O sol do sertão queimou minhas retinas
Não viraram mar nunca inclusive
Para chorar era uma absurdidade faltava
Água para lágrimas chorava então o
Que chora todo sertão vento acompanhado
Evento com tempestade de areia espinhos de
Cactos flores de palmas raízes de mandacarus
Desertos de rios temporários rastros de cobras
Pegadas de lagartos ferrões de escorpiões
Chorava tudo que era seco como a música de
Sérgio Ricardo na trilha sonora de Deus e o
Diabo na Terra do Sol de Glauber Rocha
Chorava tal qual o enterro do sertanejo que
Não teve choro nem vela nem ladainha
Um choro de poeira de ossadas de bois
Outros bichos ressequidos nas estradas um
Choro marcado no compasso dos pés
Descalços outros calçados com alpercatas
Nas procissões pelos caminhos de terra
Batida o sol queimou as fontes d'água
Da minha fronte tive que beber suco
Gástrico pancreático bílis tive que beber
Fel felpudo arsênico cicuta não pude
Mais embriagar-me como gostava antes
O sol fez com que as minhas taquaras
Rachassem pocassem em fogos de
Artifícios sem noites de São João posso
Ficar na chuva que encha todos os oceanos
Mares posso ficar na chuva de dia de noite
O barro é tão tórrido tão denso de coeso
Que a água não penetra continuo seco
Árido sertão agora não só nos olhos
Mas em todas as moradas dos meus recônditos
Sertão no espírito na alma no ser sertão no
Corpo deserto no coração mar nunca não
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