Jesus ensinava olhai os lírios do vale
E ensino: olhai o tempo; dai tempo
Ao tempo; isso é sabedoria, fica mais
Fácil a vida, e a vitória não será
Vencida; olhai o tempo da janela, da
Torre da igreja, da cerca, da cancela,
Da chancela, enquanto é tempo, pois
Somos nós que passamos; o tempo existe
Há bilhões de tempos, e nós nem sabemos
Se existimos ainda, e talvez, nem saibamos
Existir; olho o tempo e pergunto: quantos
Beijos terei que dar para ser alguém?
Quantas carícias terei que fazer em
Sobrancelhas para existir de fato? o tempo
Não nos faz de boato; ele pega nossa
Garupa, o levamos no cangote ou no
Cacaio; ele curva nossas costas, sem
Piedade, é nitiniano puro, verga
A mais viril coluna, tira a virilidade
Do mais potente, e acaba com a libido
Da nossa fonte e deixamos de ser; e
Ele continua, domina a todos, mas,
Mesmo assim, eu gosto dele, olho para o
Tempo, e o quero em minha companhia,
Quero-o junto a mim, lado a lado,
Carrego-o nos ombros, para onde
Eu for; levo-o nos braços, e não
Consigo abraçá-lo, não consigo nem
Segurá-lo, e nada posso fazer para
Prendê-lo num aconchego; aí, vou aí, e
Bebo todas, e depois ai, o tempo deixa-me
Embriagado também, com todas as
Dores, qual Drummond, com todos os
Sentimentos do Carlos, e quero imitar
Os dois, o Carlos e o tempo; mas,
Quem sou eu, ninguém sei bem
Que sou, o tempo não deixa, ele
Quer enterrar-me nas suas obras,
Quer emoldurar-me, e em confronto
Com ele, não duro um dia, quanto mais
Uma eternidade; e o tempo é eterno;
Olhai-o enquanto ele para nesta tarde de quintal.
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