E ainda estou a dever ao universo
Um verso alexandrino ou um
Clássico camoniano numa estrofe
Do Luzíadas e ainda não surfei nas
Ondas dos mares nunca dantes
Navegados e nas batalhas das
Armas dos barões assinalados e
Nunca fui ao inferno de Dante em
Companhia de Virgílio em busca da
Beatriz e continuo este Sancho
Pança a ser manteado por todo
Mundo e este Dom Quixote a
Namorar Dulcinéias Del Toboso e a
Combater moinhos de ventos como
Fossem invencíveis gigantes e ainda
Estou a dever à história e pressinto
Que morrerei no débito e sem poder
Pagar com uma obra-prima ou com
Uma obra de arte ou das belas artes
A minha dívida por minha existência
Neste universo infinito e que quer
Fazer-me infinito e não compreendo
O meu papel e nem compreendo o
Papel do universo e vem o tempo e
Vem o vento e levam estas letras e
Desfazem estas palavras e mudo
Amuo-me diante das forças que me
Impedem de voar e grávido da
Gravidade que não me deixa a
Atmosfera a puxar-me para cima e
Não posso ir lá no cimo daquele
Firmamento quitar pessoalmente a
Minha conta atrasada e ser envolvido
Eternamente pelo azul mais azul já existente.
BH, 01º0902019; Publicado: BH, 080402022.
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