vivia só às escondidas aos cantos recantos
a entrar pelos canos pois devia a alguns
e faltava com a palavra a outros a mentir para
uns a fingir em demasia
e com falsidade iludia aos amigos
e às vezes tinha sempre de correr com vento em
popa para não apanhar dos mais revoltados
e de vez em quando
ou em muitas vezes chegava à casa arregaçado
de nariz ralado
e beiços inchados e ossos quebrados
e corpo sovado
e os restos de cacos de dentes cuspidos
e ficava de molho para a procela serenar
e o vendaval passar
e as proezas caírem no esquecimento pois era
pior do que jumento
e só causava sofrimento
e ouvia de todos os amigos assim não aguento
e nem mais te defendo
e não te dou mais nenhum sustento
e chega para lá com o teu bodun
e vê se tomas um banho de alecrim
e come umas folhas de hortelã
e mastiga umas de boldo
e desopila o fígado
e toma um chá de ervas
e de cidreira pelo amor de deus
e procura uma igreja
e fica na entrada
e não é possível que não arranjas alguns
trocados mas os mendigos que já faziam ponto
nas portas das igrejas já o colocavam para correr aos sopapos
ou às bordoadas
e voltava de calças rasgadas
e pés no chão
e sem um tostão aqui não bastião que o ponto é
meu que deus me deu vai esmolar noutro lugar
e lá ia a chorar com a barriga a roncar
e o estômago a reclamar mas se ganhava
algum para comer a alegria era tanta que
esquecia da comida
e da fome
e corria a beber para fazer da vida
a funesta elegia de cada dia
BH, 0270202022; Publicado: BH, 0301102022.
Nenhum comentário:
Postar um comentário