veias
e estamos aqui
e daqui não sairemos
e terão que nos aturar
e não nos exterminar
BH, 0140102022; Publicado: BH, 0601002022.
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