Em silêncio a tarde vai à procura do anoitecer
E à mesa da cozinha sozinho sondo a tarde a
Perscrutar alguma reminiscência ou reverberação
Que justifiquem a minha vida e oiço ruídos
Roídos pela tarde como uma traça num livro
Velho e oiço o tic tic dos pássaros e o tic-tac do
Relógio e marulhos dos pombos que chegam ao
Pombal e algum cachorro late ao longe como se
Tivesse sido atropelado por algum automóvel e
Nenhum galo canta mais nas redondezas das
Adjacências e olho as janelas de ouros e o morrer
Lentamente do dia tão saliente e que agora
Agoniza como se fosse uma gente doente e o
Vento levanta a toalha da mesa e sacode algumas
Roupas que ainda estão nos varais e umas aves
Velozes e perdidas buscam seus refúgios e lembro
Das naus perdidas em altos-mares d'além terras
E de detrás dos montes e penso em Camões e
Seus mares nunca dantes navegados e em
Caminha que navegou nos meus mares em
Calmarias e muitas das naves e caravelas que
Não voltaram aos cais dos portos? e as
Embarcações que foram a pique e adormecem
Nas profundezas dos oceanos? e nas cercanias
Já jazem as penumbras vespertinas e as sombras
Descem e assombram o meu pequenino coração
Menino que nunca cresceu e fantasmas ocultos
Saem das minhas geleiras e súbitas mãos abrem
Chuvas oblíquas sobre a minha cabeça de nenem
Com a moleira ainda amolecida e aberta a latejar
De ansiedade e angústia e é a minh'alma a pedir
Aos céus alguma astúcia.
BH, 030902019; Publicado: BH, 0110402022.
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