E os dentes da minha boca já apodreceram todos
E os olhos do olhar da minha face já não enxergam bem
E os ouvidos olvidos das minhas orelhas já não escutam nada
E estou todo doído moído carne velha de terceira
E o reumatismo pneumático já tomou conta de mim
E já não sirvo mais para amar o amor da minha mulher
E minha robustez por não ser aceita já foi embora
E meu vigor já se evaporou na noite que não durmo mais
Com pesadelos da morte não me pegar desprevenido
E de dia lamento mais que nas lamentações de Jeremias as dores que me devoram
E minhas vistas já não choram pois as minhas lágrimas secaram
As pernas estão bambas e não consigo mais andar
Cada movimento é um gemido e cada gemido é um aí
E aí meus filhos me chamam de velho sem sobrenome
E me evitam o quanto podem e não podem
E nem dizem mais pai ou outra coisa qualquer
E para o que sirvo agora não sei
E o que espero agora também não sei
E minha vida desperdicei em vão
E meu corpo despedaçei os farrapos
E joguei fora o que tinha de resto
E quero morrer e não consigo
E nem a morte me quer por perto
Nada me quer para alguma coisa qualquer
Nem o sono e nem o sonho e nem o descanso
E tudo me maltrata até o ar que respiro e
Sufoca os meus flácidos flatulentos pulmões
E uma mosca me causa medo
E uma borboleta me pesa na mão
E no meu peito resiste pobre e fraco o meu coração.
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