domingo, 24 de março de 2019

Tenho andado pela estrada da vida; BH, 060601999; Publicado: BH, 050102013.

Tenho andado pela estrada da vida
Mesmo com o aspecto tão lamentável
Sou um ser abordável
Um réptil que se pode abordar
Um bicho de chegada
Não temas a minha entrada
Nem o meu abordo
Natural do país no qual vivo
Nativo da terra
Habitante primitivo
Sou um índio
Um aborígene
Meu tempo borrascoso
Tumultuado aborrecedor
Não esqueço o que sou
Não posso aborrascar-me
Com as minhas origens
Ser do mato não me aborrece
A roça a horta o carro de boi
O arco a flecha
A cidade grande me causa aversão
Os edifícios me causam desgosto
Tenho descontentamento mágoa
Com o comportamento
Das pessoas das capitais
Tudo aqui enfastia-me
Vivo aqui para me aborrecer
Acordo aborrecido
Meu trabalho é aborrecível
Meu lazer é enfadonho
Meu sonho é tristonho
Vou-me embora para a mata
Para a roça para a horta
Vou-me embora para a chapada
Para o morro a montanha a colina
Evitar todo o aborrecimento
Que quer me sufocar
Abortar este aspecto detestável
Que habita as minhas entranhas
Espírito alma ser
Expelir este feto apodrecido
Que faz meu hálito cheirar mal
Chega de produzir imperfeitamente
De fazer malograr
Toda a tentativa de fazer a felicidade
Conquistar a alma da gente

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