quarta-feira, 27 de abril de 2011

Salmo ao deus desconhecido; BH, 0220402011; Publicado: BH, 0270402011.

Este salmo vai para o deus desconhecido,
Pois o Deus conhecido, nós já sabemos tudo
Dele, e Ele sabe tudo de nós; e o deus
Desconhecido, nem temos consciência
De que ele seja deus, se está vivo,
Ou se está morto; mas este salmo
É para ele, e para todos aqueles esqueletos
E caveiras enterrados antes da pré-história,
Esquecidos, e que só são incomodados,
Quando algum arqueólogo os desenterram
Para as nossas luzes ou trevas; Nietzsche já
Fez uma oração ao deus desconhecido; e o
Saramago fez outra aos deuses sem fieis; eu
Faço este salmo ao deus desconhecido, mas
Sem muita ênfase, sem muita questão de querer
Conhecê-lo, como penso que ele também não
Se move para ser conhecido; prefere ficar lá
No seu escombro, no manto a espiar pelo seu
Retrovisor, para ver se enxerga alguma sombra
Na escuridão, pois, apesar de ser dia, e com o
Sol quente, é penumbra a habitação predileta, o
Latejar vegetativo, e a única luz que o alimenta, são
Os spots, os reflexos dos flashes, as luzes dos
Holofotes, dos faróis, que cegam mais do que
Iluminam; e são nestas parcas palavras, este
Salmo, nestas pobres e profanas letras, para
Esse deus pobre, sem céu e sem inferno, sem
Vida e sem morte; este salmo para esse deus
Desconhecido, que não nos absolve e também
Não nos condena; não nos pede penitência,
Sacrifícios, derramamento de sangue, dízimos,
Ofertas, cultos, orações, louvores, nada, não
Nos pede absolutamente nada: nem alma e nem
Espírito; só o silêncio das nossas vozes, os
Vazios das nossas cabeças e o endurecimento de
Nossos corações, e o embotamento de nossos
Sentidos e sentimentos hipócritas: Israel mata
Palestinos e balança a cabeça de Leviatã,
Diante do Muro das Lamentações, amém.

2 comentários:

  1. Magnífico! Nietzsche está orgulhoso pois, por certo, leu e rezou em teu salmo. Sim. Estou contigo nessa prece, poeta. Sigo contigo até onde o infinito não coloque cercas, muros, obstáculos à passagem do meu ser.
    Sigo em prece, solene, como convém ao leitor de poema tamanho.
    "... Não nos condena; não nos pede penitência,
    Sacrifícios, derramamento de sangue, dízimos,
    Ofertas, cultos, orações, louvores, nada, não
    Nos pede absolutamente nada: nem alma e nem
    Espírito; só o silêncio das nossas vozes, os
    Vazios das nossas cabeças e o endurecimento de
    Nossos corações, e o embotamento de nossos
    Sentidos e sentimentos hipócritas: Israel mata
    Palestinos e balança a cabeça de Leviatã,
    Diante do Muro das Lamentações, amém."

    |Sou grata por sua inspiração.

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