um ponto de apoio
uma alavanca
uma pedra fundamental
ou uma rocha filosofal
ou uma pedreira descomunal
ou um rochedo marco inaugural
e sem fé transporei montanhas
e a pé vencerei cordilheiras
e de vertentes em vertentes
e de veredas em veredas
e a costear as falésias
e a ombrear os desfiladeiros
e os paredões consagrados
serei a ponte no
abismo universal
e a gota d'água que transbordará
os oceanos
e a molécula de ar que
sufocará as atmósferas
e o grão de areia que
desmoronará as dunas
e o raio de luz que
esgotará os sois
e serei o excesso dos excessos
e
fartarei os famintos famélicos fominhas
e darei de beber aos sedentos
e pararei num despenhadeiro
e nunca mais procurarei agulha no palheiro
e nunca mais o eco ecoará
a maldição de nunca mais
e à beira dos milenares canions
virarei
a estátua de sal
por não ter olhado para atrás
e em letras de fogo-fátuo escreverei
no
pedestal do monumento
o fatídico epitáfio
do corvo nunca mais
BH, 01501202022; Publicado: BH, 02001202022.
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