A falar a verdade sem falsidade ilusão ou mentira Procuro é escrever pois pressinto que vou morrer Sinto que é iminente a minha morte pretendo Aproveitar estes últimos momentos quando inda Ofega em meu peito a ânsia dum resto de ar Para deixar um pequeno registro da angústia Da amargura em que sinto agora quando morro Neste momento sinto a dificuldade da respiração O peso no peito a aflição da tormenta os urros Da morte que surgem nas minhas cavernas Internas não sei se terei tempo suficiente para Terminar a explanação com a qual quero Ornamentar esta folha branca de papel de jornal Sinto já as agulhadas da dor nos quatro cantos Do meu coração sinto já as toneladas do peso Que me fazem vergar as pernas bambas Trêmulas estou em pé porém penso que Preciso me sentar não sei qual a melhor maneira De se esperar pela morte se em pé sentado ou Deitado engraçado é que a sensação o suor Frio a dor de cabeça a brancura das mãos a Insensibilidade que sinto no peito até parecem que Já me pararam o coração dei alguns passos para Ver se ainda estava vivo enchi de ar os pulmões Com dificuldade retornei ao meu depoimento Quase póstumo balancei um pouco de tontura a Esperar o momento certo para descrever para Todos a hora exata com êxito sem hesitação Da usurpação da morte pelo meu combalido ser Que sabor horrível que gosto amargo que pode Nos fazer sentir assim mais do que desesperado Nesta hora extrema derradeira nesta hora Terminal que acaba a nos empurrar para nosso Final não há mais nada que nos detêm nada mais Pode nos deter é somente as trevas do fim o grito Abafado da dor o corpo sucumbido inerte para Tudo se acabar acabar a hipocrisia acabar o Atormentar as pálpebras não voam mais nem batem Mais palmas de vivacidade alegria nem sorriem Mais choram pois estão seladas estão lacradas Cerradas enterradas por lápides frias lápides de Mármores eternos negros de chumbos de Cemitérios assombrados amaldiçoados donde Todos os cadáveres foram roubados para ser Ofertados em oferendas queimadas aos deuses Negros simpatizantes de missa macabra a Espalhar pedaços putrefatos de membros de Corpo humano defumados em braseiros à minha Fé ai de mim malgrado meu já se passou um Certo tempo do temor continuo aqui a escrever Para todos penso que não morri a dor desapareceu Parei de suar frio o ar já entra pelo peito a dentro Com maior liberdade intensidade penso que Viverei por um tempo ainda penso que sofrerei Padecerei pela terra igual a uma minhoca um verme Da terra um vírus um germe ou outra coisa qualquer Que me foge à imaginação sou o que já estava até a Ficar feliz oba, vou morrer hoje agora vou morrer Sou o que já estava a dar graças pelo fim de todo o Vácuo do meu peito pelo fim de toda escuridão de Repente vejo que inda vou continuar por aqui vejo Que me parece que ainda não será desta vez que Irei poluir a terra com os meus restos mortais Continuarei a poluir o ar com meus restos vitais a Poluir a natureza o visual com a imagem que Carrego sobre meus andrajos sobre as cascas das Minhas feridas minhas cicatrizes em carne viva minha Carne em brasas vivas minhas brasas em cinzas mortas Ainda bem que me é permitido pecar procurar as respostas As soluções as saídas dos labirintos as fugas espetaculares Dos minotauros da sociedade apodrecida |
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