sábado, 30 de setembro de 2017

Estou nesta câmara-ardente na sala; BH, 0301002000; Publicado: BH, 0301002013.


Estou nesta câmara-ardente na sala
Na qual se expõe um defunto entre velas estou aqui a
Espera do meu primeiro camarada o primeiro verme
Companheiro de quarto das minhas carnes meu colega
Que já deve até ter começado a me roer as entranhas
Não sei por onde começarei a ser devorado por cada um
Dos indivíduos que exercem a profissão de devorador de
Defuntos me sinto um amásio sem tratamento adequado
Como o que é levado entre os militares não tenho amigos
Nem sou um naco de carne agradável por isso
A camaradagem entre mim os vermes a convivência não
Poderá ser amigável como entre as pessoas de mesma
Ocupação a mim querem devorar o procedimento
Para comigo não será obsequioso próprio de camaradas
Fui esta câmara-de-ar este tubo de borracha que esteve
Junto à camba da roda dentro do pneu que recebia o
Ar para enchê-la agora são só os vermes que recebem
O ar o oxigênio virei gás carbono virei butano
Virei ar putrefato com o qual respiram sei que
Em vida não fui camaradeiro como faz o verme com
Facilidade com a carne não fui comunicativo
Só tentei ser um poeta uma certa qualidade de
Pego um vaso de louça antigo um dos nomes comuns
A várias espécies de pequenos crustáceos não passei
Dum camarão se por ventura quereis saber amei
Mulher que arrumava os quartos nos hotéis amei dama
Que prestava serviços à rainha ou princesa não passei
De camareira não evolui na camarilha fiz parte
Do grupo de pessoas que só vivem em torno de alguém
Poderoso tais os vermes vivem agora em torno de mim
Não sabem sobreviver sozinhos só soube influir em
Decisões erradas tentei tirar vantagens de todas as relações
Pessoais igual a uma sanguessuga uma ameba
Mas não vivi de camarote não vivi donde os artistas mudam
De roupa fazem a maquilagem vivi na pequena câmara
Nos fundos dos sórdidos teatros nos camarins nem
Cheguei a ser artista um poeta não pode ser artista
Nunca tem quarto em navio fantasma em cada um
Dos compartimentos escuros que ficam um ao lado
Dutro em meia-lua nas salas de espetáculos medievais
Onde vivi a camba feudal o índio vil que perde o caractere
Próprio acaba por beneficiar aos outros com a própria natureza
Vende as madeiras os animais a flora os minerais a mucama
A escrava jovem escolhida para fazer serviços domésticos ou
Acompanhar pessoas em viagens no tempo da escravidão
Negra no Brasil hoje é entregue para a prostituição às
Vezes ainda criança trocada por qualquer tostão como
Se troca uma peça curva das rodas dos carros lá se foi
A canalha capaz de tudo para lucrar é a globalização
O neoliberalismo a chegar à aldeia lá está a
Súcia na taba a negociar a vender a ceder desde
Os primórdios da colonização lá está a corja reunida
Como os madeireiros os estrangeiros os grilheiros todos
Ávidos por tesouros descobertas naturais os laboratórios
Multinacionais atrás das raízes medicinais salvadoras
Levadas em grande quantidade com a conivência dos que
Vivem pendurados em carros de luxo como se fossem molhos
De chaves é triste a quantidade de objetos enfiados goela
Adentro pela cambada que impunemente compra a maioria
Do que restou dos nossos índios é cambalacho que vem
Desde Cabral uma troca onde só saímos a perder uma permuta
Onde nunca levamos vantagem com o ardil o logro do europeu
Olhais o conluio que deu que até nas Olimpíadas o nosso
Atleta parecia um cambaia om pernas tortas do ouro
Levado pelos colonizadores não trouxeram nenhum todo o
Conjunto ficou cambaleante igual ao regime neoliberal
Que cambaleia no mundo todo o cambalear da globalização o
Caminhar oscilante dum governo ineficiente impopular
Sem firmeza que faz o povo oscilar ainda antes de viver
Com o cambaleio dum salário mínimo as cambalhotas
Da corrupção a reviravolta com o dinheiro público a volta
Que se dá com o corpo sobre si mesmo para ocultar a
Queda nas garras da justiça do ministério público dos
Juízes honestos o chefe terá que responder um dia
Historicamente por este cadáver chamado Brasil estendido
Nesta mesa desta câmara-ardente

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