Onde vais pelas ruas de Roma,
Nos tróleis ou no elétricos em que as pessoas
Voltam para casa?
Apressado, obcecado, como se
Te aguardasse o trabalho paciente
De onde a esta hora os outros regressam.
É logo a seguir ao jantar, quando o vento
Cheira a quentes misérias familiares
Perdidas nas mil e uma cozinhas, nas
Longas ruas iluminadas,
Sobre as quais mais claras espiam as estrelas.
No bairro burguês, reina a paz
Que a todos satisfaz em suas casas,
Não sem alguma cobardia, e que todos gostariam
Que lhes enchesse cada noite da existência.
Ah, ser diferente – num mundo porém
Culpado – significa que não se é inocente…
Vá, desce pelas curvas escuras
Da avenida que conduz ao Trastevere:
Verás que, imóvel e devastada, como
Arrancada a uma lama de outras eras
- Para satisfazer quem pode roubar
Mais um dia à morte e à dor -
Tens a teus pés toda a cidade…
Desço, atravesso a Ponte Garibaldi,
Rente ao parapeito, passando os nós dos dedos
Pelo rebordo de pedra esboroada,
Dura no ar morno que a noite
Ternamente exala, sobre a copa
Quente dos plátanos.
Na outra margem,
Como lajes em fila descorada,
As mansardas, plúmbeas, rasas, do amarelado casario
Enchem o céu deslavado.
Caminhando pelo lajedo
Deslabrado, de osso, contemplo, ou melhor,
Cheiro o grande bairro familiar,
Prosaico e ébrio – salpicado de estrelas
Envelhecidas e janelas sonoras -:
O Verão escuro e úmido doura-o,
Por entre as baforadas sujas
Que o vento vindo dos campos
Do Lácio espalha com a chuva
Sobre carris e fachadas.
E como cheira, no calor tão denso
Que é também espaço,
O paredão, aqui em baixo:
Desde a ponte Sublicio até o Gianicolo
O fedor mistura-se à embriaguez
Da vida que não é vida.
Sinais impuros de que por aqui passaram
Velhos bêbados de Ponte, antigas
Prostitutas, bandos de malandrins
Despudorados: rastos humanos,
Impuros que, humanamente infectos,
Vêm falar-nos, violentos e pacíficos,
Desses homens, dos seus baixos prazeres
Inocentes, dos seus míseros desígnios.
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