Antigamente era mais fácil a vida
E era mais livre e leve e pegava-se uma
Pena e saia a voar como se tivesse asas e
Pegava-se uma canoa e navegava-se como
Se estivesse num transatlântico em alto mar
E antigamente a morte não era tão constante
E lá que de vez em quando morria-se um ou outro
E antigamente andava-se de pés descalços
E camisa aberta e calções rústicos e não havia stress
E a raiva era pouca ou quase nada ou nenhuma
E o ódio também era pouco tal qual a ira e a cólera
E a maldade andava sumida com a ruindade escondida
E antigamente eram só católicos e crentes
E não haviam fundamentalismos nem tantas corridas
De pastores atrás de cifras e dos cifrões malditos
E das moedas podres com as quais Jesus Cristo
Foi comprado e pelo Judas traído e hoje sem os reverendos
Os pastores eletrônicos almejam o que antigamente
Era pura ojeriza a associação entre bancos e igrejas
E não aceitava-se assim tão facilmente tamanha heresia
Que não envergonha a mais ninguém como antigamente
E bebia-se água de rio e de riacho e de regato e de córrego
E aguardente forte da boa e não álcool desdobrado
E comia-se biscoito de goma assado na brasa pelas pretas
E farinhas de milho e de mandioca e de fubá
E agora velho e alquebrado e maltrapilho
E largado no meu canto com os meus vis desencantos
E esquecido pelos vivos e pelos mortos acabo de morrer
Ao divagar nas coisas de antigamente das quais
Não sinto nem os gostos mais só os desgostos
No amargor da minha boca fétida e mal lavada de velho molambo.
BH, 090402020; Publicado BH, 0260502022.
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