A perda de um marido inspira muitos ais.
Brada aos céus a viúva e depois se consola,
Pois nas asas do Tempo a tristeza se evola.
De novo o Tempo os gozos traz.
Entre a recente viuvez
E a que tem pouco mais de um mês
A diferença é grande e quase que se pensa
Que não seja a mesma pessoa
Uma nos faz fugir, a outra é linda presença.
Aquela, um pranto falso ou verdadeiro entoa;
É sempre a mesma nota e conversa sem fim:
Diz que não tem consolação;
Fala, mas não é bem assim,
Como neste conto verão,
Que bem traduz uma verdade.
O esposo de jovem beldade
Partia para o além.
A seu lado a mulher
Lhe gritava: "Me espera, eu não quero viver,
A minha alma, com a tua está pronta a voar!"
Quem partiu foi ele somente.
A bela tinha um pai, varão experiente,
Que o tempo deixando rolar,
Lhe disse, enfim, pra consolar:
"Minha filha, é demais o teu copioso pranto:
Exige o morto, então, que afogues teu encanto?
Se a vida continua, esquece os falecidos.
Não digo que, mui brevemente,
Melhor partido se apresente,
Transforme em bodas teus gemidos,
Considera, mais tarde, a proposta, porém,
De um jovem, belo esposo e melhor, ó meu bem,
Que o finado. - O meu casamento,
A filha respondeu, há de ser um convento"
A desgraça engolir, deixou-lhe o velho pai.
Desse modo, um mês lá se vai;
E ela gasta o outro mês, cada dia mudando,
No adorno, alguma coisa, os cabelos, o fato:
O luto, enfim, serve de ornato,
Outros enfeites esperando.
Dos amores, o alegre bando
Volta logo ao pombal; a dança, a alacridade,
Terão depois a sua vez:
E noite e dia a viuvez
À fonte vai da mocidade.
Não teme mais o pai o defunto querido;
Deixando de falar de casamento à bela:
"Mas onde está o jovem marido
Que você prometeu?" diz ela.
Nenhum comentário:
Postar um comentário