Não tenho mais lugar para esconder-me
Tiraram de cima de mim os céus
O chão de debaixo dos meus pés
Não tenho mais loca
Gruta ou caverna
Tiraram meu corpo do local
Vi-me fora do núcleo
Da placenta
Vi-me a nadar na areia
A morrer sufocado
A padecer afogado
Com os pulmões empedrados
O organismo desolado
Migrei errante pelo universo
Forasteiro a ser recebido nas cidades fantasmas
Os habitantes vinham dar-me as boas-vindas
Os ciscos do lixo levado pelo vento
As palhas as folhas secas arrastadas de lá para cá
A poeira as sombras
Os recantos abandonados
Senti-me expulso do paraíso
Sem cometer nenhum pecado
odos condenaram-me
Pedi pão
Deram-me pedras
Pedi água
Deram-me vinagre
Cobraram-me milagres
Transformar venenosas cobras
Serpentes vis
Em beija-flores
Em bem-te-vi
Está aí a desgraça
Gritam-me
Está aí miséria
Uivam
São tuas
Transforme-as em obras-primas
És artista arrivista
És senhor de dons
Transforme-as em obras de arte
Cala-te
Quando tiveres um trunfo
Ouviremos-te cantar em triunfo
Longe disso
Dá vida a esse teu lixo
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