terça-feira, 23 de setembro de 2014

Portugal, 5500, 1; BH, 0140902014; Publicado: BH, 0230902014.

Preso nesta caixa de paredão
Não vejo que hoje é domingo
Não vejo o azul do céu
Nem vejo o sol
Há quanto tempo este sol está lá fora?
Inda dizem os sabidos
Que há outros sóis mais poderosos do que este
Se aqui nesta caixa de paredão de cânion
Não sinto este sol
Como poderei sentir outros sóis
Que os sabichões dizem existir?
Importa-me outros sóis
Outros mundos doutros planetas
Que nunca visitarei
Nem no pensamento?
Se este sol aqui
Tão perto
Não sei nada dele
O que direi doutros sóis
Que todos dizem tudo deles?
Não poderei dizer nada
Não digo nada nem de mim
Pois tudo que digo de mim
É falso
Como é falso tudo que dizem de tudo
O que não é falso é só a loucura
A loucura é verdadeira
Nós somos todos uns loucos
Com as nossas crenças
Manias astrologias religiões
Somos todos uns loucos estúpidos
Nas nossas perseguições
Dramas depressões
Expomos a este sol
Que não penetra nas nossas prisões
As nossas insignificâncias
Não aprendemos nada com ele
Morremos cadáveres apedeutas
Defuntos aculturados
Morremos larvas
Sem metamorfoses
Sem evoluções
Morremos solitários
O sol não nos acompanha
Continuará aí
Gerações por gerações
A nos ignorar
Nas nossas digressões
Não sentir saudades de nós

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